Projeto para mudança na instalação elétrica para áreas comuns

“é só mais uns circuitos, não pega nada!”

Prédios iluminados

Na edição passada, fiz um apanhado de dicas sobre a importância do projeto elétrico realizado por um profissional qualificado e habilitado, com atualização profissional para garantir a revisão da instalação elétrica em geral. Nesta edição quero focar um pouco mais na adequação da instalação elétrica de pontos da área comum dos condomínios. Acho que todos nós sabemos da importância de ter uma instalação elétrica segura e confiável e no artigo passado ofereci algumas dicas sobre o tema. O detalhe é que a instalação elétrica tem vida útil tanto quanto qualquer coisa e precisa ser reformada ou revisada. Também há necessidades de adequações de alguns locais, por exemplo, quando são transformados em outro tipo de utilização mudando a característica inicial, ou mesmo para a instalação de novas tecnologias, como sistemas de monitoramento, mudança de uso de uma sala, melhoria da área de festas, iluminação do jardim e de outras áreas, como quadra, piscina e por aí vai. Pois bem, todos estes assuntos devem ser tratados com o máximo de cuidado e por profissional qualificado, havendo sempre um projeto realizado por um Engenheiro Eletricista ou Técnico em Eletrotécnica dentro das suas limitações. O subtítulo que usei neste artigo “é só mais um circuito, não pega nada!” é exatamente onde mora o perigo. Pensando em cada uma das situações que podem ser motivos de preocupação, decidi listar algumas e suas necessidades na hora da adequação. Esta lista também servirá para você avaliar a situação da instalação dos ambientes e avaliar se atendem ou não aos requisitos de segurança.

• Iluminação e irrigação automática de jardim – O jardim fica em áreas abertas e normalmente sujeitas a intempéries como chuva e sol. Com isto, algumas definições devem ser realizadas já no projeto, que deve prever condutores adequados para uso externo, ou proteções para estes condutores que suportem estas condições, como eletrodu­tos resistentes a UV e proteção contra umidade. A outra preocupação é com as conexões, que não devem ser feitas usando fitas isolantes normais, pois estas não são preparadas para suportar o sol e não pro­tegem contra umidade. Neste caso irão se deteriorar e deixar a energia exposta a qualquer pessoa, inclusive uma criança, que por qualquer motivo adentre no jardim. Outra preocupação é com a proteção da instalação quanto a choques elétricos. Há que se projetar para esta instalação o IDR (Interruptor Diferencial Residual), que fará a proteção de corrente de fuga, que pode ser causado por um choque elétrico. Já citamos isto, mas vale a repetição. O IDR ou simplesmente DR salva vidas contra choques elétricos.

• Iluminação de quadras – Da mesma forma que os jardins, a iluminação e instalação de dispositivos nas quadras, devem considerar a exposição ao sol e chuva e construir a instalação de forma a usar produtos adequados como fios, conexões, interruptores e possuir o IDR. No caso de quadras, vale lembrar que a maioria apresenta alambrados ou postes metálicos, que podem ser energizados por acidente e colocar em risco os usuários.

Prédios iluminados

• Iluminação de piscinas – As piscinas também apresentam os mesmos problemas das quadras, pois possuem alambrados e postes metálicos em seu entorno, mas a piscina tem a água como agravante, pois já ouvimos muitas vezes que água e eletricidade não combinam. Não é comum ter tomadas próximo a piscina, mas é comum as pessoas usarem extensões para ligar equipamentos de som, ou mesmo para carregar o celular, então a instalação nessa área deve ser protegida por IDR. Quando a piscina tiver iluminação interna, esta iluminação só pode ser feita usando circuitos alimentados por 12V e com sistemas projetados para tal de acordo com as normas técnicas, sobretudo a ABNT NBR 5410 na versão atual 2004.

Prédios iluminados

• Sala de jogos e salão de festas – Neste ambiente é comum crianças e adolescentes passarem muito tempo e, atualmente, o celular ou tablet é quase uma extensão das mãos deles. Mas as baterias acabam, demandando recarga, então os carregadores vêm junto podendo ser colocado na tomada. Acidentes com carregadores de celular tem sido mais constantes e vitimado muita gente com o passar dos anos, como mostram os dados da Abracopel. Por isso, os circuitos que atendem estes pontos devem ser devidamente dimensionados e protegidos pelo IDR, já citado, e pelo disjuntor correto, pois no salão de festas podem ligar equipamentos de alta potência e ampliar o consumo de energia, ultrapassando a capacidade dos fios, podendo iniciar um incêndio. Estas áreas requerem atenção especial com projeto de adequação, levando em conta todos os equipamentos que poderão ser instalados. Outra dica importante: nestes ambientes não se deve usar extensões, pois se tornam fonte de risco de acidente elétrico.

• Proteção dos dispositivos eletroeletrônicos – Elevador, portão automático, sistema de monitoramento costumam ser vítimas de queima, principalmente em épocas de tempestades com descargas atmosféricas (raios). Pois bem, este fenômeno é conhecido como surto de tensão e realmente queima os equipamentos. Mas você deve estar pensando, “o para-raios está OK, tem um laudo dele do mês passado”. Cuidado, como diria o humorista, uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa. O para-raios, serve para conduzir o raio para a terra sem causar danos estruturais e a pessoas que estejam dentro da edificação. Os surtos de tensão devem ser protegidos pelas medidas de proteção contra surtos, ou MPS, que usa como base o DPS (Dispositivo de proteção contra surtos de tensão). Este estudo, deve ser elaborado com base na norma ABNT NBR 5419 parte 4, que vai definir qual a melhor forma e os melhores dispositivos para garantir que um surto de tensão causado pela descarga atmosférica não queime os equipamentos eletroeletrônicos;

Carro elétrico sendo abastecido

• Veículo elétrico – Esta tecnologia está crescendo a cada dia, e o condomínio deve estar começando a considerar instalar carregadores. É importante se preparar, mas tome cuidado! Os carregadores veiculares são “cargas”, ou seja, consomem energia, e, portanto, precisam ter esta energia prevista e a instalação calculada para tal. Isto para não ter os dispositivos de proteção por sobrecarga atuando ou mesmo os condutores pegando fogo e iniciando um incêndio. Toda instalação de carregador de veículo elétrico deve ser pré-dimensionada e avaliada, verificando se o sistema irá suportar. Os carregadores possuem potência que podem chegar a 7 mil Watts, ou seja, é como se tivesse vários chuveiros ligados ao mesmo tempo a mais na instalação do seu condomínio.

A motivação de escrever sobre estes temas, vem da minha atuação junto à Abracopel – Associação Brasileira de Conscientização para os Perigos da Eletricidade, que levanta dados de acidentes de origem elétrica e convive com acidentes diariamente, muitos deles ocorridos nas situações que listei acima. Cuidem da sua instalação elétrica.


Matéria publicada na edição – 276 – mar/2022 da Revista Direcional Condomínios

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Autor

  • Edson Martinho

    Engenheiro Eletricista, é diretor-executivo da Abracopel (Associação Brasileira de Conscientização para os Perigos da Eletricidade). Escreveu e publicou o livro "Distúrbios da Energia Elétrica" (Editora Érica, 2009).