“Crianças e jovens devem ser preparados para uma cultura de responsabilização. A mediação ajudará nesse quesito, os auxiliará a perceber o alcance de suas ações. Educar requer frustrar, perder e, principalmente, preparar a nova geração para entender que o outro também exista em sua liberdade.”
A criança necessita de modelos e orientações, ela precisa de regras. Quando nasce, ela vive um estágio de anomia (ausência total de regras), mas com o tempo a criança passa para o estágio conhecido como heteronomia (as regras vêm de fora), até que ela atinja o tão esperado estado de autonomia, quando já internalizou as regras e pode “escolher” entre segui-las ou não. As crianças devem ser sempre orientadas e mediadas pelos adultos, pois as regras de convivência são apreendidas constantemente.
As escolas vêm trabalhando incansavelmente as regras de convivência junto aos seus alunos, porém isso não é possível sem a parceria da família (primeiro ambiente de aprendizagem). Também os condomínios, bem como os espaços públicos, devem ser espaços de convivência civilizada, mas para isso, é preciso que as regras sejam estabelecidas por um grupo, combinadas e acordadas por todos os envolvidos. Afinal, não há disciplina se não houver autodisciplina; não há liberdade sem a formação da consciência do que seja o espaço privado e o espaço coletivo. Imagine se todos resolvessem escutar música no último volume? Ou mesmo se todos os moradores optassem pela “liberdade” total? Cada um fazendo seus horários e vontades? Assim, uma boa convivência começa na convivência consciente de cada um consigo mesmo.
Alternativas aos condomínios
A mediação junto às crianças é essencial para um crescimento saudável e respeitoso, pois elas aprendem o conceito de civilidade nos primeiros anos de vida. É muito mais simples do que parece. “Isso pode, isso não pode”. É preciso educar na tenra idade para que amanhã não seja necessário punir e vigiar. Porque temos tantas câmeras espalhadas nas ruas, prédios, escolas? É uma boa questão para refletirmos.
De outro modo, para que as regras sejam entendidas, é preciso resgatar a função do adulto – autoridade, levando em conta que há duas formas de se obter disciplina, uma por coação e outra por convicção. A obtenção da disciplina através da coação conduz a criança à permanente condição de heteronomia (ser governada por terceiros, necessitando desta maneira ser sempre “vigiada”).É na disciplina por convicção que se leva a criança à autonomia (ser governada por si própria), por escolha. Não seria isso importante para a convivência em espaços públicos?
Mediar é função dos adultos; crianças e jovens necessitam de seus pares, outras crianças, outros jovens para que possam conviver (viver com), mas isso é possível somente quando nós humanos construímos e reconstruímos códigos de convivência baseado em princípios.
O tema da disciplina na escola tem sido recorrente nos debates e nos estudos recentes no campo da educação. Portanto, crianças e jovens devem ser preparados para uma cultura de responsabilização. A mediação ajudará nesse quesito, os auxiliará a perceber o alcance de suas ações. Educar requer frustrar, perder e, principalmente, preparar a nova geração para entender que o outro também exista em sua liberdade.
Por Jane Patrícia Haddad