Gestores relatam situações inesperadas no dia a dia condominial, e outras que mais parecem testar limites de paciência. Confira!
Sabedoria e atitude são cruciais na condução de situações inusitadas ou daquelas que colocam a paciência à prova. Demilson Guilhem cita que a situação mais insólita que já vivenciou na sindicatura envolveu uma senhora que durante um mês praticamente ‘acampou’ com sua velha Brasília na frente de um condomínio de médio padrão em Osasco, na vaga externa para visitante. “Ela era parente de uma condômina, mas não viera visitá-la, e sim aguardar por um imóvel, pois recebera um ‘sinal dos deuses’ de que iria morar ali. Apelamos à parente, que desceu para conversar com a tal senhora, sem sucesso. Realmente era difícil manter um diálogo racional. Foi preciso acionarmos outros familiares, que após algumas tentativas, a convenceram a ir embora”, conta o síndico profissional.
Já em um condomínio-clube em Guarulhos, certo dia Demilson se deparou com um conselheiro irritado porque soubera que alguns adolescentes estariam praticando atos libidinosos no cinema. O síndico prometeu investigar e assim o fez, no entanto, ao ver imagens gravadas pela câmera de segurança, identificou a filha do conselheiro ‘namorando’ no cinema. “Costumo tratar esses casos com as mães, que são mais compreensivas, mas dessa vez não teve como não falar com esse pai. A reação dele, então, foi culpar a portaria por ter entregue a chave do cinema a uma adolescente”, descreve.
‘SURUBÃO’ NA CHURRASQUEIRA
Noutra ocasião, em um condomínio na zona leste de São Paulo, Demilson foi avisado pela gerente predial que no início de noite de um domingo havia acontecido um ‘surubão na churrasqueira’, envolvendo moradores do próprio condomínio, sem os respectivos cônjuges. “O condomínio tem várias churrasqueiras, essa ficava mais afastada, mas havia câmera perto, que capturou tudo. Depois que alguns convidados foram embora, as pessoas que ficaram, alcoolizadas, praticaram sexo”, fala o síndico, que conversou individualmente com todos. “Eu nunca vi tamanha boa vontade em pagar uma multa! Queriam resolver ali mesmo para que a multa não fosse parar nas unidades e caísse nas mãos dos cônjuges”.
Ainda nesse condomínio, um porteiro foi violentamente agredido por um morador após esse descobrir que a companheira, moça bonita, se engraçara com o rapaz. O agressor foi multado, pagou, e deixou o domicílio por um tempo; e o porteiro, transferido de posto. Pela terceirizada, Demilson descobriu que a moradora assediava porteiros e vigias o tempo todo, enviava nudes e mensagens. “Conversei muito com essa moça, mas ela dava trabalho! Depois, ela ficou internada em uma clínica, voltou e não tivemos mais problemas”, diz o síndico, que pontua: “Casos delicados precisam ser tratados com discrição, zelando pelos envolvidos, e para que o condomínio não fique rotulado”.
FEZES NO HALL SOCIAL
Já a síndica profissional Ana Paula de Queirós encontrou fezes humanas em condomínio de classe média alta na zona leste. “Em uma das ocasiões, a mãe de um condômino estava à espera de familiares no hall, e subitamente, foi a um canto do aparador, fez suas necessidades, depois sentou-se em um pufe. Precisei agir com tato para abordar o assunto com o filho dela”, diz a síndica. “Da outra vez, a convidada de uma unidade desceu pelo elevador rumo às áreas comuns, parou em frente ao banheiro da administração, que estava fechado por ser domingo, e sem conseguir segurar, abaixou-se e defecou. Antes de ver as imagens gravadas, eu até cogitei ser provocação de morador”, comenta.
Sobre boicotes e futricas, Ana Paula se recorda de um condômino que infringia a regra de uso de itens de lazer por visitantes com no máximo 10 anos de idade. “Ele aprovava que o filho dele trouxesse colegas mais velhos e instigava um grupo de moradores a fazer o mesmo, ficando contra o regimento, e, logo, contra mim. Um dia a família se mudou, alugou o apartamento e pediu que o inquilino liberasse a entrada do filho adolescente e amigos para usarem a quadra. Enviei multa ao responsável pela unidade, que me procurou”, relata a síndica, acrescentando que na ocasião estava envolvida com o projeto de um poço artesiano. “Esse proprietário ameaçou boicotar a obra do poço caso eu não permitisse acesso do filho à quadra. Eu não me abalei, pois estava com toda a documentação em ordem, tinha até a licença ambiental, mas fiquei indignada”.
BUCHICHOS INCONVENIENTES
Maledicências são outra fonte de indignação na sindicatura quando o trabalho é executado de modo ético, como aponta o síndico profissional Fábio Sternberg. “Fui síndico orgânico do condomínio em que moro, na Vila Mariana, durante 19 anos. Sempre fui muito transparente na gestão financeira, sempre apresentei três orçamentos na contratação de obras, mas ainda assim, no momento em que minha esposa e eu adquirimos um imóvel na praia, vieram os buchichos especulando a origem do dinheiro. Lamentável”, diz Fábio, que atua em 20 condomínios, nos Jardins e Higienópolis.
O síndico observa que cada vez mais os limites de bom senso e convivência são extrapolados, e aponta experiência recente vivenciada em um condomínio de Higienópolis, que administra desde 2021. Ele explica que uma vez que o bairro tem forte influência judaica, é comum nos condomínios a Festa de Sucot, na qual, uma vez ao ano, são montadas barracas ao ar livre e membros do sexo masculino as habitam por sete dias, lembrando a travessia do povo hebreu pelo deserto. “Mas esse condomínio em especial, com 50 anos, passou por um retrofit nas áreas comuns, por isso a tenda não pode mais ser montada nos fundos, como era antes. Tivemos o cuidado de escolher outro espaço sem prejudicar a circulação. Contudo, recebi pedidos para ‘proibir aquele absurdo’”, fala o síndico. “Essas pessoas agiram por implicância, sempre souberam das tradições praticadas pela maioria dos moradores. Enquanto síndico e israelita, eu não poderia tomar partido, mas contextualizei que aquela situação era passível de denúncia por discriminação racial, e tudo se aquietou”, relata.
Fábio Sternberg brinca que tinha cabelos quando abraçou a sindicatura. Hoje, tem um pacote de medidas para seguir na labuta: “Remédio para dormir, pilates para relaxar, e paciência extrema com o ser humano”, entrega, bem-humorado.
Matéria publicada na edição-308-fev/25 da Revista Direcional Condomínios
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Jornalista apaixonada desde sempre por revistas, por gente, pelas boas histórias, e, nos últimos anos, seduzida pelo instigante universo condominial.