Dia Nacional de Combate ao Alcoolismo, 18/02 é uma data de conscientização

Dia 18 de fevereiro é o Dia Nacional de Combate ao Alcoolismo. É uma data de extrema importância no que se refere à conscientização dos malefícios causados pelo álcool, tanto físicos quanto psicologicamente, afetando também milhões de famílias em todo o mundo.

Para se ter uma ideia, no Brasil, de acordo com estatística da Vigitel (Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico), do Ministério da Saúde, de 2021, o padrão de consumo de bebedor abusivo representa 18,4% da população brasileira. Nos homens, o percentual é de 25,7%, mas vale acrescentar que o número de mulheres com esse perfil aumentou consideravelmente. E, no mundo, pesquisas apontam que 40% da população do planeta, a partir dos 15 anos de idade, consomem bebidas alcoólicas, o que equivale a 2 bilhões de pessoas.

As estatísticas mostram também que, no Brasil, o uso nocivo de álcool no público feminino, cresceu 4,25% em dez anos. E no público jovem, cerca de 3% dos brasileiros com mais de 15 anos, são alcoólatras. Índice este muito próximo ao dos Estados Unidos.

De acordo com a OPAS (Organização Pan Americana de Saúde) e OMS (Organização Mundial da Saúde), no período de 2013 a 2015, cerca de 85 mil mortes a cada ano foram 100% atribuídas ao consumo de álcool nas Américas.

Vários são os fatores que levam as pessoas ao consumo de bebidas alcoólicas e dependência da substância, principalmente pelo lado psicológico, mas também pode ter um caráter genético.

Não é raro em eventos familiares, por exemplo, os pais permitirem que os filhos “experimentem” um gole da espuma da cerveja, o que é errado. E a partir daí as crianças podem, no futuro, seguir o comportamento dos pais, associando o ato de beber a algo absolutamente “normal”.

Outro ponto que leva ao consumo é quando a pessoa deixa-se influenciar por amigos de baladas, ou quando está em alguma festa. Muitas vezes, para fazer parte de um grupo, ela passa a beber, ou até consumir drogas.

Um dos aspectos que leva alguém a manter a bebida se passa por supostos “benefícios”, como por exemplo, perder a timidez em algum evento social. A partir daí, o indivíduo começa a consumir álcool normalmente para poder se soltar entre os grupos de pessoas ou amigos.

Um dos grandes problemas gerados pelo consumo do álcool é o aumento da tolerância pelo organismo. No começo, a pessoa bebe para obter o efeito esperado. A partir do momento que aquele consumo não oferece mais esse resultado, ela passa a ingerir álcool em maior quantidade, e, além daquilo que bebe, começa a consumir outros tipos de bebida para alcançar o efeito desejado. O álcool também pode ser a porta de entrada para outras drogas.

Durante 15 anos eu atuei como psicólogo em uma instituição psiquiátrica com dependentes químicos. O alcoolismo também é considerado dependência química, e é um tratamento difícil, muitas vezes porque o paciente não reconhece que tem esse quadro. Era e ainda é muito comum ouvir de pacientes relatos como: “Mas eu só bebo no final de semana”, ou então, “Qual o problema de beber um pouco?”, e ainda, “Eu trabalho a semana inteira e mereço beber um pouco para relaxar”, entre outros discursos.

Eu atendi algumas situações extremas, envolvendo pacientes que consumiam perfume, álcool em gel, vinagre com álcool, mistura de álcool etanol com água em uma garrafa pequena de água mineral … isso só para se ter uma ideia da dimensão a que chega um vício. E no caso de pessoas que desenvolvem a dependência por outras drogas, é comum pessoas usarem cocaína como forma de cortar o efeito do álcool.

Sempre é bom enfatizar os malefícios do álcool no organismo: cirrose hepática, câncer, doenças cardiovasculares, redução de concentração e de atenção, diminuição da capacidade de julgamento, doenças inflamatórias, entre tantos outros problemas, sem contar os efeitos negativos causados quando a pessoa está ao volante.

Pela minha experiência e dividindo com meus outros colegas de profissão, o alcoolismo tem um efeito extremamente negativo no âmbito familiar, onde filhos presenciam o pai ou a mãe chegar em casa totalmente alterado (a) por conta do álcool, ocasionando brigas tanto verbais quanto físicas, sendo responsável por separações conjugais.

É muito comum um paciente ter mais de uma internação para se livrar do vício. Hoje em dia, existem tratamentos eficazes para quem busca a recuperação. Mas, antes de qualquer coisa, a pessoa precisa conscientizar-se de que tem uma dependência e reconhecer que o vício está trazendo prejuízo a ela e seus familiares.

Além da internação, existem grupos de apoio, a exemplo do AA (Alcoólicos Anônimos), acompanhamento psiquiátrico (com prescrição de medicações próprias para tratar vícios e compulsões), e a psicoterapia como forma de trabalhar não só a recuperação, mas também a prevenção contra recaídas, o que é infelizmente muito comum. Há casos em que pessoas apresentam recaídas mesmo após 20 ou 30 anos de recuperação.

Existem também os grupos como Codependentes Anônimos ou Al-Anon, que dão apoio às famílias que enfrentam problemas de álcool com alguém de seu núcleo. É claro que os codependentes também precisam muitas vezes de acompanhamento psiquiátrico e psicoterapêutico para enfrentar a situação.

Você que tem alguém na família com essa problemática, ou se você é uma dessas pessoas que apresentam problemas com o vício, procure ajuda o quanto antes. Pode parecer difícil, mas se você (ou seu familiar ou amigo) levar a sério o tratamento, os benefícios podem ocorrer a longo prazo. Entretanto, é preciso ter a consciência de que é um problema que deve ser tratado por toda a vida, com ajuda profissional constante.

Alcoolismo em condomínios

Por se tratar de uma questão social, o transtorno causado pelo consumo de álcool está presente em várias residências, horizontais ou verticais, por isso não podemos esquecer de citar que o síndico também se depara com o problema no condomínio onde atua, e nem sempre ele está preparado para agir nesse contexto.

É de máxima importância, porém, que o síndico tenha conhecimento para lidar com essa questão. Lidar com um morador que tenha esse quadro não é fácil, principalmente quando o alcoólico apresenta problemas de comportamento no condomínio, afetando outros moradores.

Minha sugestão é que o síndico busque estudar essa problemática não só de modo teórico, mas também que procure conversar com profissionais (psicólogos ou psiquiatras, por exemplo), como forma de aprender a abordar uma pessoa com esse perfil, pois em várias situações, a pessoa, por estar sob o efeito do álcool, pode se tornar agressiva tanto física quanto verbalmente. Vale salientar que episódios de violência doméstica, cometidos dentro das unidades ou nas áreas comuns, têm de ser reportados às autoridades.

O síndico pode também promover um ciclo de palestras para os condôminos sobre alcoolismo, como forma de trazer informações para que as pessoas tenham cada vez mais consciência dos problemas que o álcool causa. Ou então, que ele possa, junto a profissionais, criar informativos sobre o assunto e distribuir aos moradores.

Enfim, é uma situação que todos nós devemos ter bons conhecimentos sobre a doença e formas de enfrentamento para que possamos ajudar a quem precisa. Pense nisso: promova ajuda ou (se for o caso) procure; como vimos, há chances de recuperação!


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Autor

  • Nelson Luiz Raspes

    Psicólogo com formação em Dependência Química pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). É especializado em Capacitação em Dependência Química pela Universidade de Santa Catarina. Atuou durante quinze anos junto ao Centro de Tratamento Bezerra de Menezes.