A imagem de um rato acionando o alarme de incêndio de um prédio em Washington, nos Estados Unidos, agitou as redes sociais em setembro passado. O edifício foi evacuado e os bombeiros chamados antes que se descobrisse a origem do incidente. Afora os riscos de doenças, está aí um exemplo inusitado dos transtornos causados pelas pragas e vetores nas edificações. Surpresas com entupimentos também tiram o sossego dos gestores e podem ser evitadas com prevenção.
Gerente operacional Luciano Neves: Protocolo do condomínio o faz exigir licença de empresa antes de qualquer serviço
Um prédio de alto padrão localizado em área nobre da zona Sul de São Paulo, com apenas 23 unidades de 700 m2 em média, enfrentou graves problemas com roedores e pernilongos há cerca de três anos e ainda hoje mantém um controle acirrado para evitar novas infestações. Na época, segundo o gerente operacional Luciano Neves, ratos desciam os muros da divisa com a vizinhança, próximo das áreas de piscina e recreação, em pleno meio do dia. A invasão ocorreu em função de uma obra no entorno, que ficou parada durante três anos depois da fase de escavação dos subsolos.
De acordo com Luciano, o pico da infestação exigiu um manejo intensivo contra as pragas e vetores (animais que podem transmitir doenças aos homens), com aplicação de produtos a cada dois dias. Atualmente, a situação está sob controle e recebe um trabalho preventivo quinzenal.
Já para o combate aos pernilongos comuns e ao mosquito Aedes aegypti (transmissor das doenças Zika, Dengue e febre Chikungunya), o condomínio contratou nebulizações quinzenais e, mais recentemente, passou a aplicar concomitantemente um defensivo natural contra o Aedes, produto que chegou há pouco ao mercado na forma de pequenas pastilhas. Quando colocadas na água parada, elas provocam a morte das larvas das fêmeas do mosquito. O defensivo está licenciado pela Fiocruz e seu desenvolvimento contou com apoio de pesquisadores da Universidade de São Paulo e de órgãos de fomento como a Fapesp e o Finep. As pastilhinhas são depositadas em 32 pontos que costumam reter água, como raízes de árvores, o espaço pet, o deck da piscina e em uma praça pública conservada pelo condomínio. Já a nebulização atua contra mosquitos que vêm de fora (especialmente o pernilongo comum), formando “uma barreira à infestação no condomínio”, justifica Luciano.
O gerente observa que o condomínio “não permite margem de erro” nessas ações. Assim, ele realizou um contrato bem amarrado com um prestador de serviços do segmento. Por exemplo, no caso das nebulizações, se chover logo após o serviço, a empresa terá que voltar na sequência para refazer o trabalho.
As linhas gerais do contrato preveem:
– Serviço personalizado contra para cada tipo de infestação;
– Combate a roedores, diferentes tipos de mosquitos e baratas, além da limpeza dos poços de água pluvial, de esgoto, das caixas de passagem e das caixas d’água. O gerente ressalta que exige das equipes o uso de EPI (Equipamentos de Proteção Individual) e o treinamento em normas regulamentadoras do Ministério do Trabalho, como a NR 35 (trabalho em altura). “Solicito ainda a apresentação de toda documentação da empresa (como a licença obrigatória) antes de cada serviço, é um protocolo do condomínio”, destaca.
CONTRATO ÚNICO E PREVENTIVO
A síndica Cleusa Camillo, do Condomínio Edifício Alvorada, localizado na Liberdade, Centro de São Paulo, mantém desde que se tornou gestora, há mais de dez anos, contrato único para serviços de controle de pragas, limpeza das caixas d’água e desentupimento. O prédio, de dois blocos, possui 106 unidades.
Ela afirma que em relação ao sistema de abastecimento d’água potável, os reservatórios passam por limpeza semestral, conforme determinação legal, e é feita análise anual de qualidade. Quanto à água da chuva, realiza-se uma limpeza periódica dos poços que a recebem. Nas colunas de esgoto, a empresa executa trabalho preventivo de desobstrução “desde o último andar até a saída para rua”. “É uma das partes mais importantes desse serviço”, destaca. E se houver entupimento, já está previsto em contrato, sem adicionais, o pronto atendimento pelo prestador. O controle de pragas, por sua vez, envolve desratização e dedetização a cada seis meses.
Os valores contratados para todo esse escopo são fixos, mensais e válidos por doze meses. “Para o síndico ficar tranquilo, é a melhor solução, pois por um valor fixo mensal ele dispõe de um pacote de serviços e não é surpreendido por custos extras típicos de contratações emergenciais. Pois, vira e mexe, o morador provoca entupimentos no ramal de esgoto, seja com cabelo quanto pelo descarte de produtos inadequados na descarga”, finaliza Cleusa Camillo.
CONTRATE CERTO: MANEJO INTEGRADO E PREVENÇÃO
Sérgio Bocalini: Biólogo recomenda serviços mensais de controle
As empresas que atuam com controle de pragas devem dispor de licença de funcionamento expedida pela Vigilância Sanitária, ser vinculadas a um Conselho Regional de classe e representadas por um responsável técnico (Biólogo, Engenheiro Agrônomo ou Florestal, Médico Veterinário, Químico, Engenheiro Químico, Farmacêutico ou demais profissionais habilitados pelo conselho). Observar essa condição é requisito essencial para que os síndicos contratem o serviço, afirma Sérgio dos Santos Bocalini, biólogo especialista em Entomologia Urbana e vice-presidente executivo da Aprag (Associação dos Controladores de Vetores e Pragas Urbanas). “Existem empresas sem registro algum em conselhos regionais”, aponta.
Prestadores do segmento de asseio e conservação deverão apresentar o registro, além da licença sanitária e da previsão, em contrato social, da atividade de controle de pragas, orienta Bocalini. Por fim, antes de celebrar um contrato, é recomendado ao síndico cobrar a atualização e capacitação dos responsáveis técnicos e dos operadores, além de verificar se a empresa dispõe de sede própria com as adequações exigidas por lei. “Esta sede precisa passar por vistoria e ter licença de funcionamento expedida pela Vigilância Sanitária do município”, afirma. Segundo Bocalini, é mais eficiente ao condomínio fazer contratos com previsão de controle mensal em vez de semestral ou anual.
Já a bióloga Maria Fernanda Zarzuela, que trabalha em uma fabricante de produtos químicos, ensina que a formulação e aplicação devem mudar em função da praga ou vetor e do local da infestação. Por exemplo, contra baratas, é indicado o uso de solução líquida em áreas internas e externas, em perímetros, formando uma barreira química contra esses insetos. Já para caixas de inspeção, conduítes e bueiros deverá ser usado produto em pó. De acordo com a bióloga, o serviço demanda monitoramento e, dependendo do perfil da praga ou vetor, precisa ser reforçado quinzenalmente.
Entre os erros que observa nos serviços de controle de pragas contratados pelos domicílios, Maria Fernanda destaca cálculos subestimados da infestação; negligência com a situação do entorno e as causas da ocorrência – ambos geram uma aplicação insuficiente e/ou exagerada; e uso equivocado do produto ou da formulação. Ela faz outro alerta: “O produto químico representa somente uma parcela do manejo integrado de pragas, não é mais nem menos importante que a inspeção, o monitoramento e as medidas preventivas”. “O síndico tem o poder e dever de escolher uma empresa idônea, bem como de exigir as documentações obrigatórias”, arremata.