Um dos protagonistas das grandes mudanças observadas no perfil dos condomínios, os zeladores se reinventam na função. A Direcional destaca nesta reportagem dois profissionais considerados proativos pelas respectivas síndicas, prestando a eles e a toda categoria uma homenagem pelo seu dia, comemorado em 11 de fevereiro.
O zelador José Barbosa Trindade Neto e a síndica Inêz Valverde: Soluções em conjunto; “a prioridade é o condomínio”
Em princípios do mês passado o zelador José Barbosa Trindade Neto completou três anos de trabalho no condomínio residencial administrado pela síndica orgânica Inêz Valverde, na Chácara Klabin, região Sul de São Paulo. A gestora exercia seu mandato havia cerca de seis meses quando o contratou, depois de um processo seletivo. Barbosa não fora escolhido de imediato. Outro profissional começou o trabalho e acabou dispensado. Barbosa havia ficado em 1º lugar na seleção, mas por razões do condomínio, não pudera ser efetivado. “Contratamos o 2º colocado, que não deu certo”, lembra Inêz.
A aposta em Barbosa foi certeira, a parceria tem funcionado, “há uma integração entre a síndica e o zelador”. “Temos divergências, é normal, a gente cresce. Podemos concordar ou discordar, mas sempre chegamos a uma solução conjunta. Pois a prioridade é o condomínio”, arremata a gestora.
Paulistano de 39 anos, técnico em refrigeração formado pelo Senai, Barbosa fez cursos também na área condominial, como de gestão, de síndico profissional e zeladoria. Ele já havia sido zelador antes, durante cinco anos, em um residencial localizado na Vila Prudente, zona Leste da cidade.
No prédio da Chácara Klabin, de uma torre, 25 anos de construção e 48 unidades, Barbosa mora, junto com a esposa e três filhos. Possui 2º grau completo e iniciou o curso de graduação em Matemática, não gostou e resolveu mudar de área. A proatividade lhe é um traço característico. Mas não só. Ele fala a seguir do que mais é preciso para o exercício satisfatório da função:
– “O zelador precisa ser transparente, ter confiança no trabalho e um síndico que confie em suas opiniões. Na verdade, é preciso haver um diálogo aberto entre síndico e zelador, este com autonomia para executar o próprio trabalho e buscar se aperfeiçoar.” Faz parte ainda de sua postura “conquistar a confiança do síndico”.
A relação funciona com reciprocidade. Em conjunto, Barbosa e Inêz fazem a programação da limpeza e da manutenção do condomínio. A síndica diz que valoriza profissionais com iniciativa própria: “Eu não esqueço de nada [demandas do condomínio] e ele me ajuda a não esquecer”, explica.
De acordo com a gestora, para que essa parceria aconteça, é importante que o síndico também faça a sua parte, como:
1) Dar o exemplo, vestir a camisa. “O zelador se espelha no síndico. Ou ele já traz essa veia [proativa] ou aprende.”;
2) Abrir espaço para que o zelador coloque suas ideias, sugestões;
3) Conceder autonomia para que o profissional execute o serviço dele;
4) Apoiar seu aperfeiçoamento.
Barbosa cumpre uma jornada semanal de segunda a sábado, entre 8h e 17h20, cobrindo horários de refeição dos funcionários da portaria. Toda equipe é própria e o zelador orienta os serviços. É sua atribuição ainda vistorias de rotina em todas as instalações do prédio, desde a cobertura (caixas d’água, casa de máquinas dos elevadores etc.), aos equipamentos de incêndio (como mangueiras e extintores), sensores e luzes de emergência dos andares e escadarias, bombas, entre outros.
Também compete a ele anotar diariamente os dados de consumo d’água pelo condomínio. Já a interlocução com os moradores fica a cargo da síndica.
No dia em que a reportagem da Direcional Condomínios visitou o condomínio, o quadro mural da sala da administração exibia um provérbio italiano – “quando o jogo termina, o rei e o peão voltam sempre para a mesma caixa”. Uma das interpretações correntes é a de que, num jogo de xadrez, apesar desses personagens terem características e papéis distintos, ninguém é melhor que o outro. Cada um extrai o melhor de si dentro do que lhe compete. É nisso que a gestão da síndica aposta.
“O zelador é os ‘olhos’ da síndica no condomínio”
– O zelador Elio Braga Rodrigues (foto ao lado) trabalha há 24 anos no Condomínio Ilha Guadeloupe, administrado pela síndica Cristiane Bittencourt Reis. Foi ela quem o promoveu há cerca de três anos, quando era porteiro. Mineiro da região do Vale do Jequitinhonha, Elio tem 47 anos e chegou com 18 a São Paulo; mora no prédio, é casado e sem filhos. Já havia realizado o curso de zeladoria na época da promoção, mas a síndica resolveu investir em uma nova capacitação a ele. Cristiane afirma que o profissional anterior não estava alinhado com o novo perfil da gestão do condomínio, o qual possui uma equipe própria (sete funcionários) fidelizada há muito tempo.
Elio foi aprovado na função e representa “os olhos da síndica” e o seu “braço direito” no prédio, diz Cristiane. “Elio estava com um pouco de medo, mas demos apoio e ele se saiu melhor que esperávamos. O zelador tem um olhar muito cuidadoso com o prédio, acompanha o trabalho dos prestadores de serviços, faz o planejamento da manutenção diária, conhece o comportamento dos moradores e passa um tratamento humano a todos, inclusive à sua equipe”, resume. Segundo Cristiane, essa relação de “confiança mútua faz com que o zelador tome iniciativas e seja proativo”. Nesse sentido, Elio procura solucionar problemas e levar à síndica as demandas já encaminhadas. Também organiza a documentação do condomínio, registrando em fotos o andamento das obras. Ele afirma que seu interesse na área é antigo e foi cultivado ao longo do tempo, entre outros, “pelas reportagens da Direcional Condomínios, que leio todo mês”. Abraçou com garra a oportunidade que recebeu. (Por R.F.)