Aumento das contas d’água no período da quarentena deverá levar os condomínios a reverem estratégias relacionadas ao seu consumo e medição.
Síndica Maria da Conceição Galli: Condomínio teve recorde de consumo no mês de abril de 2020, um ano depois de rejeitar investimento para individualizar leitura
Quando QUIS propor um retrofit hidráulico em assembleia do condomínio onde mora, na zona Sul de São Paulo, a síndica Maria da Conceição Campello de Souza Galli esperava preparar a infraestrutura necessária para individualizar a leitura do consumo da água no prédio. Mas no encontro ocorrido em abril de 2019, exatamente um ano antes do primeiro mês cheio da quarentena motivada pela pandemia do novo Coronavírus, o assunto sequer foi abordado. Havia outros investimentos também necessários, como a regularização do Auto de Vistoria do Corpo de Bombeiros (AVCB), que ganhou prioridade. A única medida aprovada para 2019 em relação ao consumo d’água foi a contratação de um serviço de caça-vazamentos, no mês de dezembro (que não encontrou qualquer anormalidade nas instalações).
Para a síndica, promover a individualização é fundamental para reduzir o consumo e os gastos do prédio, que possui uma média elevada para as suas 32 unidades, cerca de 700 m3 ao mês. Em 2015, no auge da crise nos reservatórios de São Paulo e, mediante medidas de contenção nas áreas comuns e apartamentos, o consumo baixou a 397 m3. Voltou a subir depois. Na quarentena, em que a maior parte das pessoas está dentro de casa em tempo integral, estudando e/ou trabalhando, o consumo foi de 843 m3 no último mês de abril (conta de R$ 8.260,08).
O condomínio possui uma espécie de gatilho, quando o valor supera o teto de R$ 5 mil, a diferença é cobrada como rateio extra. Sobre março passado, que teve dez dias de quarentena, já houve um rateio de R$ 52,00 por apartamento. Para a síndica, o excedente gerado pelo consumo elevado, fruto de maus hábitos de alguns moradores, pagaria, com o tempo, o investimento no retrofit hidráulico e na individualização. Maria da Conceição afirma que as ações que poderia adotar nas áreas comuns para reduzir a demanda já foram implantadas, e reitera que o caminho é a individualização, assunto que pretende reapresentar em assembleia no condomínio.
Individualização
A individualização da leitura do consumo da água nos condomínios verticais ocorre de duas maneiras: Através de um sistema “privado”, onde se adquire a tecnologia de uma empresa de serviços, que, em geral, também realiza a leitura (nesse caso, entra uma conta única da concessionária, que é cobrada de acordo com o consumo de cada unidade); ou por meio de um parceiro da própria concessionária, que emite a conta individualmente para o condômino.
O síndico profissional Carlos Abreu está administrando neste momento a implantação do modelo da concessionária no prédio de 50 apartamentos que administra no bairro de Pinheiros, zona Oeste de São Paulo. O gestor observa que o momento de transição traz distorções, tanto na leitura da concessionária em relação ao volume total que entra no prédio (de um mês para outro, por exemplo, o valor da conta saltou de R$ 2 mil para R$ 23 mil no condomínio), quanto na leitura do hidrômetro da unidade. “Há diferenças muito grandes de um apartamento para outro, um com mais pessoas em casa pagando menos que outro que tem apenas um casal. A empresa [gestora da medição dos hidrômetros individuais] diz que está tudo bem, mas é isso que os condôminos não aceitam e o síndico também não pode aceitar. Não podemos simplesmente nos acomodarmos com o erro, temos que ir atrás e descobrir”, diz o gestor.
Para o síndico profissional Paulo Moraes, passada a fase de ajustes e transição, a individualização representa um sistema de cobrança mais justo e torna as pessoas mais conscientes em direção a um consumo racional.
Matéria publicada na edição – 257 – junho/2020 da Revista Direcional Condomínios
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