Aldo Busuletti: “Quero compartilhar conhecimento Para que a sindicatura seja exercida Com mais profissionalismo e fique mais Bem-vista no mercado condominial”

Aldo Busuletti, 60 anos, diz que é grande o despreparo dos novatos.

Síndico profissional Aldo Busuletti

Aldo Busuletti: quase três décadas em condomínios

“Eu cresci brincando no quintal da casa dos meus pais no Mandaqui, na zona norte. Para mim, apartamentos eram caixas sobrepostas, moradias sem liberdade. Eu mal sabia que um dia os condomínios seriam parte da minha trajetória. Neste mês faz 24 anos que emiti a minha primeira nota fiscal como síndico profissional. Embora eu tenha aberto a minha primeira empresa em 08/04/1999, eu havia ingressado no ofício dois anos antes, por indicação decorrente de atuação orgânica iniciada em 1996. Já são quase três décadas em condomínios. Sou síndico profissional, empresário, consultor e palestrante. Quero compartilhar conhecimento para que a sindicatura seja exercida com mais profissionalismo e fique mais bem-vista no mercado condominial.

Antes de chegar aos condomínios percorri outros caminhos, mas tudo que fazemos na vida é correlato. O conhecimento adquirido é correlato, e você se vale disso em determinados momentos. Eu gosto muito de ler, estudar, aprender. Já fiz curso de neurolinguística, tenho formação de coaching e tive aulas de oratória. Aos 48 anos, me graduei em Direito para ter uma ferramenta extra de compreensão e trato nas questões condominiais. Antigamente, advogados só se envolviam com cobranças em condomínio, mas e quanto aos vícios construtivos ou problemas de vizinhança, por exemplo? Por isso fui estudar à noite para aprender e assim conseguir entender melhor os advogados que eu porventura contratasse para problemas nos meus condomínios e interagir com conhecimento.

A minha família vem do comércio. Na década de 1950, o meu pai vendia fígado em uma carrocinha. Depois conseguiu emprego em um açougue, e acabou se tornando proprietário. Ele era filho de italiano, e minha mãe era baiana. Meus pais tiveram quatro filhos, todos meninos, e o entendimento lá em casa era: ‘Quer um calçado novo? Vai trabalhar que você compra’. Sou o primogênito e comecei a trabalhar com 9 anos. Eu subia em um banquinho e ficava em pé para cortar jornais no balcão, que seriam usados para embrulhar a carne. Depois fui galgando outras funções como fazer entregas de bicicleta; limpar e cortar a carne; fazer linguiças, e aos 15 anos estava apto a tomar conta do açougue. Mas o meu pai queria filho engenheiro, então, após servir o exército, prestei vestibular e fui aprovado na FEI, uma festa aquele dia!

Como engenheiro, trabalhei por alguns anos na Itautec, um braço tecnológico do banco Itaú. Mas para ser promovido lá dentro, tive de fazer uma faculdade de Ciências Humanas, então cursei Economia. Passado algum tempo, meu pai quis saber meu salário e na hora me sugeriu trocar o banco por um açougue. Tive açougue, rotisseria e mercado com padaria. Fui aprender a cozinhar para fazer massas porque se você quer fornecer um serviço, tem de ser bem-feito. Quando vieram os condomínios, muitas vezes eu chegava às reuniões usando avental. As pessoas riam, mas o Aldo daquela época era assim. Depois houve um aprimoramento no conhecimento e na forma de me apresentar.

Eu me casei no início dos anos 1990, e minha esposa, à época, ficou muito impressionada com uma tentativa de assalto à nossa casa. Então comecei a procurar um apartamento. Os condomínios-clubes ainda não eram tendência forte, o que começou a se consolidar em meados dos anos 2000 – inclusive, com esse boom, tive o privilégio de ser convidado por uma construtora para implantar o Plaza Mayor Ipiranga, condomínio de classe-média alta com sete torres.

Lá atrás, em 1996, por sorte encontrei o Residencial Renascença, em Santana, um condomínio com três torres, com 196 apartamentos no total, em um terreno de cerca de 25 mil m². Tinha piscina semiolímpica, quadra de futebol e de squash. Eu nem sabia o que era squash (risos), mas me senti à vontade para morar lá. O senão veio na hora da entrega do condomínio, pois ninguém queria ser síndico. Na terceira reunião da construtora sobre o mesmo assunto, me candidatei porque precisava me mudar. Pensei em ficar três meses e pular fora, mas o conselho me convenceu a esperar completar um ano. A convenção determinava que as eleições fossem anuais. Fiquei 18 anos consecutivos.

Eu tinha noção de gestão, que trouxe da Itautec; de estoque e do trato com funcionários, que trouxe do comércio. Só que o condomínio era gigantesco, com mais de 20 funcionários, e a administradora tinha uma estrutura pequena para aquele empreendimento. Os conhecimentos correlatos me ajudaram, mas ainda assim os três primeiros meses foram de arrancar os cabelos! Porém, eu tive um anjo que pousou ali, o Sr. Pedro. Ele era zelador em um prédio próximo e veio me pedir emprego. Aprendi tanto com ele! Outro fator determinante para o êxito da gestão foi a substituição da administradora. Dentre as selecionadas, fechei com a única que se dispôs a conversar comigo em um domingo à tarde, depois que eu fechasse o comércio. Não à toa, hoje é uma das maiores do mercado.

Por meio de um contato dessa administradora, um ano depois fui indicado para assumir um condomínio horizontal, com 60 casas, no Horto Florestal. Eu era tão ingênuo que questionei: ‘Mas como vou ser síndico se eu não moro lá?’. Outra dúvida da época: como precificar esse trabalho? Eu não tinha a menor noção, mas como sempre gostei muito de motos, fui a uma concessionária saber quanto custaria um modelo de 500 cilindradas, dividido em 24 parcelas. Usei esse cálculo para cobrar por dois anos de gestão, e assim peguei meu segundo condomínio. O terceiro veio logo atrás, um prédio de alto padrão em Santana. Quando abri minha empresa, já estava com oito condomínios em pontos variados da cidade, que visitava de moto.

Com o tempo, deixei o comércio para me concentrar só na gestão dos condomínios. Em 2009 fundei uma empresa de sindicatura com síndicos associados, e hoje cuidamos de mais de 100 condomínios. Mas o crescimento da empresa não está focado em pegar novos condomínios, e sim em manter os contratos que temos. Vejo novos síndicos, recém-saídos de cursos teóricos, assumindo condomínios sem a menor experiência, manchando o nome da categoria com má gestão. A forma mais adequada de ingressar no segmento é fazendo antes um estágio nas boas empresas do setor, ou como preposto. Também digo para síndicos mais jovens que não deixem de buscar conhecimento. Eu o faço até hoje! O dia que eu perder a gana, é melhor parar de trabalhar. Por ora, vou trabalhar como um cara de 25 anos para continuar aprendendo”.

Aldo Busuletti, em depoimento concedido a Isabel Ribeiro


Matéria publicada na edição 288 abr/2023 da Revista Direcional Condomínios

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