Condomínios e adolescentes: será que a convivência pode ser saudável?
Eles são barulhentos e andam em turma. Em muitos prédios, os adolescentes são sinônimo de confusão e transtornos para síndicos e funcionários. Burlam o regulamento interno, causam danos ao patrimônio e frequentemente fazem pouco caso das repreensões. Para as psicólogas Patricia Cruz e Keila Carvajal Ângulo, os condomínios absorvem os jovens durante grande parte do dia. “As famílias buscam os condomínios justamente pela segurança e tranqüilidade. Essa realidade está gerando uma sobrecarga na administração de condomínios. Síndicos e zeladores se deparam com funções de orientação e imposição de limites para crianças e adolescentes. Condomínios e pais precisam se adaptar a essa nova situação”, admitem as profissionais, completando que os jovens têm necessidade de se ocuparem com algo que os estimulem e, por outro lado, grande facilidade em se conectar com estímulos negativos, que normalmente estão à disposição.
Para o psicoterapeuta Leo Fraiman, especialista em psicologia educacional, é comum o adolescente querer testar limites, ou mesmo não entender o porquê de certas regras. Segundo Fraiman, nessa fase da vida todas as estruturas corporais sofrem mudanças e por isso há também uma reforma no sistema de recompensa do cérebro, em que desejos, vontades e humores também se transformam. “Da infância até a idade adulta o núcleo acumbente, região no cérebro que regula o sistema de recompensa pelas experiências, ou seja, o prazer, perde cerca de 1/3 de seus receptores para dopamina. Isso significa que na adolescência é preciso muito mais estímulos para gerar a mesma sensação de prazer que era gerada anteriormente”, explica.
O psicoterapeuta completa que não se deve esperar que o jovem consiga fazer sozinho escolhas saudáveis o tempo todo. “Eles devem ser educados e seus pais também”, diz. Para Patricia e Keila, os pais devem se apropriar da responsabilidade pelas atitudes, educação e bem-estar de seus filhos, além de informar-se das regras do condomínio e transmiti-las a eles. “É preciso conscientização de que o condomínio não é só um ambiente para seus filhos estarem seguros. É preciso ocupar os jovens para que esse ambiente continue seguro”, acreditam. Foi o que ocorreu no condomínio onde Edna Marli Vitório Marthos é subsíndica. Com nove blocos, 540 apartamentos e uma grande população de adolescentes, o condomínio construiu uma quadra nova. “Tínhamos apenas uma quadra de areia para as crianças pequenas. Reformamos e hoje temos uma quadra para os menores e outra para os maiores, além do playground”, conta. Edna diz que a convivência com os jovens melhorou, fruto também de muito trabalho corpo a corpo. “Com o regulamento interno procuramos controlar a situação. Se algo acontece nas áreas comuns, a orientação é um funcionário chamar os pais. Na ausência deles, é feito um relatório por escrito, que é analisado pelo conselho. Só em último caso aplicamos multa”, explica Edna.
Algumas atitudes podem ajudar a con¬vivência, como promover atividades culturais e esportivas, marcar palestras sobre assuntos relacionados aos interesses dos adolescentes, e estimular inclusive que assumam tarefas no condomínio. Patrícia e Keila sugerem a indicação de um líder que pode funcionar como braço direito do zelador. “Ele seria um porta-voz dos adolescentes, escolhido pelos próprios amigos. Isso pode facilitar a relação de adultos e adolescentes”, afirmam as psicólogas. Porém, elas admitem que as regras de convivência precisam estar muito claras para todos, pais, jovens e funcionários. Leo Fraiman concorda que prevenir, oferecendo áreas comuns apropriadas para a diversão dos adolescentes, é importante. Mas, para o especialista, a prevenção é tão importante quanto a repressão. “Estamos num grau tão aviltante com relação a certos padrões morais e sociais que é preciso agir nas duas pontas: reprimir e prevenir. Educar é sempre um processo de longo prazo com efeitos diretos e indiretos. O que não pode acontecer é os bons moradores pagarem sempre pelos estragos de comportamentos e atitudes inadequadas de outros. Suas famílias, ou eles mesmos, devem reparar os danos que cometem, sejam estes morais ou mesmo patrimoniais”, sustenta.
Matéria publicada na edição 126 jul/08 da Revista Direcional Condomínios
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