A conta de água representa de 10% a 15% do total das despesas ordinárias de um condomínio. Portanto, mesmo uma pequena economia no consumo pode representar uma boa redução de custo. Segundo um relatório coordenado pela Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura), se medidas urgentes não forem tomadas para implementar o uso racional dos recursos hídricos, até 7 bilhões de pessoas poderão conviver com a falta de água no ano 2050. O número corresponde aos habitantes de 60 países, ou 75% da população mundial. “Nenhuma região será poupada do impacto dessa crise, que toca todas as facetas da vida, da saúde das crianças à capacidade das nações de providenciar comida”, disse o japonês Koichiro Matsuura, diretor-geral da Unesco. Conforme o relatório, “problemas de postura e de comportamento estão no centro dessa crise: inércia dos governantes e uma população que ainda não se deu conta da escala da calamidade”.
Portanto, ninguém está livre do fantasma da falta de água.
A SITUAÇÃO DO BRASIL
O Brasil detém 11,6% da água doce superficial do mundo. Os 70% da água disponível para uso estão localizados na Região Amazônica. Os 30% restantes distribuem-se desigualmente pelo País, para atender a 93% da população. São Paulo vive uma situação especialmente crítica. Afinal, há muito tempo a capital paulista não é mais a cidade da garoa. Com grandes áreas impermeabilizadas, São Paulo se tornou uma cidade árida. O desmatamento e o crescimento populacional desordenado, sem nenhum respeito ao meio ambiente, modificaram o ciclo da água, opina Francisco Buonafina, diretor da Universidade da Água, uma ONG (Organização Não Governamental) fundada em 1998 e que tem como principal objetivo, a educação para a economia de água. “São Paulo hoje é tão árida quanto o Nordeste. A disponibilidade de água na cidade é de 200 m3 por habitante por ano, enquanto a ONU recomenda 1500 m3 por habitante por ano”, compara.
Francisco está convencido de que a educação é a única forma de se mudar o comportamento da população em relação à água. A Universidade da Água faz um trabalho com jovens estudantes, conscientizando-os e sensibilizando-os para a necessidade da preservação da água. “Queremos multiplicar a idéia entre as pessoas. Por isso, criamos grupos de trabalho dentro da própria escola”, comenta. O modelo pode ser utilizado também para conscientizar moradores de condomínios. O síndico deve começar o processo, criando ações no condomínio que visem a economia de água. “Há técnicas eficazes para mobilizar os condôminos, como buscar a participação dos jovens, que têm a motivação necessária, e dos moradores da terceira idade, que possuem mais tempo disponível”, recomenda.
O QUE O SÍNDICO PODE FAZER PARA ECONOMIZAR
A conta de água representa de 10% a 15% das despesas ordinárias dos condomínios. É um valor expressivo e, portanto, deve estar sempre na pauta do síndico, como um item a ser observado, buscando redução de custo. Mobilizar a população condominial para a necessidade de economizar água deve fazer parte das preocupações de todo síndico. Uma idéia é fixar nos quadros de avisos quantos metros cúbicos de água o condomínio conseguiu economizar no último mês. Um exemplo de solução simples e barata é o uso de arejadores nas torneiras, uma tela que o próprio morador pode comprar em lojas de material de construção e instalar facilmente. A tela funciona misturando ar na água, produzindo um efeito de jato forte, porém com menos consumo de água.
Os registros reguladores de vazão também são de fácil instalação: colocados entre o flexível e a parede, eles regulam a quantidade de água que passa pela torneira, mantendo a sensação de conforto para o banho, por exemplo.
Outra sugestão é procurar fabricantes de metais e louças sanitárias, que podem orientar gratuitamente o zelador com dicas para obter o melhor uso dos equipamentos.
Vasos sanitários antigos precisam em média de 30 litros de água para efetuar uma limpeza. Modelos novos gastam apenas 5 a 6 litros. As caixas acopladas também são mais econômicas do que as tradicionais válvulas de descarga. Porém, precisam de uma regulagem adequada para aliar eficiência e economia.
Segundo o engenheiro Milton David Jr., especialista em instalações hidráulicas, nos andares mais altos do prédio a pressão de água é menor. Por isso, a caixa acoplada precisa de um nível maior de água para trabalhar. Inversamente, nos andares mais baixos a pressão é maior e, logo, a caixa pode trabalhar com um nível menor. “Só que o fabricante não entrega as caixas com essa regulagem e o condomínio acaba gastando água à toa”, diz Milton, que desenvolveu um sistema de regulagem para que as caixas acopladas trabalhem com menos água em cada descarga. O engenheiro está acostumado a atender condomínios com consumo excessivo de água e que procuram meios de economizar. Ele traça um histórico do prédio a partir das seis últimas contas de água, registrando o valor da conta e o consumo em metros cúbicos. A partir daí, Milton faz uma revisão em todos os apartamentos e na área comum.
Agora, se o síndico desconfiar que o consumo de água de seu condomínio anda alto demais, pode solicitar uma visita da Sabesp, que ajudará a encontrar as causas do desperdício. Essa iniciativa da Sabesp faz parte do Programa de Uso Racional de Água (PURA), adotado desde 1995. A idéia é buscar soluções para a diminuição do consumo de água, por meio da detecção e reparo de vazamentos, campanhas educativas, troca de equipamentos convencionais por equipamentos economizadores de água e estudos para reaproveitamento de água. Conforme o problema do condomínio, o retorno do investimento para a implantação do PURA é rápido e, segundo a Sabesp, em alguns casos imediato.
REAPROVEITAMENTO DA ÁGUA
O reuso da água é uma opção viável, especialmente para fins não potáveis, como regar jardins ou lavar garagens.
Dos 200 litros diários de água gastos numa residência brasileira, 27% se destina ao consumo (cozinhar, beber água), 25% a higiene (banho, escovar os dentes), 12% é usado na lavagem de roupa, outros 3% em lavagem de carro e finalmente 33% nas descargas de banheiro. Ou seja, se as águas servidas (que são as águas resultantes de lavagens e banho), fossem reutilizadas para a descarga de vasos sanitários, conseguiria se economizar 1/3 da água consumida.
Segundo a Sabesp, a reutilização da água apresenta atrativos como menor custo, confiabilidade tecnológica e suprimento garantido. No aspecto qualidade, os riscos inerentes são gerenciados com adoção de medidas de planejamento, monitoramento, controle e sinalização adequados. Os principais processos industriais que permitem o uso de água reciclada são os de produtos de carvão, petróleo, produção primária de metal, curtumes, indústrias têxteis, químicas e de papel e celulose. Há também a possibilidade de fornecimento da água reciclada para outros segmentos. A prefeitura de São Caetano do Sul utiliza a água produzida na Estação de Tratamento de Esgotos do ABC para lavagem de ruas e pátios, irrigação e rega de áreas verdes, desobstrução de rede de esgotos e águas pluviais e lavagem de veículos.
A reutilização da água – seja da água servida ou da água de chuva – ainda é uma realidade distante dos condomínios. “Os edifícios que não foram planejados para isso precisarão de obras, como a criação de uma rede de captação, tratamento e bombeamento da água. É um custo alto para prédios antigos, porém é uma tendência já notada em construções novas”, comenta Guilherme Ribeiro, diretor de desenvolvimento setorial do Secovi-SP.
Porém, há casos em que soluções simples resultam no aproveitamento de água que até então era jogada fora. É o caso de um condomínio comercial localizado na região dos Jardins, em São Paulo. Durante anos, um enorme reservatório, com 3 metros de profundidade, 3 de largura e 3 de comprimento, recebia a água do lençol freático que minava no prédio. Quando chegava a um determinado nível, essa água era enviada para o esgoto através de uma bomba. Resultado: a água ia embora sem nenhuma utilização. “Com um investimento de R$ 1.500, para a compra de uma bomba de sucção e de 150 metros de mangueira, estamos lavando garagens, o térreo, a calçada e regando o jardim”, explica Edson Peixoto, administrador e síndico do edifício. Edson estima em 5 mil litros diários de água a economia gerada desde que o condomínio começou a utilizar a água do reservatório. “Atualmente, sem chuvas, o reservatório está seco. Mas, com chuvas frequentes ele enche rapidamente e não desperdiçamos mais água”, completa.
MEDIÇÃO INDIVIDUALIZADA
Com esse sistema, acabou o problema de pagar água a mais ou a menos. Cada condômino tem seu hidrômetro e paga só o que usar.
Para condomínios que pensam em investir realmente na economia de água, a medição individualizada de água é um bom caminho. “É um sistema que permite quantificar o consumo por apartamento. O condômino só paga o que usar”, esclarece Milton David Jr., engenheiro especializado em instalações hidráulicas. Infelizmente, instalar esse método de medição em prédios antigos na maioria das vezes se torna inviável financeiramente, já que é preciso colocar um hidrômetro em cada coluna. “Há prédios com até sete colunas de água por apartamento. O aspecto civil da obra tem um custo muito alto”, comenta Ricardo Ferreira Marques, engenheiro do Liceu de Artes e Ofícios, que há 80 anos produz hidrômetros. Hoje, a empresa fabrica 100 mil hidrômetros por mês, que abastecem companhias de saneamento de todo o Brasil e são, inclusive, exportados.
Ricardo estima que, atualmente, 60 prédios novos em São Paulo tenham a medição individualizada. “Em 1998, foi feita uma lei municipal, a 12.638, que obrigava as construtoras a entregarem seus prédios com previsão de instalação dos medidores individuais”, lembra o engenheiro. Porém, essa lei não foi regulamentada. São Paulo está atrás de cidades como Guarulhos, onde desde 1994 os condomínios novos são obrigados a ter a leitura de água individual, e Recife, onde estima-se em mais de 2 mil o número de prédios antigos adaptados. Aliás, em Recife e Olinda os construtores são obrigados a entregar os prédios novos com a medição individual, devido a uma lei sancionada no início de 2002.
COMO FUNCIONA A MEDIÇÃO INDIVIDUAL
Mas, na prática, como funciona a medição individual? “Desenvolvemos um sistema computadorizado, onde o hidrômetro está dentro do apartamento mas não é preciso fazer a leitura visual. Ela é feita remotamente”, explica o engenheiro. O Liceu de Artes e Ofícios (LAO) fornece, para a instalação do sistema, os equipamentos, o apoio logístico e técnico da obra. O condomínio contrata uma empresa terceirizada para fazer as adaptações necessárias dentro dos apartamentos.
Além de permitir uma forma mais justa do pagamento da conta, o sistema torna mais fácil a identificação de vazamentos. Num prédio comercial no bairro de Santana, em São Paulo, o LAO instalou o sistema. Depois de dois meses o condomínio continuava com a conta de água alta. “Com o sistema, detectou-se um vazamento na área comum. A conta caiu mais de 50% e em seis meses o condomínio pagou o que investiu”, conta Ricardo.
O engenheiro cita outro exemplo. Um edifício residencial em São Paulo com 36 apartamentos de alto padrão, com 190 metros quadrados de área útil, tem uma conta total de água de R$3.200,00. Os apartamentos têm medidores individuais. Através deles, é possível conhecer o apartamento mais econômico e o que mais consome água. “O zelador consegue controlar também o que gasta nas áreas comuns. Segundo levantamento da administradora do prédio, um condomínio sem esse controle gastaria cerca de R$ 4.500 mensais de água”, compara.
VAZAMENTOS
Uma revisão mais simples – e preventiva – pode ser feita pelo zelador. Ele pode vistoriar os apartamentos periodicamente, cuidando de procedimentos simples, como a troca de corinhos das torneiras, por exemplo. Nessas vistorias podem ser detectados vazamentos. Aliás, o grande vilão quando se fala em consumo excessivo de água é o vazamento. Para enfrentar o problema, informação é fundamental. A Sabesp oferece, desde 1992, um curso de pesquisa de vazamento e uso racional da água. “O grande objetivo do curso é fazer com que o síndico e o zelador falem a mesma linguagem do encanador”, comenta Ricardo Reis Chaim, engenheiro do departamento de suporte operacional e qualidade da Sabesp. O curso é gratuito, tem duração de 4 horas e, para se inscrever, basta ligar para o disque Sabesp, pelo telefone 0800-119911, ou pessoalmente em qualquer agência da Sabesp.
Como verificar vazamentos em reservatórios de edifícios
1º – Feche o registro de saída do reservatório do subsolo.
2º – Feche completamente a torneira da bóia.
3º – Marque no reservatório o nível da água e, após 1 hora, no mínimo, veja se ele baixou.
4º – Em caso afirmativo, há vazamento.
DICAS DE ECONOMIA
– Regar o jardim durante 10 minutos representa o gasto de 186 litros de água. Para economizar, a rega durante o verão deve ser feita de manhãzinha ou à noite, o que reduz a perda por evaporação. No inverno, a rega pode ser feita dia sim, dia não, pela manhã. Mangueira com esguicho-revólver também ajuda. Assim, pode-se chegar a uma economia de 96 litros por dia.
– “Varrer” a calçada usando o esguicho é outra maneira fácil de desperdiçar água. Durante 15 minutos, lá se vão 279 litros de água. Usar apenas a vassoura causa o mesmo efeito e nenhum desperdício.
– Se uma pessoa escova os dentes em 5 minutos com a torneira meio aberta, gasta 80 litros de água. No entanto, se molhar a escova e fechar a torneira enquanto escova os dentes e, ainda, enxaguar a boca com um copo de água, consegue economizar mais de 79 litros de água. Se isso for multiplicado pelo número de pessoas da residência e, depois, por 30 dias, pode-se ter uma idéia da economia também na conta de água.
– Ao fazer a barba em 5 minutos, com a torneira meio aberta, consome 80 litros de água. Já lavar o rosto da mesma maneira gasta 16 litros de água. A dica é colocar um tampão na pia e fazer dela um tanquinho. Resultado: o gasto para fazer a barba cai para 2 litros de água!
– Um banho de ducha por 15 minutos com o registro meio aberto leva para o ralo 243 litros de água. Se o tempo de banho for de 5 minutos, fechando a ducha ao ensaboar-se, o consumo cai para 81 litros.
– No caso de banho com chuveiro elétrico, também em 15 minutos, com o registro meio aberto, são gastos 144 litros. Com os mesmos cuidados que com a ducha, o consumo cai para 48 litros.
– Capa de proteção na piscina evita perda da água por evaporação.
– Inscreva seu condomínio no Cadastro de Tarifa Econômica da empresa fornecedora de água, apresentando os seguintes documentos: planta do edifício aprovada pela Prefeitura do Município ou Declaração do Síndico, relacionando a quantidade de apartamentos existentes no edifício; cópia da ata de eleição do síndico e a última conta de água paga. Esses documentos devem ser entregues na Regional de atendimento do bairro em que está localizado o condomínio.
CURIOSIDADES SOBRE A ÁGUA E SEU USO
· Há 2.000 anos, a população mundial correspondia a 3% da população atual. Enquanto isso, a disponibilidade de água permanece a mesma.
· A partir de 1950 o consumo de água, em todo o mundo, triplicou.
· Para cada 1.000 litros de água utilizada pelo homem resultam 10.000 litros de água poluída (segundo dados da ONU, de 1993).
· No Brasil, mais de 90% dos esgotos domésticos e cerca de 70% dos efluentes industriais não tratados são lançados nos corpos d’água.
· O homem pode passar até 28 dias sem comer mas apenas 3 dias sem água.
· Gotejando, uma torneira chega a um desperdício de 46 litros por dia ou 1.380 litros por mês ou mais de um metro cúbico por mês. O que significa uma conta mais alta.
· Desperdiçar um filete de água de mais ou menos 2 milímetros totaliza 4.140 litros num mês.
· E um filete de 4 milímetros, 13.260 litros por mês de desperdício.
· Um buraco de 2 milímetros no encanamento pode causar um desperdício de 3.200 litros por dia, isto é, mais de três caixas d’água.
Fontes: Universidade da Água / SABESP / UNESCO
Matéria publicada na edição Nº 70 em novembro de 2003 da Revista Direcional Condomínios