Riscos elétricos e acidentes no ambiente doméstico

Nem sempre é fácil conversarmos sobre riscos elétricos ou acidentes dentro de casa por ser uma matéria extensa, com várias vertentes de proteção e ações protetivas e ao mesmo tempo displicência no assunto.

Vamos falar de forma correta e adequada envolvendo os principais aspectos relativos ao assunto.

Vamos começar a definir os conceitos: risco, choque elétrico e acidente, bem como, o que é um ambiente de trabalho.

Risco – Possibilidade de perigo que ameaça as pessoas sobre a perda ou dano, algo de valor que pode ser material ou a vida. Possibilidade de prejuízo e/ou insucesso em determinado empreendimento, projeto, equipamentos etc., em razão de acontecimentos incertos, que independe da vontade dos envolvidos;

Choque elétrico – A impressão causada por uma descarga elétrica em contato com o corpo humano;

Acidente – O que é causal, furtuito, imprevisto. Acontecimento infausto que envolve dano, estrago, sofrimento, morte, desastre ou desgraça;

Trabalho domésticos – Exercício de atividade humana, manual ou intelectual, produtiva. O trabalho pode ser remunerado, no caso profissional, ou doméstico, no lar.

Bem, agora com os termos definidos podemos entrar no assunto. Primeiramente, quando falamos sobre riscos elétricos, o que vem imediatamente à mente é um choque elétrico, lógico, todos conhecem observando ou até já teve um choque elétrico na sua vida.

Choques elétricos são acidentes que todos que trabalham ou usam a eletricidade podem ter, mas também devem ser facilmente evitados com medidas simples de segurança, postura e atitudes, isso requer certo conhecimento técnico.

Medidas de segurança ajudam na redução do risco de um choque elétrico, seja no trabalho, em casa ou, por incrível que pareça, até na rua.

Para entendermos o processo do acontecimento do choque elétrico, temos de saber que o corpo humano é também um condutor de eletricidade.

Nosso corpo é constituído de mais de 60% de água (sais minerais, ácidos, aminoácidos etc.), logo, um condutor. Ao contato com a eletricidade, uma corrente elétrica vai surgir e teremos vários tipos de consequência, como atividade muscular involuntária, queimaduras, parada cardiorrespiratória, podendo ir até a óbito.

Choque elétrico

Vamos definir tipos de choques elétricos:

– Choque de contato direto

É quando ocorre o contato diretamente com um elemento energizado, podendo ser um fio desencapado ou um cabo elétrico ou ainda parte de um equipamento danificado, como, por exemplo, um interruptor ou uma tomada.

Fio solto

Exemplos:
Um fio solto, fora da instalação, tomada quebrada e aberta, expondo seus terminais.

– Choque de contato indireto

É quando o contato é realizado com a parte do equipamento, que chamamos de “massa” ou carcaça, que pode estar energizada por uma falha interna de isolamento ou rompimento de fios energizados.

Carcaça de um motor elétrico

Exemplos:
Carcaça de um motor elétrico, eletrodoméstico montado com um corpo metálico, no caso um forno elétrico, forno micro-ondas, ferro elétrico etc.

Todo choque elétrico tem como efeito, baseado na intensidade da corrente elétrica, o que aconteceu e o que provocou, e depende de alguns fatores, vejamos:

A intensidade da corrente elétrica

Quanto maior for a corrente elétrica circulando no corpo humano, o seu efeito também será proporcionalmente danoso, e com consequências maiores sobre o acidentado.

Limites

10 miliampères na corrente alternada e 50 miliampères na corrente contínua são intensidades de corrente consideradas como não perigosas.

O limite de corrente elétrica perigoso inicia com 25 miliampères / 0,025 A na corrente alternada, e na corrente contínua esse limite é entre 50 a 100 miliampères para o ser humano.

O efeito do choque elétrico é maior quando acontece na corrente alternada, a de 60 Hz e em melhor consequência na corrente sanguínea.

No acidente, a duração do choque elétrico é muito importante, pois, pode provocar queimaduras e lesões.

Tabela de intensidade da corrente elétrica no Corpo Humano

Corrente (mA)

Efeito

20 a 50

A corrente não é mortal se o tempo de contato for inferior a um segundo; se a duração for maior, começam as câimbras nos músculos da respiração (abdômen) e finalmente poderá provocar a morte por asfixia (parada cardiorrespiratória).

50 a 500

O perigo de eletrocussão é em razão direta com o tempo, entre 0,2 e 5 segundos. Por ex.: 100 mA durante 3 segundos produzem parada respiratória e/ou fibrilação do coração com consequente parada cardíaca.

+ de 500

Possibilidade de fibrilação diminui, mas aumenta o perigo de morte por paralisia dos centros nervosos e fenômenos secundários.

 

Comportamento da corrente elétrica no corpo humano

Por exemplo: Carcaça de uma geladeira elétrica, eletrodoméstico montado com um corpo metálico, no caso um forno elétrico, forno micro-ondas, ferro elétrico etc.

Corrente elétrica

Como demonstrado na figura acima, a corrente elétrica tem vários caminhos no corpo humano e tudo depende de como acontece o contato com o equipamento elétrico.

Agora que já conhecemos toda a patologia de um acidente elétrico, e entendemos o que é um choque elétrico, suas causas e seus efeitos terríveis, que tanto pode acontecer em um ambiente de trabalho, como numa indústria, num comercio, num escritório, e o mesmo também ocorre no lar, na rua, ou seja, onde há energia elétrica.

Vamos abordar a seguir como evitar um acidente elétrico.

Medidas de controle do risco elétrico

A – Ao realizar um trabalho elétrico, inicia-se desenergizando a instalação elétrica, pelo tempo que for necessário. Esse é um procedimento previsto em normas, como NBR 5410 e NR 10;

B – O desligamento deve ser feito pelo seccionamento da energia elétrica através do disjuntor, fusível ou chave seccionadora;

C – Há necessidade da existência de um aterramento, bem-feito, conforme as normas da ABNT. O aterramento permite com que a corrente de fuga, comum em acidentes elétricos, flua diretamente para a terra e assim podemos evitar qualquer tipo de choque indireto. Escolha qual o melhor de aterramento a ser adotado. Na NBR 5410, temos 5 esquemas que devem ser aplicados na melhor conveniência técnica (TN-S; TN-C-S; TN-C; TT e IT).

Principais funções de proteção de um aterramento:

– Pessoas em contato com equipamentos;

– Instalações elétricas;

– Equipamentos ligados a instalações elétricas.

O aterramento, pela NBR 5410, é considerado como o primeiro procedimento de proteção básica.

D – No circuito de proteção e quadro elétrico distribuidor, deve-se instalar sempre os DR, Dispositivo Diferencial-Residual de alta sensibilidade. Este equipamento é um interruptor automático que desliga imediatamente quando é detectada corrente de fuga de até 30 mA, protegendo pessoas contra os choques direto e indireto, com a interrupção mecânica imediata no circuito elétrico na instalação. O DR, por ser um dispositivo auxiliar na proteção (NBR 5410), sempre deve estar precedido da instalação por um disjuntor ou fusível, atuando contra sobrecargas e curto-circuito;

E – Complementando a série de proteção por dispositivos, temos os DPS, que são os equipamentos contra surtos e perturbações elétricas. Os DPS (Dispositivo de Proteção contra Surtos) evitam que uma grande perturbação ou surto, que normalmente é da ordem de vários quilos amperes (KA), venha a ocasionar um rompimento na isolação dos equipamentos elétricos nas instalações elétricas e até aos dispositivos de proteção;

F – Outra forma de evitar acidentes é instalar barreiras de proteção onde um serviço de eletricidade está sendo executado ou onde aconteceu algum problema/acidente na instalação elétrica, e assim impedindo o contato das pessoas para evitar novos riscos;

G – Manter sempre as melhores condições dos equipamentos, eletrodomésticos etc., através de manutenções e de uma boa conservação e uso;

H – Nunca permitir ou deixar fios e cabos desencapados. Se a isolação deixou de existir, faça um recobrimento utilizando a melhor solução, fita isolante ou alta fusão, dependendo de cada caso a ser analisado;

I – Somente trabalhadores autorizados, capacitados, podem entrar em áreas isoladas com barreiras. Nunca entre em um lugar isolado sob hipótese nenhuma;

J – Uso de equipamentos de proteção, individual e coletiva, determinados nas NR 6 e NR 10 e demais Normas Reguladoras;

H – Réguas de tomadas e cabos de extensão são projetados e fabricados para uso de curto prazo. Se a sua necessidade for de longo prazo, aqueles que passam a serem definitivos, deve-se instalar novas tomadas fixas, adicionais a instalação e com proteção direta no uso de disjuntor. A grande maioria dos acidentes domésticos e também nos escritórios é devido ao famoso uso provisório ou definitivo dessas réguas.

Na rua

Procure ficar afastado das instalações públicas, principalmente quando os postes de energia, de sinalização ou de iluminação forem metálicos.

Todos sabemos que essas instalações são precárias, sem o bom senso e a boas práticas profissional. É comum vermos dentro dos postes metálicos emendas nos fios, o que é terminantemente proibido por norma. Um grande exemplo foi a morte de um rapaz no carnaval, em 2019, que ao encostar num poste metálico de sinalização foi eletrocutado.

Conclusão

Não mexa na instalação elétrica se você não tem o conhecimento do assunto. Procure um profissional habilitado e capacitado para resolver o problema.

Caso aconteça um acidente, o melhor a fazer é desligar o disjuntor ou chave seccionadora no quadro de energia, chamar o socorro, Samu ou Bombeiros, pedir orientação para os primeiros socorros.

Nunca faça nada que você não saiba, não tenha absoluta certeza ou não tenha a segurança de como agir.

Ao profissional da eletricidade temos toda proteção possível na utilização das normas técnicas da ABNT, sendo a principal a NBR 5410 (Instalações em Baixa Tensão), que deve ser do conhecimento de todos.

Uma nova norma foi editada, a NBR 16384 (relativa à Segurança nas Instalações Elétricas), que está neste momento em revisão (em abril de 2021) e irá colaborar ainda mais na prevenção dos acidentes. Temos ainda a NR 10, que é uma Norma Regulamentadora com total objetivo de garantir a segurança e integridade física do trabalhador em eletricidade.

A norma se preocupa com todas as condições mínimas e necessárias de segurança, que vai desde a vestimenta do trabalhador, equipamentos de proteção individual, os EPIs, procedimentos de operação, equipamentos e ferramentas a serem utilizados, suas condições e principalmente o chamamento das empresas na segurança de seus funcionários.

Respeito com a eletricidade é fundamental!


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