O papel do revestimento da fachada nos edifícios

Descrição das características do sistema de fachada que afetam seu desempenho.

O revestimento de fachada tem funções que vão muito além de sua aparência estética, ele exerce papel fundamental nas condições de habitabilidade da edificação, desempenhando as seguintes funções (conforme referências de GRIPP, 2008):

  • – Estanqueidade à água;
  • – Isolamento térmico;
  • – Isolamento acústico;
  • – Contribuição estética;
  • – Segurança.

OBS.: As condições para segurança devem ser atendidas pela parede como um todo, podendo ou não haver a contribuição do revestimento.

Portanto, o sistema de fachada requer bastante atenção dos administradores do edifício quanto à gestão de manutenção (ver artigos Manutenção e reparo de revestimentos de fachada e Consequências da ausência de manutenção em edificações), para que não comprometa a saúde, segurança e conforto dos usuários e o valor patrimonial da edificação.

A Tabela 1, abaixo, mostra os prazos de referência de vida útil de projeto, garantia e frequência de manutenção, referência importante para os casos de retrofit ou restauro. A análise de custo deve ser vista pelo ciclo de vida do sistema, somando custos de execução e manutenção (durante toda vida útil).

Por exemplo, um revestimento cerâmico de fachada pode ter custo de execução mais alto do que reboco e pintura, porém as atividades de manutenção possuem menor custo, somando-se os custos durante todo o prazo de vida útil, pode ser mais viável optar pelo revestimento cerâmico ao em vez do reboco pintado. Essa mesma lógica se aplica na escolha da marca dos materiais e das empresas de execução, o custo de execução pode ser mais alto, porém haverá menores riscos de problemas futuros.

Tabela 1 – Prazos de vida útil de projeto e garantia e frequência de manutenção de fachadas

Para que a estanqueidade à água do sistema de fachada permaneça com o desempenho esperado em projeto (pressupondo que o projeto foi concebido corretamente), deve-se realizar inspeções periódicas na fachada, a fim de observar trincas, desplacamentos, calafetação de juntas, presença de manchas de umidade e bolor, destacamento ausência de rejunte, ou reclamações de unidades. A realização de pintura e troca dos vedantes, também deve ser realizado antes do término da vida útil, para que a permeabilidade do revestimento mantenha o desempenho adequado.

Nota 1: A calafetação periódica das frestas ao redor janelas e portas balcão é ponto crucial e que normalmente traz infiltrações internas no sistema de fachadas;

Nota 2: Atentar-se ao aparecimento de mofo / bolor na superfície interna das paredes, que podem parecer inofensivos, mas podem trazer sérios riscos à saúde dos usuários. Porém nem toda umidade interna decorre de infiltração pela fachada, o correto diagnóstico de sua origem deve ser realizado por profissional especialista.

Isolamento térmico

Para que o isolamento térmico do sistema de fachada permaneça com o desempenho adequado, deve-se realizar limpeza e pintura periódica; permitindo que os níveis de reflectância da superfície mantenham-se conforme projeto, garantindo a resistência térmica esperada.

A troca de materiais e cores da fachada pode afetar diretamente o desempenho térmico, como, por exemplo: cores mais escuras, ou superfícies sujas pela fuligem, possuem capacidade de absorver mais o calor, prejudicando a capacidade de manter os ambientes internos com temperatura menor ou igual a exterior.

Nota 1: Uma falha no isolamento térmico ou uso incorreto dos moradores, pode propiciar a condensação de vapor de águas nas paredes e aparecimento de bolor, o correto diagnóstico de sua origem deve ser realizado por profissional especialista.

Isolamento acústico

Para que o isolamento acústico do sistema de fachada permaneça com o desempenho adequado deve-se atendar-se para o sistema de caixilhos/janelas (ponto vulnerável no aspecto acústico), atentando-se no seu correto fechamento e vedação (inspecionar e reparar borrachas, escovas, articulações, fechos e roldanas).

Nota 1: As premissas de projeto para dimensionamento do isolamento acústico de edificações, previsto pelas normas técnicas e legislação, usam como base o nível de ruído médio da região, não levando em consideração eventos atípicos, tais como, festas na vizinhança, obras, veículos com ruído excessivo etc.

Nota 2: O isolamento acústico normalmente previsto nas edificações (dentro nas normas técnicas) visa atenuar os ruídos e não os eliminar totalmente. Portanto, mesmo com uma isolação aceitável pelas normas, os usuários continuarão a ouvir certo ruídos, considerados aceitáveis (ver artigo Acústica nas construções: normas técnicas e melhoria do conforto).

Contribuição estética

O aspecto estético pode muitas vezes ser relegado por profissionais técnicos da área, uma vez que não afeta o desempenho e segurança dos usuários, mas é item determinante na aparência e impressão das pessoas, afetando diretamente as variáveis de valoração patrimonial. Podemos ilustrar isso comparando duas edificações iguais na mesma região, uma recém-pintada e outra suja com a fuligem, comum das áreas urbanas. Qual das duas seria escolhida por um eventual comprador?

Segurança

O item de segurança não corresponde diretamente ao revestimento de fachada, normalmente, mas ao conjunto parede e revestimento, onde o revestimento pode ou não contribuir para a resistência mecânica a impactos, pressões de vento, ações de arrombamento etc.

Conclusão

Por fim, pode-se concluir que o revestimento de fachada é um dos principais sistemas da edificação, que deve ser muito bem gerido pelos administradores, através de um correto plano de gestão de manutenção elaborado com base na NBR 5674 (ABNT, 2012) e manual de uso, operação e manutenção, entregue pelo construtor, afim de evitar riscos à segurança e conforto dos usuários, assim como manter o valor patrimonial da edificação.

Referências

ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 5674: Manutenção de edifício: requisitos para o sistema de gestão de manutenção. Rio de Janeiro, 2012.

ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 15.575-1: Edificações Habitacionais – Desempenho: Requisitos gerais. Rio de Janeiro, 2013.

GRIPP, Ronaldo Assis. A importância do projeto de revestimento de fachada, para redução de patologias. 2008. 80 f. Monografia (Especialização) – Curso de

Construção Civil, Engenharia de Materiais e Construção, Universidade Federal de Minas Gerais, Vitória, 2008.

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Autor

  • Marcus Vinícius Fernandes Grossi

    Engenheiro Civil, é doutorando em tecnologia da construção pela USP; mestre em Tecnologia da Construção de Habitações pelo IPT; especialista em Excelência Construtiva e Anomalias pelo Mackenzie; em Gestão e Tecnologia da Construção pela POLI-USP; Inspetor de Estruturas de Concreto pelo IBRACON, ABECE e ALCONPAT. Atua como Perito Judicial, Assistente Técnico da Defensoria Pública e Ministério Público do Estado de São Paulo; professor universitário; palestrante de cursos de perícia e patologia das construções. É sócio-gerente da Fernandes & Grossi Consultoria e Perícias de Engenharia, onde atua com consultoria, perícias de engenharia, inspeção predial, entrega de obras, auditoria de projetos, normatização técnica, desempenho e qualidade das construções. Atualmente é membro da Divisão Técnica de Patologia das Construções do Instituto de Engenharia e associado da ALCONPAT - Associação Brasileira de Patologia das Construções. Lançou a obra “Inspeção e Recebimento de Obras/Edificações Habitacionais” (LEUD Editora, 2020).

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