Síndicos colhem bons resultados com ações de sustentabilidade. Além de proteger o meio ambiente, a estratégia possibilita diminuir o consumo, reaproveitar recursos e combater desperdícios, e se torna uma grande aliada na reorganização do condomínio.
Com instalação de sistema de energia fotovoltaica, condomínio em SP teve queda de pelo menos 50% na conta do consumo, uma boa notícia na quarentena
Um novo tipo de investimento começa a ganhar fôlego no segmento de condomínios: A instalação do sistema de energia fotovoltaica, aproveitando- se da luz solar para gerar o insumo e abastecer a rede elétrica do prédio. Na edição 252, de janeiro de 2020, a revista Direcional Condomínios trouxe a experiência do síndico profissional Paulo Moraes com a implantação da tecnologia em dois condomínios residenciais na área central da Capital Paulista. São instalações robustas, uma delas ocupa toda a cobertura de uma das duas torres do residencial, com placas que geram de 250 Watts a 395 Watts cada. Na quarentena, iniciada no final de março passado em São Paulo, o gestor contabilizou o maior retorno financeiro que já obteve do sistema.
Paulo Moraes estima que a soma da energia produzida pelas placas com a queda do consumo das áreas comuns no período, por causa do fechamento dos espaços, tenha baixado em mais da metade o valor da conta mensal neste condomínio de 335 unidades. “A conta média mensal ficava antes entre R$ 13 mil e R$ 14 mil, agora baixou para R$ 6,5 mil a R$ 7 mil.” No outro residencial onde também implantou a solução, com 118 apartamentos, a produção de energia fotovoltaica praticamente empatou com o consumo das áreas comuns no período da quarentena, avalia.
“Estamos aumentando gradativamente o número de placas e esperávamos alcançar isso em um ano, só que agora com a redução do consumo na quarentena, tivemos essa notícia super importante.” O síndico diz que adota, paralelamente, outras medidas sustentáveis, quando possíveis aos condomínios que administra, como a individualização do consumo da água, o uso de trocadores de calor para o seu aquecimento, instalação de lâmpadas LED e de soluções inteligentes para a iluminação da garagem. “Sempre que você diminui a carga instalada, com menos lâmpada, elimina a sobrecarga da rede, o aquecimento dos fios”, exemplifica Paulo, ao comentar sobre os impactos positivos obtidos por meio das ações sustentáveis.
No Condomínio Mais Flora Morumbi, na zona Sul de São Paulo, a experiência com a energia fotovoltaica é recente. O síndico profissional Carlos Fernandes aprovou em assembleia a instalação de 60 placas sobre uma das torres para gerar 2.105 kWh por mês e, junto com um trocador de calor, aquecer a piscina externa de uso adulto, substituindo o aquecimento a gás, que gerava um custo médio de R$ 14 mil mensais. Os equipamentos já estão instalados. Os investimentos, bancados pelas 298 unidades do residencial, somam R$ 134,6 mil. Carlos Fernandes projeta um retorno em até um ano e, se a expectativa se confirmar, “o condomínio fará a instalação de placas na outra torre, de forma a abater os custos com o consumo de energia elétrica nas áreas comuns”.
Medidas simples dão resultado
O condomínio pode iniciar as ações sustentáveis a partir de medidas básicas, como a separação de lixo reciclável do orgânico, a implantação de hortas comunitárias e o uso de lâmpadas econômicas, afirma Manuel Carlos Reis Martins, coordenador executivo da AQUA-HQE, programa de certificação de sustentabilidade lançado pela Fundação Vanzolini. “Cada ação tem valor, por exemplo, trocar as lâmpadas por LED traz uma diferença muito grande no consumo de energia. Se cada um fizer uma coisa que parece ‘não muito grande’, a soma disso tudo se tornará relevante”, completa Martins. O coordenador recomenda, no entanto, que as ações sejam precedidas de uma análise de custo e benefício do ponto de vista econômico e ambiental.
No programa de certificação, cinco áreas são avaliadas, em diferentes níveis de aprimoramento, do básico a um contexto classificado como “cinco estrelas”. São elas: Água (controle diário do consumo, uso de redutores de vazão, individualização da leitura etc.); energia (leia abaixo); limpeza e resíduos (como o planejamento das rotinas de limpeza, otimização, limite dos impactos ambientais e sanitários, estimativa da geração de resíduos etc.); manutenção e reformas (planejamento, prevenção dos incômodos, análise crítica da eficácia da manutenção, gestão dos resíduos, treinamento e conscientização para reformas); e bem-estar (como feiras livres, bicicletários, academias etc., ou seja, tudo o que evite a necessidade de deslocamento e/ou uso de veículos automotores). “O objetivo é começar do básico, com itens relevantes, e permitir que o condomínio vá melhorando ao longo do tempo”, observa.
Na área da energia, por exemplo, o monitoramento do consumo já representa uma estratégia de sustentabilidade. “O gestor precisa pelo menos medir o consumo mensal da rede elétrica, do gerador, das fontes de energias renováveis e do gás. Se este for individualizado, ele já ganha pontos. Recomendamos setorizar este consumo em piscina, salão de festas etc., para saber o quanto gasta. Com essa informação, é possível fazer uma análise crítica e entender as possibilidades de redução”, afirma.
Entre as medidas que se encontram às mãos dos síndicos nesse setor, com reflexos na redução da conta mensal, Martins destaca o uso de equipamentos com etiquetas do selo Procel, a implantação de sistema de aquecimento de água mais eficiente, a automação da iluminação e a instalação de lâmpadas econômicas em pelo menos 50% das áreas comuns. Nem é preciso aparatos muito avançados para obter resultados, pontua, mas o síndico também pode recorrer à tecnologia da informação (IoT) para o auxiliar “no monitoramento do desempenho e na comunicação com os condôminos e os prestadores de serviços”.
Reciclagem & a política nacional de resíduos sólidos (PNRS) – O síndico e advogado Rafael Bernardi (foto) alerta para que os condomínios se organizem em atendimento à Lei Federal 12.305/2010 (PNRS), a qual possui um decreto regulamentador no município de São Paulo. A PNRS entra como lição obrigatória para os condomínios, não apenas em termos de sustentabilidade, mas também do ponto de vista sanitário, observa. Rafael é gestor do Condomínio Heliodora, onde mora, em Santana, zona Norte da cidade. Implantou no local um programa de coletiva seletiva. “Pela PNRS, o domicílio é responsável pelo resíduo desde o momento de sua geração até o descarte.” Ou seja, quem buscar um parceiro para a retirada dos recicláveis e sua destinação, deve exigir “o alvará necessário e válido para fazer o transporte”. “A lei fala de maneira clara sobre as responsabilidades do gerador”, destaca. O domicílio previsto na PNRS implica não apenas o ente condomínio, mas cada uma de suas unidades. Segundo Rafael, “campanhas são fundamentais para que a coleta seletiva dê certo”, de forma que os moradores façam uma higienização básica das embalagens descartadas e as levem até o local reservado pela administração. “Precisamos que a coletividade condominial abrace a ideia. O primeiro insight [para adotar a iniciativa] pode vir da necessidade de retirarmos as lixeiras das escadarias e halls dos andares, para atendermos às normas do AVCB (Auto de Vistoria do Corpo de Bombeiros)”, arremata.
Matéria publicada na edição – 257 – junho/2020 da Revista Direcional Condomínios
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