As vantagens e desvantagens de morar ao pé da serra

A Profa Rosely Benevides de Oliveira Schwartz nasceu na zona Norte de São Paulo, Capital, região notabilizada pelo seu ar mais fresco e puro, por causa da proximidade com a Serra da Cantareira. Morou muito tempo no Jardim Tremembé e, ao se casar, mudou-se para um apartamento numa região mais adensada de Santana, num prédio em que foi síndica. Depois, foi para o Condomínio Edifício Santana Top Life, na mesma rua, um pouco adiante, chegando perto do Mandaqui. Neste condomínio, já exerceu o cargo de subsíndica e foi coordenadora da Comissão de Obras que está renovando os sistemas do edifício, como uma ousada reforma que substituiu todas as portas de abertura de eixo vertical de ambos os elevadores, em todos os pavimentos, por abertura automática.  

Nativa da zona Norte, Rosely descreve que seus moradores “ficam praticamente isolados do restante da cidade”, o que traz “vantagens e desvantagens”. Entre os aspectos negativos, encontram-se aqueles provocados pela intensa verticalização dos bairros nos últimos quinze anos, como a falta de segurança e o trânsito. “A região foi esquecida em termos de planejamento, veio a concentração de apartamentos sem que o sistema viário passasse por qualquer alteração. Não foi feito nenhum alargamento, ampliação, nada, os moradores  pegam trânsito dentro do bairro, até para sair da garagem.”

Outro problema bastante evidente, segundo Rosely Schwartz, é que “o poder público anda relapso com a fiscalização da manutenção das calçadas; e temos uma lei antiga sobre o assunto”. “Percebi isso claramente com um problema de mobilidade que tive neste ano.” [Rosely sofreu um acidente em seu condomínio no final do ano passado: leia mais em: Os síndicos estão preparados para evitar riscos de acidentes?]

O patrimônio da zona Norte

De outro modo, sem cogitar sair da região nem migrar para um bairro mais próximo do centro paulistano, Rosely destaca inúmeras vantagens do lugar, que a convencem a permanecer: “Temos a proximidade do Clube dos Oficiais da PM (Clube OPM), que frequentamos bastante. O bairro de Santana criou vida autônoma, adquiriu feição de metrópole, com shoppings etc.; e o lazer começa a chegar mais. Além disso, estamos perto da Serra da Cantareira, do verde, e também dos familiares. Temos uma temperatura mais próxima do clima temperado, antes era até menos poluído que hoje. Aqui o ar é mais fresco e tem mais ventilação e iluminação. Adoro esse lugar, tomo sol dentro de casa, adoro sentir o sol na pele.”

Em termos de lazer, a região possui inúmeras alternativas, como o Sesc Santana, o Parque da Juventude, a Biblioteca de São Paulo, o Palácio do Horto (construção da década de 1930); o Teatro da APCD (Associação Paulista dos Cirurgiões Dentistas); e o Teatro Alfredo Mesquita (municipal). Agora só falta “unir os vizinhos para trabalhar pela segurança da área”, arremata.

A alternativa, um pouco ainda distante da realidade, segundo avalia Rosely, seria promover encontros frequentes entre os síndicos: “Teríamos mais força. Por exemplo, o espaço do Conseg (Conselho de Segurança) é interessante para que todos participem, pois ali estão representantes de vários órgãos públicos, como o da subprefeitura. Um encontro mensal a cada dois meses seria interessante para que os síndicos se unissem e desenvolvessem um poder maior junto às autoridades. É o caso da poda de árvore. Em meu condomínio, a Prefeitura levou oito meses para liberar remoção de palmeiras para obras de impermeabilização. Um pau-ferro foi atingido por um raio, morreu, seus galhos começaram a cair, com riscos de acidentes aos pedestres, e, diante de uma situação dessas, a Prefeitura leva meses para liberar um corte ou poda. Temos que buscar agilidade às decisões.”

Para a síndica Valquiria Giroto de França, que vive há 25 anos na zona Norte, em frente ao Horto Florestal (hoje denominado Parque Estadual Alberto Löfgren), um horizonte verde infinito se descortina toda manhã em que abre as janelas de seu apartamento. Essa é o grande diferencial da zona Norte, observa Valquiria, que nasceu na zona Leste de São Paulo e está no bairro há 25 anos. “A vista verde do Horto é maravilhosa, pois se você reside em prédios, quanto mais alto o andar, mais horizonte você tem.”

O problema é a distância com áreas que oferecem mais emprego, diz a síndica, o que talvez a faça mudar-se novamente de lugar – “você demora muito para retornar”. De qualquer maneira, morar na zona Norte, segundo descreve, “é como estar em uma cidade do interior”. “As pessoas se conhecem, os bairros são, na maioria, residenciais, e a presença do verde faz muita diferença.” E, da mesma forma como a Profa Rosely, Valquiria sugere que os síndicos se unam para “cuidar mais do seu entorno, uma vez que não podemos contar com o serviço público na questão da limpeza, coleta de lixo, manutenção de calçadas e praças”.

Síndica busca proximidade com Metrô

A síndica Agnes da Silva André nasceu na zona Norte, morava pertinho do Horto, recebia visitas frequentes de macaquinhos em sua residência, mas precisava ganhar agilidade nos seus deslocamentos e no da família. A opção foi mudar-se para o Condomínio Edifício Minás, em uma área bem central de Santana, “perto de tudo”. “O clima e o ar das proximidades do Horto são maravilhosos, mas o tempo que meu filho passava no transporte para ir à escola era complicado”, explica.

No edifício de uma torre, 48 apartamentos de bom tamanho (entre 80 e 115 m2), Agnes André tomou gosto pela sindicância, cargo que assumiu em setembro de 2014. Desde então, está revitalizando inúmeros setores do condomínio, empreendimento com espaço generoso e construção sólida. O grande salão de festas, com piso peroba rosa, ganhará um canto para o cinema, além de já oferecer aulas regulares de dança para os condôminos. Sistema de captação de água da chuva foi instalado pela síndica em princípios do ano e já repercutiu na redução do consumo. Bicicletário e refeitórios foram reformados, o sistema de interfones está sendo modernizado e, o hall social, em obras.

A ideia é melhorar a qualidade de vida dos condôminos e valorizar os imóveis, os quais já contam com importante aliado de mercado, sua localização em meio a uma generosa oferta de comércio, serviços, médicos e transporte público (especialmente o Metrô). E por mais central que esteja o prédio em Santana, a síndica observa que alguns traços característicos da zona Norte se mantêm ali, no pedaço: “a simpatia das pessoas e a sensação de proximidade e de receptividade de umas em relação às outras”, diz.

Riscos da falta de planejamento

A ex-síndica Cybele Belschansky veio da zona Leste da cidade, assim como Valquiria Giroto. Mas Cybele acabou se estabelecendo em outro lado de Santana, na Vila Santa Terezinha, subdistrito de Santana. Ela mora no Condomínio Edifício Residencial Jupiá, onde foi síndica durante quatro anos, e já viveu em outros bairros (Tremembé, Belenzinho e Barra Funda) e cidades (Rio de Janeiro). É na Santa Terezinha, porém, que sentiu mais afinidade. “O bairro tinha uma cara acolhedora, com ruas bonitas, casas antigas e moradores enraizados. Mas hoje a vizinhança está mudando, estão construindo muitos prédios, sem que o viário e a rede de água comportem, por exemplo.”

Cybele diz que começa a sentir falta da antiga “sensação de acolhida” que o bairro proporcionava e já cogita a possibilidade de buscar outro lugar mais tranquilo de viver. “Não é possível que a Prefeitura feche os olhos à construção de grandes empreendimentos em ruas estreitas”, lamenta. A ex-síndica aponta ainda o problema de falta segurança, gerado pelas transformações. Porém, ela não desiste: continua participando regularmente das reuniões do Conseg da Casa Verde e sugere que os vizinhos voltem a se unir, a fazer contato, se envolvam, participem e procurem “mudar a situação”, exigindo inicialmente que pelo menos as subprefeituras cumpram com o seu papel de zelo pela cidade.

Matéria publicada na edição – 203 de jul/2015 da Revista Direcional Condomínios

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Autor

  • Diego

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