Sergio Meira de Castro Neto, 66 anos, é engenheiro civil, síndico profissional e diretor de condomínios do Secovi-SP

Síndico profissional Sergio Meira de Castro Neto

“Sinto uma forte conexão com ruas e prédios da cidade”

“Sou soteropolitano, apaixonado por vatapá, caruru e acarajé. Nasci em Salvador na época em que meu pai, militar de alta patente, estava a serviço do Exército. Pelo mesmo motivo, anos antes, uma das minhas cinco irmãs nascera no Rio de Janeiro. Quando eu estava com cerca de seis anos, minha família regressou definitivamente à cidade de origem, São Paulo, onde a história de antepassados está intensamente enraizada. Cresci ouvindo coisas bacanas, que estreitaram minha ligação com a capital paulista. Sinto uma forte conexão com ruas e prédios da cidade.

A minha mãe é bisneta do Barão de Souza Queiroz, abolicionista, homem à frente do seu tempo, que em 1874 fundou o Instituto Dona Ana Rosa. Essa entidade atua há 150 anos com educação e assistência social, e sempre esteve sob o comando de nossa família. Hoje, está sediada na Vila Sônia, com excelente infraestrutura, e atende 1200 crianças e adolescentes. Faz um trabalho maravilhoso! O pai do Barão era o Brigadeiro Luiz Antônio, que virou nome da conhecida avenida. Já a avenida Angélica, famosa em Higienópolis, homenageia uma das filhas do Barão.

A chácara dos Souza Queiroz, que foi desmembrada no começo do século XIX, abrangia toda a região da atual Avenida São Luiz, no centro. É curioso imaginar que onde temos a Biblioteca Municipal um dia foi a casa de familiares. Sou interessado por história e coisas antigas, nem poderia ser diferente. Na infância, gostava de brincar de explorar o casarão do meu avô com os primos, em Higienópolis. O imóvel possuía três andares, elevador, adega no subsolo e um lindo jardim, onde havia uma grande jabuticabeira. Era uma delícia!

Pelo lado paterno, meus antepassados são os Paes de Barros e Meira de Castro, como Rafael Paes de Barros, que fundou o Jockey Club de São Paulo nas terras dele, na Mooca, em 1876. Sei que existem muitos descendentes com graus de parentescos, porque as pessoas tinham muitos filhos antigamente.

Eu me lembro de uma grande festa organizada pela minha mãe no tempo em que ela era presidente do Instituto Dona Ana Rosa. Cada convidado recebeu um crachá, que identificava de qual filho do Barão era descendente. Foi muito engraçado. Encontrei vários conhecidos, do clube, de condomínios, da sociedade, que eu jamais iria supor serem meus primos.

No começo dos anos 1980, iniciei a minha própria família. Caseime com a Maria, colega no curso de engenharia; tivemos dois filhos, que nos dariam cinco netos. Na mesma época, eu havia ingressado na construtora Cassiporés, trabalhando com loteamentos e construção de casas. Depois me tornei sócio da empresa, e mais tarde, abri a imobiliária Cassiporés para vender os terrenos loteados. Porém, amigos e parentes souberam, e me pediram para cuidar de seus bens. Fui me afastando da engenharia e abraçando cada vez mais a administração de imóveis. Um belo dia, meu pai e tios me confiaram dois prédios comerciais da família, um deles o Edifício Ouvidor, no centro da cidade.

O Ouvidor foi um grande desafio, por se tratar de uma construção de 1942, inclusive tombada pelo patrimônio histórico. Passei a administrar o aluguel das 142 salas comerciais e três lojas térreas, mas também me tornei síndico pela primeira vez, posto que ocupei 35 anos, até mesmo após o edifício ter sido vendido para um dos inquilinos. Com auxílio de um zelador muito competente, que reside ali há décadas, modernizei o prédio sem descaracterizá-lo. Quando eu assumi a gestão, em 1987, as empresas procuravam salas com ar-condicionado para alugar, mas as instalações elétricas não comportavam sequer um ventilador! E o consumo energético não era individualizado. Comecei as melhorias pelo retrofit elétrico, depois vieram, entre outras, reforma de elevador, AVCB e restauração da fachada.

No início dos anos 2.000, transferi a Cassiporés para o Edifício Ouvidor; a essa altura, a minha empresa já havia se especializado em administração de condomínios, e contava com o suporte valioso de minha esposa nos bastidores. Em alguns condomínios da carteira, cheguei a acumular a função de síndico profissional quando não havia moradores para exercer o cargo, porém, não queriam ‘síndico de fora’. Chegamos a quase 100 condomínios na carteira da Cassiporés, sendo que alguns ficaram conosco por mais de 30 anos. Em 2017, fiz uma fusão com a administradora Hubert, e tive a experiência de trabalhar em uma grande empresa. Foi bacana, mas, no início da pandemia, vendi minhas cotas e saí da empresa.

Neste período, fiquei um tempo na praia, ensaiando uma aposentadoria, porém logo voltei à cidade e ao mercado, com foco na sindicatura profissional somente. Atendo atualmente 12 condomínios de alto padrão, de modo personalizado. Ser síndico é doação, tem que amar o que você faz porque não é fácil, são muitas dificuldades e responsabilidades! Mas ver uma obra ou projeto concluído, é muito gratificante. É como a mãe que esquece as dores do parto ao olhar o rostinho do bebê.

Outra vertente de condomínios na minha vida é o Secovi. Sou associado faz quase três décadas, e há mais de 25 anos atuo como diretor de condomínios. O Secovi tenta orientar administradoras e síndicos da melhor forma. Lá atrás, colegas me diziam: ‘Mas você vai ensinar o concorrente?’ E eu respondia: ‘Prefiro perder para um concorrente que faça direito do que para aquele que vai enganar o mercado.’ O Secovi tem esse propósito de buscar e repassar a informação correta. A entidade sindical era muito direcionada às construtoras, mas a gestão condominial foi ganhando força. Tanto que tivemos feiras enormes voltadas aos síndicos. Incentivei a criação de manuais sobre vários temas, como segurança, por exemplo, o que foi muito bacana. Também tenho a honra de ter sido o primeiro instrutor da área de condomínios da Universidade Secovi; montei e ministrei o primeiro curso,o que foi bem desafiador porque sou ansioso ao extremo. Aparento ser um cara tranquilo, mas isso é por conta de muito treino.

Em 2007, criamos o núcleo de síndicos, orgânicos em sua maioria, com o qual nos reunimos durante muitos anos. Agora, sou o coordenador- geral do SindExpert, voltado para síndicos profissionais, além de incluir aquele antigo núcleo. Trata-se de um programa com reuniões mensais para debater as principais dores e desafios dessa nova profissão. Na minha visão, é crucial discutir e compartilhar conhecimento sempre que houver alguma oportunidade. Posso até me aposentar como síndico profissional, mas quanto ao Secovi, vou ter dificuldade de parar. O Secovi é a minha segunda casa.”

Sergio Meira de Castro Neto, em depoimento a Isabel Ribeiro

Matéria publicada na edição 303  ago/24 da Revista Direcional Condomínios

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