Uma gestão atenta às necessidades de pessoas com deficiência, idosas ou neurodivergentes fortalece a convivência respeitosa e integradora nos prédios residenciais. O síndico atua como um líder que:
- Propõe melhorias estruturais (rampas, portas automáticas).
- Promove a inclusão de convivência (comunicação, eventos).
- Aprende com a comunidade a reforçar a sensação de pertencimento de todos os moradores.
Comunicação e Eventos: Como Criar Inclusão na Convivência?
A síndica profissional Marcela Volpato relata que a inclusão começa na atenção aos detalhes e na comunicação.
Estratégias Inclusivas para Festas e Eventos
Após ser confrontada sobre a exclusão de um morador deficiente auditivo, Marcela implementou ações simples, mas de grande impacto:
- Comunicação Adaptada: O Papai Noel aprendeu o básico de Libras para interagir com a criança.
- Profissionais Qualificados: Contratação de um monitor que conhecia a linguagem de sinais para a festa.
- Abertura: Autorização para que o morador trouxesse coleguinhas com a mesma deficiência, integrando-os ao evento do condomínio.
Inclusão na Comunicação e em Assembleias
É essencial adaptar a comunicação para atender a diferentes necessidades sensoriais:
- Substituição de Áudios: Marcela “corrigiu” o hábito de se comunicar por áudios no WhatsApp após ser alertada por uma moradora com deficiência auditiva. Hoje, ela produz vídeos com legendas.
- Participação nas Assembleias: O condomínio se prontificou a contratar um intérprete de Libras nas reuniões para garantir que moradores com deficiência auditiva tenham condições de igualdade para participar das decisões.
Adequações Estruturais: O Fator Empatia e Valorização Patrimonial
O síndico profissional Gustavo Moretti resume que a falta de inclusão muitas vezes se resume à “falta de empatia”. As adequações, no entanto, trazem benefícios que vão além do morador com deficiência.
Exemplos de Melhorias de Baixo Custo e Alto Impacto
Um morador de um condomínio na Vila Sônia pleiteava a substituição da porta do hall por um modelo que não exigisse o uso das mãos. Gustavo instalou uma porta automatizada e constatou:
- Benefício Coletivo: A automação atende não apenas cadeirantes, mas também idosos com andador, mães com carrinho de bebê e moradores com carrinho de feira.
- Custo-Benefício: O valor do investimento não foi significativo em comparação à arrecadação, e o investimento foi reivindicado por moradores de outras torres devido à praticidade.
Acessibilidade na Área de Lazer e Valorização
Em outro condomínio, o gestor investiu na inclusão da piscina coberta devido à presença de moradores em cadeira de rodas (por deficiência e obesidade).
- As soluções implementadas foram: rampa de acesso e aquisição de uma cadeira de transferência.
- Benefício Patrimonial: Gustavo destaca que condomínios que se preocupam com inclusão e acessibilidade vivenciam uma valorização social que se reflete na valorização patrimonial.
Obras de Acessibilidade e Consenso da Comunidade
Gustavo também demonstra que o síndico é fundamental para obter aprovação para obras grandes. Em Barueri, ele estuda a reativação de uma saída inativada para cortar caminho para idosos e pais com crianças:
- Soluções em Avaliação: Instalação de um elevador ou construção de uma rampa para transpor o desnível da rua.
- Liderança do Síndico: “Quando o síndico acredita no propósito de uma obra de acessibilidade, fica mais fácil obter a aprovação da comunidade”, constata ele.
Gestão e Políticas para Moradores Neurodivergentes
Além das estruturas, a gestão deve ser flexível e empática com as necessidades específicas de moradores neurodivergentes (como síndrome de Down e autismo).Exceções Empáticas: Gustavo abriu uma exceção para que uma terapeuta atendesse o filho neurodivergente de uma moradora em um espaço silencioso e pouco utilizado do condomínio, visando ajudar a mãe, desde que não houvesse prejuízo à coletividade.
O Papel do Síndico na Promoção da Conscientização (Campanhas e Censos)
O advogado condominialista Alex Garcez, pai de uma criança neurodivergente, reforça que a falta de sensibilidade e conhecimento pode levar conflitos ao Judiciário. O síndico, como líder, deve promover a transformação da mentalidade do condomínio.
Estratégias de Conscientização
O advogado, que ministra palestras sobre o tema em eventos para síndicos em todo o país (incluindo São Paulo), sugere:
- Palestras: Organizar uma palestra com um profissional de saúde ou um especialista em inclusão.
- Voz Atípica: Promover campanhas e dar voz a mães atípicas ou pessoas com deficiência antes de assembleias para sensibilizar os vizinhos.
Censo Interno e Foco no Envelhecimento da População
Para que as ações sejam direcionadas e eficientes, é crucial conhecer o público:
- Censo Condominial: Realizar um censo interno para identificar as necessidades específicas de cada morador e adotar políticas mais agregadoras.
- Foco na População Idosa: A acessibilidade é também para o idoso que já não consegue mais subir degraus. Condomínios antigos devem se preparar para a realidade do envelhecimento da população brasileira, garantindo que todos usufruam integralmente do seu direito ao condomínio.
Legislação e Acessibilidade: Quais Leis o Síndico Precisa Conhecer?
Acessibilidade em condomínios não é apenas uma questão de respeito e conforto, mas também um dever legal, destaca o advogado condominialista e intérprete de Libras Thiago Natalio.
O síndico deve conhecer as leis, decretos e normas técnicas que obrigam a adaptação de condomínios existentes e novos.
Principais Normas e Exigências Legais de Acessibilidade
| Documento Legal | Data / Número | Principal Determinação para Condomínios |
| Lei Brasileira de Inclusão (LBI) / Estatuto da Pessoa com Deficiência | Lei nº 13.146/2015 | Garante o acesso irrestrito de PCDs tanto aos espaços comuns quanto às unidades residenciais. |
| Decreto Federal | Decreto nº 9.451/2018 | Exige que novos residenciais sejam projetados com acessibilidade. Áreas comuns devem ter sinalização tátil e vagas reservadas. |
| Dever de Adaptação (LBI) | Artigo 57 da LBI | Edificações já existentes têm o dever legal de se adaptar para garantir acessibilidade em todas as suas dependências. |
| Critérios Gerais de Acessibilidade | Decreto nº 5.296/2004 e Lei nº 10.098/2000 | Fixam critérios gerais sobre acessibilidade em edificações, transporte e mobiliário urbano. |
| Norma Técnica (ABNT) | NBR 9050/2015 | Define os parâmetros técnicos para projetos acessíveis (ex: rampas, pisos táteis, largura de portas, sinalização em braile). |
Barreiras e a Importância do Consenso em Adaptações
Apesar da exigência legal, o Artigo 57 da LBI encontra barreiras na prática:
- Barreiras Estruturais: Dificuldades técnicas na adaptação de prédios antigos.
- Consenso Comunitário: Barreiras de aprovação entre moradores.
- Custos: Obras de acessibilidade envolvem investimento.
Recomendação Legal: Embora especialistas defendam que obras de acessibilidade dispensam aprovação em assembleia (por se tratar de exigência legal), é recomendável envolver os condôminos em debates, conscientização e planejamento para garantir a adesão e o sucesso da implementação.
Matéria publicada na edição 315 set/25 da Revista Direcional Condomínios
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