Descubra como síndicos e moradores podem adotar práticas sustentáveis, economizar energia e contribuir para um futuro mais verde nos condomínios.
Egresso do setor hoteleiro, Airton Dornelas, administrador de empresas pós-graduado em Administração Hoteleira, abraçou a sindicatura profissional. Uma de suas primeiras experiências, há cerca de 12 anos, foi em um condomínio com sete torres e 390 unidades. Os dois pisos de garagem eram iluminados com lâmpadas fluorescentes. “Brinco que carro não tem medo de escuro. Então não é necessário ter a garagem iluminada 24 horas por dia. Com sensores de presença, iluminamos a circulação da garagem e as vagas.” O síndico ainda trocou todas as lâmpadas por LED quando esse dispositivo eletrônico não era tão comum. “Também programamos as bombas das piscinas para serem acionadas com timers, evitando o uso dos equipamentos nos horários de maior custo da energia. Com essas ações, baixamos o custo mensal de energia de cerca de R$ 53 mil para R$ 29 mil”, recorda.
Dornelas completou as ações de sustentabilidade implantando um poço artesiano (até porque se tratava da época de crise hídrica). Mas o síndico reforça que conforme o perfil do condomínio as estratégias sustentáveis podem ser diferentes. Ele cita por exemplo a instalação de painéis solares: a energia gerada pode ser utilizada para aquecer a água, reduzindo o uso do gás. E também a captação de águas pluviais ou do lençol freático para utilização na rega dos jardins e lavagem das áreas comuns.
“Há iniciativas simples, como a instalação de chamada inteligente nos elevadores, quando apenas o elevador mais próximo atende o usuário, economizando energia. Ou ainda a instalação de lavanderias coletivas. O ciclo de uma lavadora doméstica consome em torno de 120 litros de água. Em uma lavanderia coletiva, as máquinas profissionais consomem de 50 a 60 litros, o que significa uma economia acima de 50% de água”, calcula Dornelas.
ASSUNTO URGENTE
Sustentabilidade em condomínios: por onde começar?
Para a advogada ambiental e condominial Marisa Silvestre, atualizar os condomínios em questões sustentáveis é urgente e muito mais simples do que parece. “É um trabalho árduo, mas não se trata de descobrir nenhuma fórmula mágica. É estudar o que cabe ou não cabe, não só pela estrutura física de cada condomínio, mas pelo perfil de moradores e do seu entorno”, orienta a profissional, que hoje atua como gerente comercial da Companhia de Gás do Espírito Santo.
Especialista em Eficiência Energética e ESG/ODS, Marisa comenta que nos últimos anos a sigla ESG tem ganhado muita força nos condomínios. ESG é a sigla, em inglês, para Environmental, Social and Governance (Ambiental, Social e Governança). De modo geral, o ESG mostra o quanto um negócio está buscando maneiras de minimizar os seus impactos no meio ambiente, de construir um mundo mais justo e responsável e de manter os melhores processos de administração. Os ODS são os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, uma coleção de 17 metas globais estabelecidas pela Assembleia Geral das Nações Unidas.
Marisa explica que não se trata do síndico estender uma bandeira verde, nem de sair abraçando árvores. “A sustentabilidade é responsabilidade de todos. Mas os síndicos têm todas as armas na mão para tornar os condomínios sustentáveis, energeticamente diversificados e para promover um letramento ambiental nos moradores, deixando um legado para além da sua administração. Ou seja, quando ele transforma um morador em uma pessoa com uma capacidade ambiental mais aguçada ele está deixando um legado muito maior do que apenas sua gestão. Quando um síndico abraça essa causa, ele está fazendo a diferença.”
Ela recomenda começar pelo básico – por exemplo, substituindo todas as lâmpadas por modelos de LED. Já a diversificação da matriz energética do condomínio merece estudos mais aprofundados, pontua Marisa: “Recomendo que o síndico busque consultorias imparciais, e que façam contas. Não só financeiras, mas de todos os ganhos tangíveis e intangíveis que o condomínio terá.” Sua sugestão é pensar em combustíveis com baixa emissão de carbono, como o gás natural, que também é versátil na sua aplicação. Com ele é possível aquecer a água do banho, a piscina, abastecer miniusinas de energia ou alimentar geradores no lugar do diesel. Marisa frisa que a grande graça da sustentabilidade em condomínios é que não há “produto de prateleira”, ou seja, receita pronta. “Um edifício com a maioria dos condôminos trabalhando em home office tem uma demanda de carga energética diferente de um de temporada”, compara.
RECICLAGEM DO LIXO
Como implementar a coleta seletiva no seu condomínio
Rosely Ruibal, bióloga com pós-graduação em Ciências Ambientais, opina que sustentabilidade também se trata de pensar em erradicação de pobreza, em cidades melhores para viver, no contato com a natureza, e de mais escuta e empatia com as pessoas. “Os Objetivos de Desenvolvimento Interior também fazem parte das ODS da ONU”, afirma. Rosely exemplifica: muitos condomínios não têm permeabilidade do solo. “Então por que não apostar no paisagismo sustentável, com espécies nativas? Hoje os jardins dos condomínios têm a maioria de espécies exóticas ou de outros países”, diz. O leque da ESG em condomínios é bem amplo: Rosely elenca a opção por produtos de limpeza ecológicos, oferecer atividades para públicos específicos, caso dos idosos, buscar formas alternativas para aquecimento de piscina (como a biomassa), e como não poderia faltar, promover a reciclagem do lixo.
Com uma grande experiência na implantação de programas de reciclagem em condomínios, Rosely faz uma análise sobre a questão do lixo em grandes cidades: “Costumo dizer que não é possível que em 2025, com a crise climática, as pessoas se movam só por dinheiro. O lixo é o maior problema ambiental urbano e os condomínios são minicidades. É uma lenda urbana os condomínios acreditarem que irão ganhar dinheiro com o lixo. Se me questionam o que o condomínio irá ganhar fazendo reciclagem eu respondo: uma cidade mais limpa, mais justa, mais colaborativa, menos exploratória. Quando um catador com sua carroça paga para um condomínio de alto padrão pelo lixo que ele retira, os moradores, muitas vezes envergonhados, justificam dizendo que o dinheiro serve para pagar o café dos funcionários.”
O Brasil gera cerca de 80 milhões de toneladas de resíduos por ano e só recicla 4%, enquanto a média mundial é de 19%. “Os moradores alegam que separam tudo direitinho em casa, mas não é aí que acaba o serviço. O problema do lixo é a logística, tirá-lo de um lugar e levá-lo para outro. E para isso há um custo operacional que é subestimado. Em São Paulo as distâncias são problemáticas, há trânsito e às vezes a conta não fecha. Por isso o catador vai algumas vezes, depois não aparece mais”, define.
VEJA DICAS DE ROSELY RUIBAL PARA COLETA SELETIVA
- Antes de comprar lixeiras, saiba para onde o material será destinado e o que será coletado.
- Saiba quem será beneficiado pela cooperativa que recolherá o material; quando há um propósito é mais fácil mobilizar os moradores.
- Aposte em educação ambiental e comunicação: explique aos moradores quem coleta, quem é beneficiado e o que será coletado.
- Peça aos condôminos que levem seus resíduos à lixeira – na pandemia essa prática se intensificou.
- Nunca é só sobre lixo. O lixo diz sobre as pessoas – que cuidado temos com os funcionários do condomínio, com o planeta e com as gerações futuras?
- O lixo é um problema de todos, não só do síndico ou do poder público. Motive sua comunidade mostrando os resultados da coleta seletiva.
Agradecimento aos entrevistados:
Rosely Ruibal (esq.), Airton Dornelas (centro) e Marisa Silvestre (dir.)



Matéria publicada na edição-310-abr/25 da Revista Direcional Condomínios
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Jornalista com larga experiência em reportagens e edição de revistas segmentadas. Editora do site e Instagram O melhor lugar do mundo, voltado à decoração, arquitetura e design. Editora da Panamby Magazine, publicação dirigida aos moradores do bairro do Panamby, região do Morumbi, em São Paulo. Desde 2005 também atua na área da educação, com publicações especializadas e cursos para formação de professores.