Como condomínios podem lidar com casos de dependência química

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A dependência química é uma realidade presente em todas as classes sociais, inclusive dentro dos condomínios, podendo impactar a segurança e a harmonia locais. O síndico pode promover ações educativas e de prevenção sobre a doença. Porém, quando já houver situações que violem as regras do condomínio, é preciso agir com firmeza, mesmo tratando-se de uma doença, pois as consequências não devem afetar o coletivo. 

O primeiro passo para lidar com um tema dessa natureza é informar-se. A dependência química é considerada uma doença sem cura, mas tratável. Caracteriza-se pelo abuso de substâncias lícitas e ilícitas, como álcool, cigarro e drogas (maconha, cocaína, LSD etc.), bem como pelo uso abusivo de medicamentos, quadro denominado fármaco-dependência. 

Só para se ter uma pequena ideia de porcentagem, no Brasil, por exemplo, o público considerado dependente químico gira em torno de 6% da população. Um relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS) destaca que 2,6 milhões de mortes por ano podem ser atribuídas ao consumo de álcool, e que 0,6 milhão de mortes anuais estão relacionadas ao uso de drogas psicoativas. 

Cigarro Eletrônico 

Com o passar dos anos, novas formas de dependência química surgem, como os populares cigarros eletrônicos, consumidos por pessoas de várias faixas etárias e que fazem tão mal quanto o cigarro de tabaco.  

Na minha vida profissional, atuei por anos em um centro de tratamento especializado em dependência química, e ainda atendo diversas pessoas com essa doença. Posso afirmar que é difícil para o adicto (termo usado para o dependente) se recuperar. Por isso, é essencial discutir conscientização e prevenção em espaços oportunos, como os condomínios residenciais.  

Acompanho um paciente que se encontra em estado delicado devido a uma recaída muito forte na virada do ano passado para este. Atualmente, ele apresenta apenas 34% de frequência cardíaca, não pode ingerir mais do que 1,5 litro de água por dia, pois seu corpo não suporta, vive à base de quase 20 comprimidos diários e está afastado do trabalho. Recentemente, apresentou ainda um problema pulmonar, foi internado às pressas e corre risco de morte.  

É importante frisar que, muitas vezes, o paciente adicto vem de um contexto familiar em que o pai ou a mãe foram portadores da doença, e os filhos acabam também desenvolvendo o mesmo problema.  

Ao longo dos anos de atuação, já perdi pacientes que faleceram em decorrência da doença. Infelizmente, o número de pessoas que se mantêm em recuperação pelo resto da vida é muito pequeno — mas não podemos deixar de valorizar essas histórias. 

Por se tratar de uma doença sem cura, sempre digo aos meus pacientes que precisarão cuidar dela por toda a vida. Já vivi experiências com pessoas que, mesmo após 30 anos limpas, apresentaram recaídas. 

Em muitos casos, os pacientes acreditam estar “curados” e voltam a fazer uso da substância de sua preferência, convencidos de que nada de grave ocorrerá. Algumas circunstâncias que provocam recaídas estão relacionados a questões emocionais — como a perda de um ente querido, o desemprego, problemas financeiros, entre outros.  

O adicto deve sempre tratar a doença com acompanhamento psicológico e psiquiátrico, além de participar de grupos de apoio, como o NA (Narcóticos Anônimos) e o AA (Alcoólicos Anônimos). Esses grupos trabalham com os 12 passos da recuperação e são gratuitos.    


Matéria publicada na edição 317 nov/dez 2025 da Revista Direcional Condomínios

Autor

  • Nelson Luiz Raspes

    Psicólogo (CRP: 06/45.396-2) com especialização em Dependência Química pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), tendo atuado por 15 anos no Centro de Tratamento Bezerra de Menezes. Mais informações: nelsonpsico@hotmail.com