Condomínios e a prevenção ao suicídio

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Entre vizinhos, funcionários e visitantes, os condomínios formam laços de convivência que podem ser de grande apoio em momentos de dificuldade. Quando falamos sobre ideação suicida ou tentativa de suicídio, esses espaços se tornam preciosos para quem sofre em silêncio. No mundo, todos os anos, cerca de 727 mil pessoas tiram a própria vida, segundo a Organização Mundial da Saúde. No Brasil, são 15.507 mortes por ano (MS/2021) — uma média de 42 por dia.  

Para cada suicídio, estima-se que 25 pessoas tentem e muitas mais pensem seriamente nisso. Embora o problema atinja todas as classes sociais e faixas etárias, a maior incidência ocorre entre jovens de 15 a 29 anos. Cada caso é uma tragédia que abala famílias e comunidades inteiras, com impactos profundos e duradouros. O suicídio é influenciado por fatores biológicos, psicológicos, sociais e econômicos — e, por isso mesmo, a prevenção deve ser um esforço coletivo. 

Conversar pode mudar vidas — como vimos na campanha Setembro Amarelo deste ano. Em condomínios, essa proposta ganha força, já que o ambiente favorece a proximidade entre as pessoas. Uma conversa simples no elevador, uma escuta atenta na portaria ou o olhar cuidadoso diante de mudanças no comportamento de um vizinho podem ser gestos capazes de abrir caminhos para o acolhimento.

Nesse contexto, o papel do gestor se amplia. O síndico moderno é como um concierge da comunidade, responsável não apenas por resolver questões técnicas e financeiras, mas também por promover o bem-estar coletivo. Isso significa cultivar um ambiente de respeito, solidariedade e empatia.  

Desconstruir os mitos sobre a prevenção ao suicídio é essencial. Falar sobre o tema não aumenta o risco; ao contrário, pode aliviar tensões e mostrar a quem sofre que não está sozinho. Outro ponto importante é compreender que, muitas vezes, quem pensa em tirar a própria vida dá sinais ou compartilha sua dor. Levar esses sinais a sério é fundamental, pois a ambivalência é comum — há, ao mesmo tempo, razões para morrer e razões para viver. É nesse espaço de dúvida que a escuta e a presença podem salvar vidas.   

A questão em condomínios se dá em três dimensões. A primeira é a construção de um ambiente saudável, em que pequenos gestos de atenção e solidariedade fazem diferença. A segunda é a ação imediata: em situações de emergência, manter a calma, acionar os serviços de saúde e proteger o local até a chegada das autoridades. A terceira é o acolhimento posterior, garantindo que a comunidade possa se apoiar mutuamente e evitar estigmas.   

Mas o cuidado não é responsabilidade apenas do síndico. Cada morador, colaborador e prestador de serviço tem um papel nesse movimento coletivo. Quando todos se comprometem a olhar uns pelos outros, cria-se um espaço mais humano, empático e seguro.  

Prevenir o suicídio é, antes de tudo, um ato de presença. Conversar, ouvir e acolher são atitudes acessíveis a qualquer um — e podem representar a diferença entre o desespero e a esperança. Em condomínios, onde tantas vidas se cruzam todos os dias, essa missão ganha ainda mais significado. Afinal, cuidar da comunidade é também cuidar de cada pessoa que a compõe — e isso pode, sim, mudar vidas.    


Matéria publicada na edição 317 nov/dez 2025 da Revista Direcional Condomínios

Autor

  • CLEUZANY LOTT

    Síndica profissional, advogada especialista em Direito Condominial, jornalista e publicitária. Preside a Comissão de Direito Condominial da OAB de Governador Valadares/MG e é 3ª vice-presidente da Comissão de Direito Condominial da OAB-MG.