Síndicos se articulam com a comunidade, reforçam os sistemas de segurança e buscam conhecer o chamado modus operandi do crime para dificultar a ação das quadrilhas que se “especializaram” em arrastões.
No bairro do Itaim Bibi, 103 condomínios aderiram ao programa Vizinhança Solidária, alguns deles representados pelos síndicos que participaram no mês de julho de reunião de trabalho com a equipe da 2ª Companhia do 23º Batalhão da Polícia Militar. Na imagem acima, ao fundo, o comandante da unidade – Capitão Marcos Daniel Fernandes – e, à direita da foto, o cabo Sérgio Martins, responsável pelas palestras dadas aos porteiros. Entre os síndicos, da esquerda para a direita, Maura Carvalho, Luzia Maziero Fernandes, Elizabeth Langendoerfer, Maristela Campos Bernardo, Sílvio Freitas e Diva Zamboti Agostinho
Os arrastões em condomínios resultam de ações previamente planejadas, a partir de informações privilegiadas que as quadrilhas obtêm acerca das condições de segurança do empreendimento e suas rotinas, bem como sobre o perfil de patrimônio e renda dos moradores, descreve o delegado da Polícia Civil e consultor na área, Luís Renato Mendonça Davini. Segundo ele, que ministra treinamentos periódicos promovidos pela revista Direcional Condomínios a síndicos, zeladores e porteiros, “o crime não para de se aprimorar” e escolhe seu alvo “mediante análise de risco”. Assim, “quanto mais atualizado estiver o profissional no condomínio, mais preparado ele estará e maiores dificuldades apresentará à ação do bandido. E são as dificuldades que afastam os bandidos”, reitera Davini.
O mesmo diagnóstico é apresentado pelo Capitão Marcos Daniel Fernandes, comandante da 2ª Companhia do 23º Batalhão da Polícia Militar, que desde 2009 lidera o Programa Vizinhança Solidária, no bairro do Itaim Bibi, zona Sul de São Paulo. “Em 95% dos casos, o bandido tem informação privilegiada do condomínio; ele não vai tentar ação na sorte, para então saber que tipo de pessoa mora lá”, observa o oficial. O programa já ultrapassou a marca dos 100 condomínios participantes e acabou inspirando, juntamente com outra experiência semelhante de Santo André, sua adoção pela Diretoria de Polícia Comunitária e Direitos Humanos, que resolveu expandi-lo a todas as companhias do Estado de São Paulo.
Finalmente, o Major da PM José Elias de Godoy, autor, entre outros, do livro “Técnicas de Segurança em Condomínios” (Editora Senac), destaca que nessas ocorrências, que ele define como “profissionais”, busca-se uma informação prévia, “porque os bandidos querem fazer um planejamento para atuar de forma mais direcionada, sabendo o que obterão de rentável e a resistência que encontrarão”. Mas Elias de Godoy alerta que a maior parte dos ilícitos nos condomínios ainda ocorre sob forma de ações eventuais (ou de oportunidade), em que o bandido age conforme a facilidade que ele percebe “para entrar e sair”, bem como “pela rapidez” com que poderá cometer o crime.
O fato é que os condomínios se preparam cada vez mais para dificultar a ação dos bandidos. O número de casos na Capital paulista em 2013, registrados pela Delegacia de Repressão a Furtos Qualificados (4ª Delegacia), do Departamento de Investigações Sobre Crime Organizado (DEIC), parece seguir em um ritmo um pouco menor que do ano passado, quando o órgão computou 19 arrastões, 18 deles esclarecidos. Neste ano, pelas contas da delegacia, houve sete ocorrências até o dia 17 de julho, cinco esclarecidas. Mas levantamento realizado pelo Portal G1 indica nove arrastões e duas tentativas nos cinco primeiros meses de 2013, um deles no próprio bairro do Itaim Bibi.
De acordo com a síndica Maristela Campos Bernardo, que coordena um dos bolsões do Vizinhança Solidária do bairro, os condomínios da área de influência do programa não têm registrado qualquer tipo de ação marginal nos últimos anos. O próprio comandante da PM na região diz que as ocorrências nas ruas, neste ano, caíram 18% em relação ao mesmo período de 2012. “O programa acaba beneficiando todo um contexto de bairro”, diz. Baseado no treinamento dos funcionários, ele cria rotinas de vigilância, em que o porteiro se habitua a olhar para a rua e o vizinho, identificando qualquer evento que saia da normalidade de seu entorno. “Ninguém melhor que o porteiro para saber o que é normal e anormal na rua. E o que sai da normalidade torna-se suspeito”, explica o oficial, lembrando que as rondas dos policiais nem sempre conseguem identificar potenciais ocorrências, já que são os funcionários que conhecem, de fato, os hábitos e fisionomias de moradores, comerciantes locais e colegas de trabalho dos demais condomínios.
Fotos: Rosali Figueiredo
Matéria publicada na Edição 182 da Revista Direcional Condomínios.