ABCD: Força para a região

Inicialmente conhecida como região industrial, o ABC se diversifica e vive boom do mercado imobiliário.

O corretor de imóveis Lucas Ocampo Istriani está satisfeito com os resultados do seu trabalho para a construtora M. Bigucci, uma das maiores do Grande ABC, na região metropolitana de São Paulo. “Estamos vendendo bastante, principalmente em Santo André”, diz. Istriani vende imóveis de médio padrão, com dois ou três dormitórios. Seu público é de classe média, muitos casais jovens, no início do casamento. O preço médio do apartamento é de R$ 180 mil, com 20% pago durante a obra. “Geralmente vendemos tudo antes de ficar pronto”, conta ele. O que acontece com este corretor não é um lance de sorte, mas o reflexo do bom momento do mercado imobiliário no ABC. O ano passado foi o melhor desde a década de 80, excedendo as expectativas da Associação dos Construtores, Imobiliárias e Administradoras do Grande ABC (Acigabc). 

O crescimento foi de 63% nos lançamentos e de 79% nas vendas, comparado a 2006. Isso significou mais 6.879 apartamentos na região, especialmente em São Bernardo, com 44% do total. Os imóveis mais procurados foram os de três dormitórios. O bom desempenho gerou um movimento de R$ 1,5 bilhão e foi influenciado, segundo a Acigabc, pela queda de juros, as facilidades de pagamento e a abertura de capital das construtoras. 

O Grande ABC, na Região Metropolitana de São Paulo, é formado por sete municípios: Santo André, São Bernardo, São Caetano, Diadema, Mauá, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra. A região começou a ser habitada na época do Brasil Colonial, no século XVI, por ser ponto de descanso das tropas portuguesas. O primeiro núcleo urbano se formou próximo a São Bernardo e São Caetano, mas depois de seguidos ataques de índios, a população se mudou para a comunidade de São Paulo de Piratininga, que originou a capital. Só no século XIX, com a chegada da ferrovia São Paulo Railway Company, para escoamento da produção agrícola, especialmente o café, a região voltou a ser habitada e ganhou infra-estrutura. A estrada de ferro atraiu muitas indústrias para o seu entorno e incentivou a vocação industrial.

O síndico José Carlos Belotto chegou ao ABC ainda criança, com os pais, que vieram de Araras, no interior de São Paulo. Morou em casa – tempo em que brincava na rua – e depois comprou um apartamento no centro de Santo André para morar com a mulher e a filha. Há dez anos ele atua como síndico. “O prédio tem 40 anos, mas eu moro lá há 22”, conta. Segundo Belotto, o edifício é um exemplo do que foi Santo André. “São 160 metros quadrados por apartamento, com três dormitórios: 42 unidades no total”, descreve. Outra grande vantagem, além do enorme espaço, é a localização, no centro, que permite fazer tudo a pé. A desvantagem, segundo ele, é que esses apartamentos têm apenas uma garagem: “Não se projetava a necessidade de mais vagas para o futuro”. E é exatamente a chegada dos carros que modifica, para pior, a vida de quem mora em condomínios do ABC, pois o tráfego intenso torna os deslocamentos mais difíceis. “Eu sou do tempo em que não tinha nem farol nas ruas”, lembra Belotto.

Um dos bairros mais recentes de Santo André, de alto padrão, é o Jardim, próximo ao centro, com uma avenida repleta de comércio e casas noturnas. “Ali a noite é agitada”, afirma. A grande mudança da região do ABC, segundo ele, é que antes era procurada por causa do pólo industrial, mas com a saída de muitas grandes empresas, agora é lugar de moradia, mesmo daqueles que trabalham na capital, como ele mesmo fez por mais de 30 anos. Um dos motivos é a qualidade de vida por um preço menor. E a tendência de todo o ABC aponta para o segmento de quatro dormitórios e empreendimentos de luxo que, segundo a Acigabc, representam 24% do total da região. Também estão previstos para os próximos anos grandes condomínios-clube, como indicativo do dinamismo do mercado imobiliário e interesse das grandes construtoras.


Matéria publicada na edição 126 jul/08 da Revista Direcional Condomínios

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