Casos bizarros envolvendo síndicos & condôminos: paciência à prova

O Dicionário Aurélio traz significados bem diferentes para o adjetivo ‘bizarro’: de ‘gentil’ e ‘generoso’ a ‘incomum’, ‘esquisito’ e ‘extravagante’. Mas é no sentido da esquisitice que a palavra pegou no senso comum e ajuda a definir bem a rotina de trombadas que marca a relação entre os síndicos e alguns condôminos. Sem chance para o descanso, síndicos e síndicas costumam ter sua paciência testada até o limite por pessoas que gostam de “ser do contra”.

O Dicionário Aurélio traz significados bem diferentes para o adjetivo ‘bizarro’: de ‘gentil’ e ‘generoso’ a ‘incomum’, ‘esquisito’ e ‘extravagante’. Mas é no sentido da esquisitice que a palavra pegou no senso comum e ajuda a definir bem a rotina de trombadas que marca a relação entre os síndicos e alguns condôminos. Sem chance para o descanso, síndicos e síndicas costumam ter sua paciência testada até o limite por pessoas que gostam de “ser do contra”.

No domingo de Carnaval de 2012, o síndico Valdir Roque dos Santos teve que respirar fundo, segurar a adrenalina e usar toda sua paciência para contornar uma eventual ida a um plantão policial da cidade. Não era o caso de prestar queixa contra uma pessoa, mas sim de evitar ser enquadrado por crime ambiental. Naquele dia, Roque acompanhava a remoção de um eucalipto da área comum do Condomínio Arte e Vida Marajoara, que havia sido autorizada pela Prefeitura, porque a árvore estava comprometida e oferecia riscos aos condôminos e aos pedestres da área externa. Um galho já havia caído sobre um carro estacionado do lado de fora e, com muita sorte, não deixara vítimas. Mas um morador, talvez inconformado com a movimentação dos serviços, chamou a Polícia Militar.

Sorte que Roque é um síndico precavido: estava com toda documentação em mãos, o que foi suficiente para mostrar aos policiais que não estava cometendo crime algum. Pelo contrário, conforme determinação da prefeitura, ele teria que providenciar a reposição da árvore por outra nativa, o que foi feito, optando-se por uma quaresmeira. Claro que a situação o chateou bastante, porque além de estar trabalhando em um dia em que a maioria dos paulistanos descansa, Roque teve que lidar com a maledicência, com a suspeição em torno de sua pessoa. Na época, fazia seis meses que o representante comercial havia sido eleito síndico do condomínio de duas torres e 206 apartamentos, localizado em Cidade Ademar, zona Sul de São Paulo. Completava-se ali, segundo Roque, um período inicial bastante atribulado de gestão, marcado por muitos dissabores e boicotes.

Quando assumiu o cargo, Valdir Roque encontrara um condomínio em desordem, não por omissão ou erros do síndico anterior, Luiz Henrique dos Santos, que permanece ainda como subsíndico de uma das torres, mas porque se plantara ali uma cultura de favorecimento a alguns fornecedores, incluindo a terceirização da limpeza e portaria. A inadimplência também era elevada, assim como o rombo orçamentário provocado por anos de falhas na manutenção. “O condomínio parecia um campo de guerra. O síndico anterior ao Luiz renunciou depois de três meses”, lembra Roque.

Morador desde a entrega do residencial, há sete anos, Roque era conselheiro, resistia à ideia de ser síndico, entretanto, após aceitar a missão, resolveu renegociar ou cancelar os contratos com todos os prestadores, quebrando “um jogo de cartas marcadas”. Os boicotes não demoraram e a situação potencialmente conflitiva fez com que Roque ficasse mais de 20 horas na portaria do condomínio em um único final de semana, para acompanhar a troca da empresa de terceirização. Segundo ele, alguns moradores chegaram a forçar situações para colocar o sistema em prova. Já entre alguns inadimplentes, Roque ganhou a pecha de “cobrador”.

“O convívio hoje é pacífico, porque os moradores perceberam que estou fazendo um trabalho profissional. No começo tive que tomar medidas duras, mas sempre buscando o diálogo, a informação e agir de acordo com a lei”, diz. Segundo ele, sua administração atua em cima do “tripé Convenção do condomínio, Regimento Interno e Código Civil, o que pôs fim às decisões baseadas nas relações de amizade”. Foi preciso um tempo para que os condôminos se acostumassem com a mudança de estilo, e ainda hoje alguns telefonam no meio da madrugada do domingo para segundafeira, para fazer alguma queixa, “achando que o síndico está à disposição 24 horas”. Mas como faz plantão uma vez por mês para atender aos moradores, disponibiliza seu email e celular, Roque tem conseguido mudar um pouco a cultura do condomínio. “Todos nossos procedimentos têm sido comunicados para que as pessoas se reeduquem para viver em coletividade. Achei que isso levaria dois meses, levou sete!”

O seu colega e subsíndico Luiz Henrique, que também é psicólogo, avalia que os síndicos devem aprender a não levar essas intercorrências para o lado pessoal, “pois há pessoas que são insatisfeitas com tudo, cuja dinâmica é viver em função da problematização. Mesmo que você apresente uma solução, elas vão problematizar. E são sempre os ‘mesmos três’ condôminos”, aponta Luiz. Para Roque, a alternativa é ser “legalista e agir sempre embasado”, evitando, de outra maneira, envolver-se em problemas entre vizinhos.

DE VÍTIMA A QUASE RÉ

Existem síndicos que acabam inevitavelmente no distrito policial. O pior é quando o outro lado nem é residente no condomínio, mas na vizinhança. Esta é a situação da síndica Cybele Belschansky, do Condomínio Edifício Residencial Jupiá, localizado no bairro de Santa Teresinha, zona Norte de São Paulo. Cybele teve que apelar a um Boletim de Ocorrência para tentar acabar com o barulho excessivo produzido pelas festas da moradora de uma casa vizinha ao prédio. A situação ocorria havia anos, relembra Cybele, com transtornos que varavam a noite, sem que ninguém tivesse coragem de questionar a vizinha. Cybele encarou o perrengue e enfrentou até uma contra acusação da denunciada de que estava cometendo preconceito racial (o delegado não embarcou na artimanha). Até o momento, não houve desfecho para o caso, mas, de qualquer maneira, a ação já contribuiu para uma mudança positiva no comportamento da moradora, observa Cybele.

DO BOTIJÃO À AMEAÇA DE MORTE

A síndica Maria Ilani Marques Viana, do Bloco 8 do Condomínio Residencial IV Centenário, situado na região de Interlagos, zona Sul de São Paulo, sofreu ameaças de morte por parte de um morador que não aceitava a individualização do gás e queria manter o botijão no apartamento. Maria Ilani, entretanto, nem chegou a fazer B.O., porque o condômino logo se mudou do local. Mas a síndica ainda enfrenta problemas com dois moradores que insistem em ter o botijão nos apartamentos, o que a obrigará a buscar o auxílio de um advogado em 2013 para resolver o problema.

SEIS PROCESSOS NAS COSTAS

Personagem já bastante conhecida da mídia e síndica do Condomínio Edifício Ana Carolina, localizado em Santana, zona Norte de São Paulo, Rejane de Albuquerque já protagonizou seis ações por danos morais com moradores. Perdeu duas, apesar de em uma delas, o juiz ter reconhecido que a acusadora cometera atitude antissocial. Na ação mais recente, Rejane foi acusada de preconceito por um casal homossexual, depois que a síndica os notificou da proibição, estabelecida em Regimento Interno, de posse de animais domésticos nas unidades privativas. No entanto, as situações mais dramáticas vividas pela síndica dizem respeito às mortes de dois ex-moradores; cada um deles vivia sozinho, morreu dentro do apartamento, e coube a Rejane acionar IML, familiares e providenciar a limpeza dos imóveis.

Matéria publicada na Edição 175 – dez/jan13 da Revista Direcional Condomínios.

Autor

  • Diego

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