A PROFISSIONALIZAÇÃO NAS RELAÇÕES DO TRABALHO
Mais do que cumprir com as obrigações legais, a gestão dos recursos humanos envolve a organização dos cargos e funções, o planejamento das tarefas, a avaliação do desempenho, orientação e treinamento. O propósito é dar clareza ao papel de cada colaborador, profissionalizar as relações e valorizar o seu trabalho.
A gerente Ângela Maria Fedato Tusa, do Park Avenue Residence, um antigo flat localizado no Itaim Bibi, zona Sul de São Paulo, e transformado em condomínio residencial com serviços de arrumadeira e recepção, precisa de muita organização para comandar sua equipe de 18 funcionários. Afinal, dez são arrumadeiras e devem cumprir com um cronograma diário de limpeza nos apartamentos, sabendo quais tarefas deverão executar a cada dia. Outros quatro são recepcionistas e devem zelar, sobretudo, pelas chaves das unidades, além do controle de quem entra e sai, da separação e entrega das correspondências, das demandas dos moradores etc. Há ainda a lavadeira e uma governanta, responsável direta por esta e pelas arrumadeiras, mais a compra e distribuição do material de limpeza. Dois auxiliares de serviços gerais cuidam da área comum, cada um com suas atribuições, como lavagem da garagem ou aspiração da piscina.
“É um desafio constante, não há um dia como o outro”, comenta Ângela, ex-representante comercial que há quatro anos assumiu a gestão do Park Avenue. “Mudei a cara da gestão porque gosto de lidar com as pessoas – condôminos e funcionários. Conquistei a confiança e o respeito de ambos. Minha função é gestora, além de administrar me sinto uma cobradora de impostos, pois tenho que ser enérgica e exigente para que a coisa funcione, mas sem melindrar a pessoa que está sendo cobrada”, diz Ângela. A gerente considera a organização detalhada das tarefas uma boa estratégia para conferir uma “sensação de rotina (regularidade) e segurança” aos condôminos, ao mesmo tempo em que se imprime uma relação mais profissionalizada com os funcionários.
Nesse sentido, o síndico, empresário e consultor em RH (Recursos Humanos), Lélio Reinado Tocchio, comenta que ao assumir o cargo, há um ano e meio, no Edifício Sabel II, em Santana, na zona Norte de São Paulo, procurou justamente manter uma interlocução mais profissional com a equipe. Com três porteiros terceirizados, dois faxineiros e um zelador, equipe de bom tamanho para um edifício com somente 30 unidades, Lélio se reuniu com eles para conhecer a forma como viam o próprio trabalho, sentiam as dificuldades e pensavam nas soluções. E percebeu que faziam o serviço “com sacrifício e reclamação”.
A saída foi mostrar-lhes que sua postura estava equivocada, eles vinham se colocando como “subservientes” e não “profissionais”, observa Lélio, o que os desestimulava. “Passamos a estar juntos, para orientar quando necessário ou elogiar um serviço bem feito. Mudamos o jeito de a portaria atender e estruturamos a limpeza, com planejamento das atividades e equipamentos adequados. Implantamos as sugestões viáveis e começamos a comunicar tudo aos moradores, por meio de informativos nos elevadores ou circulares.” Estes, segundo Lélio, também desenvolveram novo padrão de relacionamento com os colaboradores, “passaram a olhá-los de outra forma”. “Hoje os funcionários estão mais felizes e conscientes de seu papel”, constata.
Grande parte dos condomínios residenciais possui, no máximo, seis funcionários: um zelador, dois porteiros, um folguista e dois auxiliares de limpeza. “É o quadro de 70% dos edifícios”, revela Sandra Budin, gerente de RH em uma administradora. Ainda assim, ela recomenda que o síndico planeje o setor, especialmente nos condomínios com equipe superior a dez pessoas, conferindo clareza aos cargos, funções e tarefas (plano de trabalho), estipulando uma progressão na carreira – “O faxineiro precisa ter a perspectiva de chegar, no mínimo, a zelador”, oferecendo treinamento e avaliações.
Os cargos estão previstos na Lei Federal 2.757/56, que criou a profissão dos trabalhadores nos condomínios, até então tomados como domésticos, e os colocou sob o abrigo da legislação trabalhista. Já as funções e tarefas são estipuladas na Convenção Coletiva do Trabalho, celebrada anualmente, no mês de outubro, com o Sindifícios (Sindicato dos Empregados dos Edifícios), e envolvem os zeladores, porteiros, vigias, garagistas, manobristas, cabineiros ou ascensoristas, faxineiros e demais empregados. “A Convenção assegura condições de trabalho, pisos, benefícios e fornece um quadro de orientação sobre as tarefas relativas a cada função”, observa o advogado trabalhista Carlos Alexandre Cabral, assessor jurídico do Secovi (Sindicato da Habitação de São Paulo) e autor do “Manual de Direito do Trabalho para Condomínios” (Editora LTr, 2010).
SÍNDICO: “FOCAR NAS RESPONSABILIDADES”
A partir daí, é preciso que o síndico estruture o setor e para isso ele deve se colocar como “líder”, “dar clareza da importância do papel dos funcionários no condomínio e focar nas responsabilidades em vez das funções”, recomenda o consultor em RH Lélio Tocchio. “Por exemplo, mostrar ao porteiro que mais do que abrir ou fechar portões, ele cuida mesmo é da segurança dos moradores. O zelador, por sua vez, garante a funcionalidade do prédio em todos os aspectos.” De outro lado, acrescenta Lélio, isto deve ser acompanhado por avaliações periódicas de desempenho, “como sentar e conversar uma vez por mês, observar o desenvolvimento da competência, realinhar as atitudes e orientar nos procedimentos”, para que o profissional se sinta valorizado. O acompanhamento mais sistemático pode ser feito pelo zelador, indica Lélio, entretanto, este precisa ter um perfil de liderança e estar preparado para cumprir com o papel.
Para a administradora Rosely de Oliveira Benevides Schwartz, professora do Curso de Administração de Condomínios da Escola Paulista de Direito (EPD) e autora de “Revolucionando o condomínio” (Editora Saraiva), o ideal é que o síndico mantenha um contato mais próximo e constante com o zelador, discutindo questões estratégicas, orientando e cobrando. E o zelador transmitiria isso ao restante da equipe.
Segundo ela, “as reuniões são fator de motivação, mostram que o síndico faz parte da equipe, que está atento e não distante”. Rosely ressalta, porém, que no caso de funcionário terceirizado, a interlocução tem que ser feita com o seu respectivo supervisor na prestadora de serviço, evitando, assim, caracterizar vínculo empregatício.
Outra necessidade reside na gestão financeira das férias, 13º salário e pagamento das horas extras. O primeiro ponto é observar se os empenhos com horas extras superam o que seria gasto com salário e encargos caso se contratasse um novo funcionário, orienta Rosely Schwartz. O segundo é programar as férias de maneira a que o condomínio não fique dois meses subsequentes com funcionários usufruindo do benefício. A síndica Lurdes de Fátima Affonso Anton, que ocupa o cargo há vinte anos no Condomínio Edifício Vila de Vitória, na Vila Mariana, em São Paulo, costuma realizar o planejamento do quadro de férias no início de cada ano. “Intercalamos os meses”, afirma, lembrando que seu edifício possui três porteiros, um folguista, um faxineiro e um encarregado (que exerce função equivalente ao do zelador). “Isso evita sobrecarregar a folha de pagamentos”, diz. Lurdes destaca que trabalha com uma contabilidade diferenciada, separando, no próprio boleto da taxa condominial, as despesas cotidianas, o fundo de reserva e os empenhos com férias e o 13º.
Matéria publicada na edição 151 out/10 da Revista Direcional Condomínios
Não reproduza o conteúdo sem autorização do Grupo Direcional. Este site está protegido pela Lei de Direitos Autorais. (Lei 9610 de 19/02/1998), sua reprodução total ou parcial é proibida nos termos da Lei.