Infraestrutura e Meio Ambiente

Os pilares convencionais da sustentabilidade costumam envolver ações sociais, ambientais e econômicas, mas um dos principais especialistas brasileiros em soluções na área, o engenheiro Luiz Henrique Ferreira inclui a questão cultural, relativa à mudança de alguns hábitos diários, como a grande contribuição que os brasileiros, de forma geral, e os condomínios, em particular, podem começar a dar à preservação do meio ambiente. “Temos muito forte ainda uma cultura de fartura dos recursos naturais, enquanto na Europa as pessoas são extremamente eficientes, consomem somente o que é necessário”, observa o engenheiro, ligado ao Processo AQUA, sistema de certificação de sistemas construtivos sustentáveis da Fundação Vanzolini. Como exemplo, Luiz Henrique cita que quatro minutos de banho sob uma ducha que verta 50 litros de água a cada 60 segundos já correspondem a todo o volume diário que a Organização Mundial da Saúde (OMS) considera necessário para o atendimento das necessidades básicas de um homem, incluindo higiene, ingestão e preparo dos alimentos.

Segundo documento lançado em março de 2009 pela Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura), pelo menos metade da população mundial sofrerá com a escassez da água em 2025 caso as atuais tendências de consumo sejam mantidas. Já um painel ambiental promovido pela Organização das Nações Unidas (ONU), em 2007, aponta que o patamar atual de emissão de carbono, gerado pelas atividades produtivas e sociais do homem, irá provocar efeitos ainda mais drásticos sobre a mudança climática e a escassez da água em 20 anos.

A sustentabilidade envolve um amplo arco de soluções, que vão desde a concepção de projetos arquitetônicos que considerem um melhor desempenho de iluminação e ventilação natural, ao controle da produção de resíduos durante a construção, passando ainda pelo cuidado em se ocupar os imóveis de forma a gerar o menor impacto possível sobre o tráfego local, a produção de lixo e de barulho. Entretanto, do ponto de vista dos condomínios já estabelecidos, “o foco está na sua operação diária”, comenta Luiz Henrique. Autor do projeto de duas escolas sustentáveis da rede estadual de ensino de São Paulo e consultor para a certificação de edifícios comerciais e residenciais dentro da metodologia AQUA, o engenheiro defende que os síndicos comecem a estimular ações simples, ao alcance de todos. Entre elas, adotar políticas de conforto acústico e térmico, implantar bicicletário, fazer a gestão dos resíduos (lixo) e estabelecer um plano de manutenção sobre rede de água, iluminação e ar condicionado (nos comerciais). “Nossa experiência mostra que uma correta intervenção na maneira como o usuário se relaciona com o edifício costuma ser muito mais eficaz do que eventuais reformas físicas”, exemplifica.

Assim, Luiz Henrique recomenda aos síndicos realizarem uma análise detalhada da situação de seu condomínio, “para ver onde o calo aperta”. Ele sugere, por exemplo, uma campanha educativa para que as pessoas passem a ficar pelo menos três minutos diários a menos com a torneira do chuveiro aberta, gerando uma economia equivalente à água captada pelos sistemas de reuso. Outras medidas simples incluem o monitoramento mensal de vazamentos nas áreas comuns e nas unidades, o uso de sensores no sistema de iluminação, a racionalização no acionamento dos elevadores e aproveitar os momentos de execução de algumas obras para instalar o sistema de captação da água pluvial ou painéis termo-solares (para aquecimento da piscina, por exemplo).

REPERCUSSÃO SOBRE A REDE PÚBLICA
Também o arquiteto Ruy Rezende, profissional estabelecido no Rio de Janeiro e que conquistou o prêmio Greening 2011, considerado o Oscar da sustentabilidade, defende que os síndicos comecem por soluções mais simples para tornar seus edifícios sustentáveis (novamente, entra aqui o reuso da água da chuva, a coleta seletiva do lixo e o uso de sensores nas luminárias). “Elas geram uma repercussão imediata em todo o nosso sistema, porque além da economia no condomínio, dá oportunidade para que a rede pública da cidade fique mais abastecida e atenda a outra região”, observa Ruy. No caso do condomínio, o arquiteto comenta ainda que “a captação da água pluvial em um reservatório de quatro mil litros já traz um impacto direto na redução do valor da conta no final do mês”. “É uma água que pode ser utilizada para regar os jardins e lavar as garagens”, diz.

Responsável pelo projeto do primeiro edifício (o Cidade Nova, no Rio de Janeiro) certificado na América Latina pelo U. S. Greenbuilding Council, um dos organismos mais conhecidos de certificação na área, Ruy Rezende resume, em três diferentes momentos, as ações sustentáveis cabíveis em um empreendimento. “Na fase de projeto, se analisam as características do local e do entorno (aspectos sócio-ambientais como traçado urbano, acessibilidade, vegetação, água, entre outros)”, além dos “dados climáticos, visando traçar estratégias de desenho que levem em conta a eficiência energética, o baixo impacto ambiental dos materiais e o conforto ambiental interno (visual, olfativo, auditivo e hidrotérmico)”. Na fase da construção, “se controlam questões como segurança e saúde dos trabalhadores e a gestão eficiente dos resíduos gerados”. Já na fase de uso, conclui o arquiteto, “se monitoram as melhorias obtidas nas questões de energia, água, resíduos e conforto ambiental interno, de acordo com as respectivas simulações feitas na fase de projeto”.


Matéria publicada na edição 157 mai/11 da Revista Direcional Condomínios

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