Drogadição no condomínio: Ação Educativa & Prevenção

Psicólogo especialista em tratamento de dependentes químicos, Nelson Luiz Raspes disponibiliza inúmeros artigos sobre drogadição no site da Direcional Condomínios, com o intuito de municiar síndicos e familiares de informações que os auxiliem a enfrentar potenciais conflitos decorrentes do consumo de drogas nesses ambientes coletivos. E abaixo, em entrevista exclusiva à Direcional, Nelson volta a abordar o assunto com novos elementos. Confira.

Situações que favorecem o início da dependência química

“- Familiares: É muito comum que a dependência química possa vir de lares onde também existem pessoas portadoras da doença, como, por exemplo, alcoolismo. Este é uma doença que alguns estudos relatam ter origem genética, bem como a dependência de outras drogas também o são;

Se uma pessoa já tem a doença instalada, ao conhecer outra também usuária residente no condomínio, isso favorece a manutenção e o crescimento do problema, visto que muitas pessoas não assumem que são doentes químicos. E mesmo que assumam, continuarão o consumo por gostarem, iniciando o uso em áreas comuns no condomínio;

Na comunidade é muito comum vermos jovens e adolescentes fazerem uso de drogas livremente, e nas escolas é cada vez mais aberto esse problema. Consequentemente, essas pessoas irão continuar consumindo nos locais onde residem, e nos condomínios não é diferente;

O álcool ainda é uma das principais drogas de abertura para o consumo de outras substâncias, visto que é de fácil aquisição. O consumo ocorre cada vez mais precocemente. Nas idades de 10, 11 e 12 anos já vermos pré-adolescentes consumindo álcool em grande quantidade. A partir daí eles passam a conhecer outras drogas através de ‘amigos’, que provocam o desejo de manter o consumo não só do álcool, mas de outras substâncias, também sem se darem conta de estarem desenvolvendo a doença.”

O que o síndico pode fazer?

“Proibir o consumo de álcool dentro do ambiente condominial, como em festas particulares nas churrasqueiras ou salões de festas, não é a melhor solução, visto que é muito comum haver bebidas alcoólicas nesses eventos, salvo em famílias que não as consomem. A questão do alcoolismo é trabalhar orientação dentro das áreas do condomínio como forma preventiva. Por exemplo: Divulgar, através de murais, informativos aos moradores com orientações para um consumo moderado de bebidas alcoólicas, de forma simples e diretiva, conscientizando-os a colaborar neste trabalho. Mas é importante deixar claro que, caso haja alguma situação que esteja fora das regras do condomínio, que medidas serão tomadas para resolver o problema.”

Como abordar o adolescente?

“É sempre importante trabalhar com o adolescente de forma saudável e conscienciosa, por meio de atividades de lazer dentro dos condomínios, promoção de jogos em grupos e, eventualmente, fornecer materiais abordando os problemas decorrentes da doença, dentro de uma linguagem acessível. Isso contribui bastante para prevenir a proliferação do problema, mas não evita 100%. Porém, mais do que conscientizar os jovens, faz-se necessário também conscientizar os pais, pois esses não sabem lidar com o problema quando é descoberto e muito menos enfrentar. Por isso eles são também encaminhados para grupos de apoio para aprenderem a lidar não só com a doença, mas com o filho que está com a doença.”

Diálogo do síndico com o morador

“O vínculo que o síndico tenha com a família e/ou adolescente, sendo amigável, facilita a abertura ao diálogo em expor o que algo que o gestor tenha presenciado. Por ser uma situação delicada, cabe a ele conversar de forma assertiva, objetiva. O síndico, tendo conhecimento sobre a doença da adicção química, torna-se um grande ponto a favor, que pode ajudar nessa conversa.”

O que fazer em casos de uso reiterado de drogas nas áreas comuns?

“Nesta situação, é importante enfatizar as regras do condomínio e de que, caso sejam descumpridas, que medidas serão tomadas pela administração. Ou seja, é preciso trabalhar limites, conscientização e mudanças de comportamentos. Enfatizo ainda a possibilidade de sugerir à pessoa em questão, conforme o grau da relação do síndico com ela e seus familiares, que procure ajuda especializada para tratar sua doença.”

Como identificar a dependência química?

“Os dependentes químicos, de forma geral, têm características muito similares entre os quais podemos destacar:

> Manipulação;

> Mentira;

> Omissão; e,

> Fazer falsas promessas.

Resta ao síndico agir assertivamente nesses casos, com firmeza e conhecendo as características citadas. Isso pode ajudar ambos os lados, como forma de evitar ou mesmo haver a necessidade de tomar medidas necessárias em casos de descumprimento de um acordo entre ambos.”

Ações de conscientização

“A realização de palestras semestrais, por exemplo, contribui para conscientizar gestores e familiares. É possível ainda promover encontros mensais, bimensais, trimestrais ou semestrais com pessoas interessadas, ou aquelas que tenham familiares com a doença. Recomendo também utilizar materiais informativos, como folders aos condôminos e pequenas informações disponibilizadas nos murais. Por fim, destaco a necessidade de se realizar palestras com o corpo de funcionários, como forma de orientá-los e auxiliá-los nas diversas abordagens que surgirem.

De forma geral, as palestras deverão abordar:

> O que é Dependência Química?

> Causas e consequências;

> Principais drogas de consumo;

> Alcoolismo;

> Co-dependência familiar; e,

> Tratamentos e prevenção.


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Autor

  • Nelson Luiz Raspes

    Psicólogo com formação em Dependência Química pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). É especializado em Capacitação em Dependência Química pela Universidade de Santa Catarina. Atuou durante quinze anos junto ao Centro de Tratamento Bezerra de Menezes.