Conflitos no condomínio: Como evitá-los ou fazer para retomar o controle da situação?

Tente conhecer pessoalmente os representantes das empresas para que a relação seja mais tranquila, converse com os funcionários, se aproxime dos moradores e tenha uma boa postura em assembleia, com transparência e honestidade. Quando somos sinceros sobre a real situação do condomínio, os moradores geralmente nos entendem.

Caros colegas síndicos! Quem de nós já não sentiu vontade de “jogar a toalha” após enfrentar uma situação complicada ou um condômino “antissocial”? Eu mesma quase perdi a calma uma vez, durante uma assembleia, quando atirei uma caneta sobre a mesa após uma condômina gritar comigo e ser bastante deselegante.

Em mais de sete anos no cargo de síndica, entendi que estamos em uma posição muito evidente no prédio. Afinal, é o síndico que convoca assembleias, toma decisões sobre as finanças do condomínio e representa todos ativa e passivamente em juízo. Entendo também que o morador pode não estar em um bom momento da sua vida, por isso, acaba descontando na primeira pessoa que ele encontra e, infelizmente, esta pessoa acaba sendo um de nós, síndicos.

Conheci alguns síndicos que ficaram tão decepcionados e tristes com algumas situações que decidiram se mudar do prédio. Eu ainda resido no mesmo local, no entanto, confesso que diversas vezes tive o mesmo sentimento. Na maioria das vezes, o síndico dedica horas na gestão administrativa do condomínio, realizando diversas funções, desde a fiscalização das atividades dos funcionários, bem como negociação de contratos para redução de custos, obtenção de orçamentos e, inclusive, resolução de conflitos entre os condôminos.

No entanto, quando chega o momento da assembleia, nenhuma destas atividades é devidamente valorizada e reconhecida. Pelo contrário, não raro o síndico enfrenta condômino que levanta o dedo, grita, esperneia e, às vezes, chega a agredi-lo fisicamente. Algumas pessoas têm a personalidade forte e o síndico precisa ser uma pessoa calma, paciente e não levar determinadas situações para o “lado pessoal”.

Após alguns anos, entendi que é necessário ter absoluto controle da situação e, para isso, faz-se imprescindível que o síndico esteja sempre atualizado acerca da situação financeira do condomínio, sobre as relações entre os funcionários, quem são os moradores e inúmeras outras informações relacionadas ao condomínio.

Sempre ouvimos que quem grita perde a razão, por isso, evite se alterar, respire fundo e retome o controle da situação. Nenhum síndico consegue realizar todas as funções sozinho. É necessário que ele tenha um grande respaldo da administradora, dos funcionários que prestam serviços no condomínio, quais sejam, os auxiliares de limpeza, controladores de acesso, vigilantes, zeladores e gerentes prediais, bem como das empresas que prestam serviços de manutenção no condomínio, tais como elevadores, bombas, portões, interfones etc.

Tente conhecer pessoalmente os representantes das empresas para que a relação seja mais tranquila, converse com os funcionários, se aproxime dos moradores e tenha uma boa postura em assembleia, com transparência e honestidade. Quando somos sinceros sobre a real situação do condomínio, os moradores geralmente nos entendem. Faça com que todos participem da gestão, contribuindo de uma forma ou de outra.

Canos estourados, um momento potencialmente explosivo

No mês de junho de 2016, por exemplo, tivemos no condomínio no qual sou síndica um problema com a redutora de pressão, o que fez com que alguns apartamentos ficassem completamente sem o abastecimento de água devido ao estouro de um encanamento. Por sorte, temos chuveiro na academia e no banheiro infantil, por isso, liberamos estas áreas para que os condôminos pudessem realizar a higiene pessoal. Providenciei ainda um comunicado informando a todos sobre o problema.

Como alguns serviços precisaram se estender até a madrugada, fiz questão de acompanhar no local para que o conserto pudesse ser realizado o quanto antes. No primeiro dia em seguida aos reparos, o cano estourou novamente e, juntamente com o zelador, acabei me molhando um pouco. E, no segundo dia, o cano estourou novamente, agora completamente em cima de mim. Levei uma ducha de água fria em pleno inverno. Apesar de a situação ter me estressado, mantive o bom humor e registrei o momento. Podem observar na foto que estou com o cabelo molhado.

Síndica Irina logo após o segundo rompimento da tubulação

Depois de ter me trocado, ainda auxiliei o zelador a puxar a água que estava na garagem. Apesar do inconveniente, os condôminos entenderam a situação, pois nos colocamos inteiramente à disposição para auxiliar no que fosse necessário e também informei que poderia inclusive abrir o meu apartamento para que, aqueles que ainda estavam sem água, pudessem utilizar as torneiras e chuveiros.
Neste dia, eu joguei a toalha, mas foi apenas para me secar. Desejo que todos possam sempre se manter no controle para que seja possível realizar uma gestão tranquila e eficiente.


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Autor

  • Irina Uzzun

    Advogada sócia do escritório Irina Uzzun Sociedade de Advogados, professora universitária, pós-graduada em Direito Civil e Processual Civil pela Escola Paulista de Direito (EPD) e mestranda em Soluções Alternativas de Controvérsias Empresariais pela EPD. Irina Uzzun foi síndica orgânica do Condomínio The Spotlight Perdizes, em São Paulo, durante 5 mandatos seguidos. Atuou como síndica profissional.

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