Entrevistas com os advogados Cristiano De Souza Oliveira e Michel Rosenthal Wagner
Os advogados Cristiano De Souza Oliveira e Michel Rosenthal Wagner defendem a firmeza, o diálogo e, quando necessário, a mediação diante dos conflitos no ambiente condominial. Mas Cristiano reluta em usar termos como “condemônios”, um chiste sugerido recentemente por uma médica psiquiatra, conselheira de um residencial localizado na Bela Vista, na região da Av. Paulista, em São Paulo. Já Michel diz que existe, de fato, uma síndrome antissocial na sociedade reconhecida pela literatura médica, a qual deve ser tratada pelo antídoto da educação.
A seguir, destaques das entrevistas de ambos, concedidas à Direcional Condomínios.
CRISTIANO DE SOUZA OLIVEIRA
– “Morar em coletividade é fácil, difícil é aceitar que se divide o espaço de sossego, salubridade e, o principal, os próprios conceitos de cada um. A lei não dispõe dos limites da tolerância, que são subjetivos e impactam sobremaneira no dia a dia de qualquer pessoa. Em um condomínio todos são iguais perante as regras (direitos e deveres) e há que se esforçar para ver que algumas diferenças de hábitos podem nos aborrecer, portanto, é preciso ter bom senso para saber o que é o nosso limite subjetivo e o que é o real. Portanto, não acredito em ‘condemônios’, mas que ocorrem visões deturpadas da realidade, que transformam um 6 em 9 em menos de 1 segundo.”
– “O abuso de um morador, quando visto como apenas um pedido, não é crime, pois a resposta do gestor pode ser um não. Agora, se o morador conhece os limites e os ultrapassa, isso deve ser alertado, assim como a reincidência da infração a uma norma. É preciso fazer o sistema ser respeitado sem diferenças.”
– “O síndico é um representante, ele possui o dever de manter todos iguais, inclusive ele próprio. É um gestor de conflitos, mas não um mediador, nem deve ser. Este profissional deve ser buscado para prevenção e não só correção, pois detém um conhecimento apurado em técnicas de comunicação, de como fazer as partes se exporem, manterem o foco e, principalmente, encontrarem uma saída para o conflito vivido na coletividade.”
MICHEL ROSENTHAL WAGNER
– “O abuso existe quando o indivíduo não está educado [preparado] para exercer os direitos, desconsiderando o outro que vive sob suas interferências. Vivemos em uma sociedade sociopata, em que ‘condemônios’ carregam, em algum grau, características de um transtorno de personalidade antissocial, uma síndrome classificada no CID 10f60.2 [classificação mundial da psiquiatria]. Há ainda outra patologia classificada no CID, caracterizada especialmente pelo desprezo às normas sociais e indiferença aos direitos dos outros. A educação seria um dos remédios para essa doença, ensinando as pessoas apenas a ser vizinhas.”
– “Cabe ao síndico ter controle emocional diante de indivíduos que desrespeitam a coletividade e acham que podem fazer o que querem. E para manter o controle interno, o síndico não pode ser angustiado no exercício das funções. Se estiver assim, deve chamar a assembleia, pois o que falta é a tentativa de conversar, as pessoas não sabem mais conversar, ficam só defendendo suas certezas e não têm se mostrado aptas a criar uma situação que seja boa para todas.”
Matéria publicada na edição – 226 de agosto/2017 da Revista Direcional Condomínios
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