Ações ambientais são necessárias e requerem planejamento

Os caminhos para tornar um condomínio sustentável podem ser árduos – até mesmo a coleta seletiva exige planejamento – mas não devem jamais desanimar os gestores.

Reciclagem de lixo

No Paisage, horta orgânica; cisterna com filtro, que coleta água das calhas para rega; contêineres espaçosos para acondicionar recicláveis

O síndico Sidclei Correia de Araújo se define como um apaixonado pelo meio ambiente. Gestor de seis condomínios residenciais, com os mais diversos perfis, localizados em Moema, Vila Nova Conceição, Jardins, Ipiranga, São Bernardo do Campo e Diadema, ele não mede esforços para colocar em prática iniciativas sustentáveis. Em um deles, o condomínio Paisage, com três torres e 156 unidades, Sidclei implantou desde reaproveitamento de água de chuva a coleta de óleo de cozinha usado e lixo eletrônico. Duas cisternas modernas, que possuem um sistema de filtragem, coletam a água das calhas da churrasqueira. “Aproveitamos a água para rega dos jardins e desenvolvemos uma horta orgânica”.

Sidclei prefere apostar não apenas em soluções mais usuais nos condomínios, mas também naquelas que exijam reciclagem específica, condição da coleta de esponjas de lavar louça ou do já mencionado lixo eletrônico. Para esses serviços, o síndico procura parcerias de empresas especializadas, como é o caso da HP, que coloca um contêiner no condomínio, para que os moradores dispensem computadores, monitores e outros eletrônicos. Segundo ele, a empresa coleta o material e ainda emite um laudo relacionando o que foi doado pelos moradores e um relatório do resultado da reciclagem, inclusive se comprometendo a deletar qualquer informação pessoal que tenha permanecido nos equipamentos. “A coleta seletiva é obrigatória e acredito que só é preciso disposição para que os condomínios a coloquem em prática”, diz Sidclei.

Outra medida do síndico, que ficava incomodado com o uso de sacos de lixo pelo condomínio, passou até a gerar economia. “O morador ensacava seu lixo que, por sua vez, era ensacado novamente. Agora o morador joga seu lixo direto em nossos contêineres. Fiz uma reforma na lixeira e o lixeiro engata o contêiner no caminhão, despejando todo o material. Acredito que em um ano iremos pagar o investimento feito no sistema e ainda retiramos 600 quilos de plástico que seriam despejados na natureza, eliminando o uso de sacos pelo condomínio”, explica.

PARCERIA PARA RECICLAR

Parcerias para reciclagem de lixo

Nas imagens, à esq., banner mostra etapas de atuação do Instituto Muda; ao lado, contêineres próprios para embalagens de refeições recebidas por aplicativo ajudam a reduzir a mistura de lixo orgânico com reciclável

Para a síndica profissional Karina Nappi, com 30 condomínios na carteira, a cultura da sustentabilidade nem sempre é simples de ser introduzida. Karina exemplifica com a reciclagem, que parece um conceito “batido”. “Mas não é tão simples. Temos condomínios antigos que nunca fizeram, outros que não têm espaço para a coleta, outros em que a rua não faz parte da coleta pública de recicláveis. Mesmo nos dias atuais, ainda é uma cultura difícil de ser implantada”, aponta.

Em dois dos condomínios que administra, o Bristol no Brooklin e o Chez Vous em Moema, Karina optou pela parceria com o Instituto Muda para começar a reciclagem. “O Instituto Muda coloca contêineres no condomínio e pagamos em média 10 reais por unidade condominial. Conforme o tamanho do condomínio, recolhem o material uma ou duas vezes por semana. E ao descartar seus recicláveis nos contêineres, o morador recebe de volta premiações.” A síndica elogia também os contêineres só para embalagens de refeições recebidas por aplicativo. “Reduz bastante a mistura de lixo orgânico com reciclável”, comenta Karina.

Sérgio Meira de Castro, diretor de Condomínios do Secovi-SP, acredita que muitos condomínios veem positivamente a ideia de contribuir com o meio ambiente e adotar medidas tais como a reciclagem. “Costumo dizer que o exemplo vem de baixo para cima: as crianças de hoje têm mais consciência ambiental e muitos moradores recebem puxões de orelhas dos filhos por não fazerem coleta seletiva”, conta.

Apesar da boa vontade, Sérgio acredita que em muitos casos uma ótima ideia morre por causa de uma péssima implantação. O diretor do Secovi comenta que é comum vermos cestos separados por plástico, papel, alumínio e vidro espalhados pelos condomínios: “Porém, em São Paulo não existe coleta segregada de lixo. Na hora da coleta, o material será misturado novamente.”

No dia a dia dos prédios, o que se vê são cestos lotados, porque geralmente são pequenos para a demanda, o que vai desestimulando os moradores. “A dica que dou aos síndicos é fazer um dimensionamento correto do material reciclável. Prefira o uso de tonéis ou contêineres grandes para o reciclado ou, se possível, uma sala ou lixeira separada para acondicionar até a coleta. Condomínios grandes podem optar por prensas para diminuir o volume do material, ou mesmo compactá-lo manualmente, já que a grande maioria dos condomínios tem coleta apenas semanalmente”, sustenta.

Mesmo iniciativas básicas de coleta seletiva devem ser encaradas por gestores e comunidade condominial como atitudes louváveis para a preservação ambiental – e não como fonte geradora de renda. Decididamente, defender a causa é um caminho sem volta e que costuma passar também pela economia no caixa do condomínio. É o caso das fontes alternativas de energia. Para Sérgio, o aumento da energia elétrica “furou” a previsão orçamentária da maioria dos condomínios e a expectativa para o futuro próximo é que suba acima da inflação. “Essa ameaça é real e já existem possibilidades para os edifícios serem autossuficientes energeticamente”, sentencia.


Matéria publicada na edição – 279 – jun/2022 da Revista Direcional Condomínios

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