Economia de água nos condomínios

Do monitoramento diário à individualização, os síndicos buscam a racionalização do consumo e uma conta menor no final do mês, mas ainda têm muitas dúvidas sobre as soluções possíveis. A convite da Revista Direcional Condomínios, técnicos da Sabesp visitaram um condomínio e mostraram como vencer a batalha contra o desperdício. Confiram.

Nos edifícios Atlas e Apolo, condomínio situado no bairro de Vila Mariana, o síndico José Máximo Pontes é sempre cobrado durante as assembleias para que providencie a individualização da água. Mas não é por falta de vontade nem de prioridade que o processo não foi implantado. Pelo contrário, José Máximo monitora periodicamente o consumo de água e promove inspeções nos apartamentos, com o intuito de identificar vazamentos em descargas ou desgaste nos courinhos das torneiras. A conta de água atinge R$ 6 mil mensais e representa o segundo maior custo do condomínio, inferior apenas à folha de pagamentos.

“Mas aqui a individualização é difícil porque temos três colunas de água”, observou o síndico, lembrando ainda que duas delas se encontram próximas, mas a terceira fica bem distante. Como a individualização requer um ponto único (hidrômetro) de medição, ele teme que as intervenções necessárias para unificar a entrada de água das três colunas sejam trabalhosas, onerosas e que a economia posterior se torne insuficiente para cobrir os custos. “Em quanto tempo o sistema se pagaria?”, perguntou.

SÍNDICO RECEBE TÉCNICOS DA SABESP: INDIVIDUALIZAÇÃO POSSÍVEL?
A Revista Direcional Condomínios levou as dúvidas de José Máximo para a superintendente de Planejamento e Desenvolvimento da Região Metropolitana da Sabesp, Regina Siqueira, que concordou em avaliar in loco as condições da edificação. O engenheiro e gerente do Departamento de Desenvolvimento Operacional e de Medidores da Sabesp, Marcelo Fornaziero Medeiros, foi ao condomínio de José Máximo, acompanhado pelo analista de saneamento, Marcio Romero. Segundo Regina e Marcelo, a quantidade de prumadas ou o tempo de vida do prédio não representam, em princípio, impedimentos técnicos à individualização. Mas é preciso conhecer a estrutura da edificação, estudar alternativas, balizá-las conforme o volume médio de consumo para então viabilizar o processo. Durante a visita, os técnicos confirmaram a existência das três prumadas, sendo que duas passam por um shaft (duto) interno e estão associadas ao banheiro social e lavabo (uma delas é independente para as descargas) e a terceira (da cozinha e área de serviço) fica bem separada.

“O projetista precisa estudar a possibilidade de aproveitar esse shaft interno, interligando as prumadas em um medidor único no hall interno, ou inutilizá-las e construir uma nova, contígua às instalações de combate a incêndio e alimentando todos os pontos de consumo”, observou Fornaziero. Diante do exposto, novas dúvidas sugiram para o síndico José Máximo: para aproveitar as colunas existentes, as obras necessárias no interior das unidades elevariam o custo e provocariam resistência entre os moradores? Ou, ao fazer nova prumada e inutilizar as atuais, o condomínio perderia um investimento realizado há alguns anos, quando trocou as canalizações em ferro galvanizado por cobre?

Os técnicos da Sabesp comentaram, entretanto, que vale a pena colocar os custos no papel, uma vez que o consumo individual médio dos moradores do Atlas e Apolo é de 5 mil litros ao mês, patamar que caiu um pouco com as medidas de racionalização (era 6 mil em 2006), mas ainda considerado elevado pela equipe. Segundo Marcelo, a individualização leva a uma queda média entre 20% e 25% no consumo. “Quando o morador sabe quanto paga pelo que consome, passa automaticamente a reduzir o tempo gasto no chuveiro, a controlar o uso da máquina de lavar roupas, entre outros”, observou. Já a economia de valores depende da faixa tarifária, que muda conforme o volume gasto. Outros fatores, porém, devem ainda ser levados em conta no balanço do custo benefício da individualização, comentou Marcelo, como “justiça social e transparência, conforto coletivo, tranquilidade para o síndico, ganhos ao meio ambiente e gestão da inadimplência pela Sabesp”.

O síndico José Máximo fez questão de defender, por princípio, a individualização. “Todo prédio tem que pensar seriamente em fazê-la, mas os condôminos precisam apoiar o síndico, porque para levar adiante o processo, ele tem que ser proativo, investir tempo, se deslocar, gastar combustível, entre outros.” De acordo com o analista Marcio Romero, a individualização requer a contratação do projeto, adaptação hidráulica (troca de tubulação ou construção de nova prumada, substituição de válvulas de descargas etc.), instalação de equipamentos (hidrômetros, estações medidoras, válvulas de corte e aparelhos de transmissão de dados), educação ambiental (como cursos específicos para zeladores e empregadas domésticas) e manutenção. Caso o condomínio opte pelo Programa ProAcqua da Sabesp, que viabiliza a emissão de contas individualizadas para cada apartamento, o contrato é feito com um dos prestadores certificados pela empresa. Mas para os Edifícios Atlas e Apolo, os técnicos assumiram o compromisso de providenciar o projeto e o levantamento de custos sem ônus, como forma a ajudar o síndico a encontrar uma saída para o seu quebra-cabeça.

A superintendente Regina Siqueira enfatizou que projetistas e construtores devem ficar atentos às necessidades estruturais da individualização quando pensarem nos novos empreendimentos. A empresa lançou recentemente um manual para orientá-los, que pode ser baixado gratuitamente pela internet (confiram no endereço http://www2.sabesp.com.br/ solucoesambientais). Segundo Regina, existem inúmeros mitos em torno da individualização (vejam quadro nesta página), mas a Sabesp, por meio de uma associação com o Cediplac (entidade conveniada à Escola Politécnica da USP/ Universidade de São Paulo), desenvolveu um modelo que pretende atender às necessidades dos edifícios. Através de uma central instalada no térreo ou garagem, os dados de consumo de cada hidrômetro (tanto água fria quanto quente) são coletados pelo leiturista, servindo de base para o envio da conta individualizada.

Entretanto, a individualização ainda suscita muitas dúvidas, especialmente nas edificações mais antigas. O advogado, síndico e administrador Oswaldo Marcatto, por exemplo, disse que prefere apostar em medidas de racionalização do consumo. Um dos edifícios que administra, o Imbuí, construção do final dos anos 50 e início dos 60 localizada no Vale do Anhangabaú, gasta em média R$ 3 mil mensais na conta de água. São cerca de 160 apartamentos, onze lojas e tubulações em ferro galvanizado. “O custo da individualização seria viável?”, questionou Marcatto. Segundo ele, a adoção de uma política permanente de troca de registros e reparos em válvulas e torneiras ajuda a diminuir o consumo. Nos edifícios que administra, Marcatto optou pelo monitoramento diário do hidrômetro. Qualquer anormalidade ou pico de consumo coloca zeladores e encarregados de manutenção em ação, em busca de pontos de vazamento.

CUIDADOS PARA O REUSO
Outra possibilidade de economia de água está no seu reaproveitamento, especialmente da pluvial. O químico industrial Sérgio Belleza observou que pelo menos 40% do consumo em um condomínio poderiam vir do reuso, pois é água destinada para limpeza e jardinagem. Entretanto, a solução não é tão simples, demanda estudos, investimentos em obras, análise de contaminantes etc. A engenheira civil Andrea Françoise Sanches de Sousa, autora de um estudo de mestrado defendido na USP sobre o reuso no Condomínio Residencial Valville I, em Santana do Parnaíba, produziu um texto exclusivo para a Revista Direcional Condomínios, apontando benefícios, mas também os procedimentos necessários.

Uma das possibilidades de economizar água está no seu reaproveitamento, especialmente da pluvial. A engenheira civil Andrea Françoise Sanches de Sousa, autora de um estudo de mestrado defendido na USP sobre o reuso no Condomínio Residencial Valville I, em Santana do Parnaíba, produziu um texto para os síndicos a pedido da Direcional, apontando benefícios, mas também os procedimentos necessários.


Matéria publicada na edição 147 jun/10 da Revista Direcional Condomínios

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