Álbum de família: Alexandre Rossi com Barthô e a finada Estopinha, a pet influencer que deixou saudades em milhões de seguidores.
A verticalização das cidades é uma realidade, mas isso não significa que devamos abrir mão do vínculo profundo e benéfico que compartilhamos com os animais domésticos. O desafio que se apresenta é o de quebrar velhos paradigmas e entender, por exemplo, que a felicidade de um cachorro não se mede em metros quadrados, mas sim na qualidade do cuidado, do afeto e dos estímulos que ele recebe.
Um dos maiores preconceitos que cercam a vida de cães em condomínios é a ideia de que apartamentos são ambientes inadequados para eles. Acredita-se que um espaço reduzido seja sinônimo de um animal infeliz ou problemático. Essa é uma visão simplista que ignora o fator mais importante na equação do bem-estar canino: um tutor dedicado e informado, que atenda às necessidades físicas, mentais e sociais do cão.
O segundo grande tabu é a crença de que a presença de animais inevitavelmente gera conflitos com vizinhos. É verdade que latidos excessivos, sujeira em áreas comuns ou comportamento agressivo podem causar atritos. No entanto, não são uma sentença, mas questões comportamentais que podem e devem ser manejadas.
A convivência harmoniosa entre cães, tutores e vizinhos em um condomínio se constrói com informação, educação e responsabilidade. Para os síndicos e administradores, o papel é promover o diálogo, criar regras claras e justas e oferecer uma infraestrutura adequada, como um pet place bem cuidado. Para os tutores, a missão é compreender e atender às necessidades de seus cães, investir em treinamento e socialização e respeitar o espaço coletivo. Já para os vizinhos, a empatia e a comunicação aberta são essenciais.
Um cão bem cuidado é um membro da família que transborda afeto e alegria, e essa alegria pode, sim, ecoar pelos corredores de um condomínio, transformando-o em um verdadeiro lar para todos. ////////////////////////////
A seguir, vamos trazer à luz algumas questões sobre o comportamento e o bem-estar dos cães, esclarecendo-as a partir do formato CERTO, ERRADO ou DEPENDE.
Cachorro grande não pode viver em apartamento.
DEPENDE. O porte do cão é menos importante do que seu nível de energia e a capacidade do tutor de satisfazer suas necessidades. Raças grandes e gigantes, como o dogue alemão ou o mastim, são conhecidas por serem calmas e se adaptarem bem à vida em apartamento, desde que recebam passeios adequados para seu tamanho e energia. Por outro lado, um cão pequeno e muito ativo, como o Jack Russell terrier, pode ficar estressado e destrutivo se não tiver onde gastar sua energia. O foco deve se concentrar no bem-estar e nas necessidades individuais de cada cão, não apenas em seu tamanho.
Apartamento pequeno é ruim para qualquer cachorro.
ERRADO. Um tutor que se dedica a passear, brincar e treinar seu cão oferece um lar muito mais estimulante e feliz do que um quintal grande e vazio. Raças como o pug, o buldogue francês e o Cavalier King Charles spaniel, por exemplo, são conhecidas por se adaptarem bem a espaços menores, devido aos seus níveis de energia mais baixos e à natureza apegada ao dono.
Cachorro criado em apartamento late muito.
ERRADO. Latir é uma forma natural de comunicação para os cães, mas o latido excessivo geralmente é um sintoma de que algo está errado. Tédio, ansiedade de separação, medo ou falta de exercício são as causas mais comuns. Um cão que tem suas necessidades supridas — tanto físicas quanto mentais — tende a ser equilibrado e silencioso. O treinamento para ensinar o cão a não latir para qualquer barulho no corredor e o enriquecimento ambiental para mantê-lo ocupado quando está sozinho são ferramentas poderosas para evitar o problema.
Ter cachorro em apartamento é sinônimo de mau cheiro e sujeira.
ERRADO. A higiene do ambiente está diretamente ligada aos hábitos de limpeza do tutor, não à presença do animal. Com uma rotina adequada de limpeza, o uso de produtos corretos para eliminar odores e o treinamento do cão para usar o tapete higiênico ou fazer as necessidades na rua, um apartamento com um pet pode ser tão limpo e cheiroso quanto qualquer outro. Banhos regulares no animal também são parte essencial do cuidado.
Se usar tapete higiênico, ainda assim o cão precisa de passeios.
CERTO. O passeio é muito mais do que apenas uma oportunidade para o cão fazer suas necessidades. É o momento em que ele explora o mundo através dos cheiros, interage com outros cães e pessoas, gasta energia física e mental e fortalece o vínculo com o tutor. O tapete higiênico é uma conveniência, mas jamais substitui a importância e os benefícios do passeio diário.
Cães não podem ficar sozinhos em apartamento.
DEPENDE. Cães são animais sociais, mas podem — e devem — aprender a ficar sozinhos por alguns períodos. O segredo é fazer uma adaptação gradual e positiva, associando a ausência do tutor a momentos prazerosos (como um brinquedo recheado com comida). A ansiedade de separação é um problema sério que exige tratamento, mas não é uma regra para todos os cães. É fundamental garantir que, antes de ficar sozinho, o cão tenha passeado e gasto energia.
Todos os cachorros incomodam os vizinhos.
ERRADO. Um cão bem-educado e um tutor responsável raramente causam incômodos. A percepção de que cães são um problema geralmente vem de experiências negativas com casos pontuais de falta de manejo e cuidado. A grande maioria dos cães em condomínios vive em harmonia com a vizinhança, trazendo alegria para suas famílias sem perturbar a paz dos demais.
Cães trazem riscos à saúde dos moradores.
ERRADO. Pelo contrário, inúmeros estudos científicos comprovam os benefícios da convivência com animais para a saúde humana. O contato com cães pode reduzir os níveis de estresse, diminuir a pressão arterial e estimular a liberação de ocitocina, o “hormônio do amor”. Desde que o animal seja mantido saudável, com vacinação e vermifugação em dia, os riscos de transmissão de doenças são mínimos. Os benefícios para a saúde mental e emocional, por sua vez, são imensos.
Levar o cachorro no colo evita sujeira no elevador.
DEPENDE. Embora a intenção seja boa, essa prática pode ser perigosa, especialmente com cães de médio e grande porte. Além do risco de quedas, o cão pode se sentir inseguro e acuado no colo, o que pode gerar comportamento reativo. A melhor forma de manter a limpeza é ensinar o cão a se sentar e esperar tranquilamente no chão do elevador, além de ter sempre à mão um pano ou lenço umedecido para limpar as patas, caso seja necessário.
Cachorro não é gente; qualquer lugar serve para o pet place.
ERRADO. O pet place é um espaço fundamental para a qualidade de vida dos cães em condomínios — e sua qualidade importa, sim. Um bom espaço deve ser seguro (cercado e com portão duplo), limpo e, idealmente, oferecer alguns estímulos, como brinquedos ou uma área com grama. É um local para socialização e gasto de energia, que contribui diretamente para o bem-estar dos animais e, consequentemente, para a boa convivência no condomínio.
Cachorro não sente frio ou calor.
ERRADO. Cães sentem variações de temperatura, sim. Raças com pelagem densa, como o husky siberiano, sofrem mais no calor, enquanto raças de pelo curto e com pouca gordura corporal, como o galgo, sentem mais frio. É fundamental oferecer um ambiente com temperatura controlada, evitar passeios nos horários mais quentes do dia e jamais, em hipótese alguma, deixar um cão em uma varanda sob o sol forte, pois o risco de hipertermia é real e pode ser fatal.
Se o cachorro abana o rabo, é porque está feliz.
DEPENDE. A linguagem corporal dos cães é sutil. Um rabo abanando pode, sim, indicar felicidade, mas também pode ser sinal de excitação, ansiedade, medo ou até mesmo um aviso antes de um ataque. É preciso observar toda a postura do cão: a posição das orelhas, a expressão facial e a rigidez do corpo. Um rabo alto e rígido, abanando rapidamente, pode ser um sinal de alerta.
Todo cachorro gosta de criança; pode fazer carinho.
ERRADO. Essa é uma generalização extremamente perigosa. A interação entre cães e crianças deve ser sempre supervisionada por um adulto. Nem todo cão se sente confortável com a energia e os movimentos bruscos das crianças. É importante ensinar as crianças a respeitarem o espaço do cão e a forma correta de se aproximar e fazer carinho. Uma fita amarela amarrada na coleira ou na guia é um sinal de alerta internacional que significa “eu preciso de espaço”. Se vir um cão com essa fita, não se aproxime e mantenha distância.
Filhote não precisa de adestramento, só quando for adulto.
ERRADO. Este é um dos maiores erros que um tutor pode cometer. A fase de filhote — especialmente entre três e 14 semanas de vida — é a janela de socialização, o período mais importante para o aprendizado e a formação do comportamento do cão. É nessa fase que ele deve ser apresentado de forma positiva a diferentes pessoas, sons, ambientes e outros animais. O adestramento de filhotes, baseado em reforço positivo, cria a base para um adulto equilibrado e obediente. Mas cães podem aprender em qualquer idade. O treinamento dos mais idosos, inclusive, é uma excelente forma de mantê-los mentalmente ativos e fortalecer o vínculo com o tutor. O ritmo pode ser mais lento, mas a capacidade de aprendizado permanece.

Matéria publicada na edição 317 nov/dez 2025 da Revista Direcional Condomínios
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