Como prevenir entupimentos em tubulações de esgoto sanitário

Especialista do Ibape-SP dá dicas para detectar e evitar problemas em tubulações, pias de cozinha, bacias sanitárias e máquinas de lavar roupa.

Em tempos de pandemia, quarentena e home office, as pessoas têm passado mais tempo em casa. Em consequência disso, a utilização dos aparelhos sanitários, especialmente pias de cozinha e bacias sanitárias, têm aumentado. Com isto, a possibilidade de ocorrerem entupimentos nas tubulações de esgoto sanitário também cresce.

Neste cenário, os entupimentos mais frequentes e com consequências mais graves são os que ocorrem em tubulações de esgoto sanitário de edifícios de múltiplos pavimentos, uma vez que elas servem a uma diversidade de unidades condominiais, em que é maior a possibilidade de uso simultâneo de aparelhos sanitários em horários de pico de contribuição de esgoto.

Para auxiliar na prevenção desses entupimentos, o engenheiro civil Sérgio Gniper, instrutor de cursos do Ibape-SP, separou dicas para se atentar aos principais problemas nos tubos e conexões ligados a pias de cozinha, bacias sanitárias e máquinas de lavar roupa. O IBAPE-SP é um órgão de classe formado por engenheiros, arquitetos e empresas habilitadas, que atuam na área das avaliações, perícias de engenharia, inspeções prediais e perícias ambientais no Estado de São Paulo.

Causas mais frequentes

As causas mais frequentes de entupimentos estão relacionadas ao uso inadequado dos aparelhos sanitários, como a disposição indevida de papel higiênico em bacias sanitárias, o despejo de óleo de cozinha e o descarte de restos de alimentos, cascas de frutas e legumes em pias de cozinha, principalmente quando são dotadas de trituradores de resíduos de alimentos. Estes casos requerem uma maior conscientização dos usuários.

Máquinas de lavar roupa também contribuem lançando fiapos de tecido na rede de tubulações de esgoto, que acabam por se aderir às paredes de tubos e conexões.

Outro problema recorrente é o descarte em bacias sanitárias de papel higiênico usado. Se, por um lado, os sistemas prediais de esgoto sanitário projetados e instalados atendem às normas brasileiras, eles não são adequados para receber papel higiênico, requerendo alterações técnicas em requisitos e adequação de critérios; por outro lado, o papel higiênico disponível no mercado interno não é apropriado para ser diretamente descartado em bacias sanitárias. O papel produzido em países de primeiro mundo tem a propriedade proposital de se desagregar rapidamente quando encharcado. Há ainda a necessidade de adequação dos sistemas urbanos de tratamento de esgoto para operarem com uma maior carga de DBO (Demanda Bioquímica de Oxigênio), representada pelo acréscimo da carga poluente a ser removida.

Contudo, existem outras causas para a ocorrência de entupimentos frequentes, particularmente de tubulações horizontais de edifícios de múltiplos pavimentos, que são as causas sistêmicas e as funcionais. Grande parte delas decorrem de falhas na concepção do projeto do sistema e no dimensionamento das tubulações, mas, para isso, também concorrem os erros de execução.

Uma delas está na especificação de tubos e conexões de ferro fundido para a condução de esgoto sanitário. Deve-se levar em conta que, apesar de vantagens, como a elevada resistência mecânica, elevada resistência a depressões e sobrepressões devidas ao escoamento hidráulico-pneumático, entre outras, as tubulações deste material, conduzindo despejos em condições adversas, têm uma vida útil inferior à de tubulações plásticas, em razão da ocorrência de processos de corrosão interna, que se agrava depois que a camada protetora de pintura epóxi interna se desgasta.

Por fim, uma última causa relevante para a ocorrência de entupimento em subcoletores e coletores prediais de esgoto sanitário é a ausência de caixas retentoras de gordura a montante de tubulações que transportam despejos de pias de cozinha, pias de churrasqueira e de máquinas de lavar louça.

Nestes casos, as tubulações mais afetadas são aquelas com desenvolvimento horizontal em razão da baixa velocidade de escoamento, permitindo que óleos e gorduras sobrenadantes à massa líquida se assintam às paredes de tubos e conexões. Com o passar do tempo as gorduras aderidas sofrem oxidação e um processo de saponificação, ressecando e endurecendo. Além da subsequente redução na seção disponível para o escoamento líquido, o que provoca redução de sua velocidade, a gordura seca e dura, aderida à parede da tubulação permite que sólidos em suspensão nela se amontoem, causando entupimentos.

Por razões sanitárias, a norma ABNT NBR 8.160:1999 proíbe a presença de caixas retentoras de gordura dentro de unidades condominiais (por exemplo, embaixo de pias de cozinha). Portanto, o projeto do sistema predial de esgoto sanitário deve prever ramais de esgoto de reduzida extensão até atingirem o tubo de queda (neste caso, propositalmente designado “tubo de gordura”). O escoamento em regime anelar no interior deste oferece uma ação autolimpante de arraste para despejos gordurosos. Desta forma, a situação ideal é a presença de caixas retentoras de gordura no início do subcoletor subsequente ao tubo de gordura, a ser posicionada depois do trecho onde ocorre o ressalto hidráulico e depois de estabelecido o regime de canal em seu interior.

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