Quanto mais as pessoas se sentirem bem no local onde vivem, mais zelarão por ele, atuando em prol da manutenção do empreendimento como um todo.
Analisando o comportamento das pessoas, percebemos facilmente que quanto mais a tecnologia avança, mais nos aprisionamos, seja no mundo virtual, seja atrás das grades dos nossos condomínios. O que deveria servir para aproximar as pessoas, tem feito com que cada vez mais nos afastemos uns dos outros.
Assisti a uma reportagem num canal pago em que três amigos compraram um carro e a cada semana ficava com um deles, num revezamento. Eles têm em comum a desnecessidade diária do veículo, portanto, o compartilhamento deste meio de locomoção traz redução dos custos na compra e manutenção e serve às necessidades.
O compartilhamento está se infiltrando em nosso dia a dia e traz outra novidade legal, o conceito de multipropriedade, onde várias pessoas são proprietárias de um mesmo imóvel e o compartilharão por determinado período. A ideia desse artigo é justamente defender a prática do verbo que mais se conjuga ultimamente, o de compartilhar. Será que estamos, de fato, sabendo compartilhar?
No condomínio
Grandes construtoras têm investido fortemente nas áreas comuns, porque o País é assolado pela violência, o que faz com que as pessoas fiquem menos nas ruas. Todavia, o que vejo no meu dia a dia como advogada atuante da área condominial é que essas áreas não são bem aproveitadas e devidamente compartilhadas pelos condôminos.
Não raro as pessoas depredam os espaços, descumprem regras básicas e acabam por tornar a convivência e o compartilhamento impossíveis.
Além do compartilhamento de espaços destinados ao lazer como piscina, salão de festas, churrasqueiras etc., serviços e benefícios também podem e devem ser compartilhados. Aliás, vejo que essa é a nova tendência e tende a baratear o custo de manutenção dos condomínios-clubes, inclusive. Mas as pessoas precisam colocá-la em prática e um síndico atuante poderá dar um primeiro passo.
Conheço um condomínio em que as aulas de ginástica são compartilhadas por vários condôminos através da contratação de apenas um profissional. A atividade, além dos inegáveis benefícios para a saúde física, aproxima os vizinhos e possibilita que eles compartilhem, além do espaço e da aula, conhecimentos, experiências, ideias.
E é obvio que quanto mais as pessoas se sentirem bem no local onde vivem, mais zelarão por ele, atuando em prol da manutenção do empreendimento como um todo.
Atividades programadas (festa junina, dia das crianças, campanha de arrecadação de brinquedos, roupas, decoração natalina coletiva) também são ótimas iniciativas para que as pessoas se aproximem e compartilhem da rotina do condomínio. Quando atuei como síndica, costumava promover bingos, brincadeiras com as crianças e tínhamos uma horta compartilhada. Aos poucos as pessoas vão cedendo e se agregando e os encontros se tornam cada vez mais frequentes e agradáveis, podendo até mesmo gerar renda extra para os cofres do condomínio.
Já escrevi sobre a venda de comidinhas entre vizinhos em condomínios, porque acredito que é uma facilidade e uma forma de compartilhar, de conviver. O que falta na atualidade é o compartilhamento real.
Conheci um síndico que colocou em contato os pais que tinham filhos na mesma escola para compartilharem carona. Isso reduziu os custos e acabou por aproximar a todos. Um gesto de gentileza com consequências ótimas!!
O coworking (espaço de trabalho compartilhado) em condomínios residenciais também vem sendo um crescente, mormente para as atividades intelectuais e que não tenham a frequência de clientes, logicamente respeitando regras e limites dentro do condomínio. E o compartilhamento de área por vários profissionais interagindo pode proporcionar novos projetos para todos.
Ou seja, há várias possibilidades de compartilhar espaços, ideias e serviços que trarão enormes benefícios não apenas aos condôminos e ao síndico, mas a todos como pessoas.
Por vezes agimos no nosso condomínio como alguns na política. Não participamos, não gostamos, criticamos as atitudes de corrupção, mas na nossa rotina cansativa acabamos deixando de participar e compartilhar com aqueles que estão mais próximos, os nossos vizinhos. Quem não sabe governar o próprio mundo, não sabe compartilhar e precisa aprender. Quando nos tornarmos conscientes disso e aprendermos a apreciar e zelar pelo nosso espaço, nosso ambiente ficará cada vez melhor, reduzirá muitíssimo os conflitos e nosso patrimônio será preservado.
Síndicos não podem se limitar a dar ordens. Devem ser bons gestores e líderes para exercerem um trabalho humanizado e em prol da comunidade condominial, que é composta por pessoas e, quanto mais próximos nessa empreitada, melhor!
Sempre priorizo pela comunhão e a empatia. Creio que eventos, pesquisas, jornais etc., são sempre meios capazes de aproximar as pessoas e fazer com que elas percebam que o condomínio é muito mais do que o local onde residem, deve ser um lar no sentido mais profundo da palavra.
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