Responsabilidade ambiental. Esse tema também envolve os condomínios.
Saiba como podemos fazer a nossa parte e ajudar o meio ambiente.
Não dá mais para fingir que o assunto não nos diz respeito. Os condomínios também devem se envolver com a questão ambiental. Assim como residências unifamiliares, empresas, fábricas, escolas, comércio e hospitais, quem administra, mora ou trabalha em condomínios deve se preocupar com o lixo gerado, a água gasta e a energia elétrica consumida nos edifícios. É certo que prédios antigos têm limitações técnicas, que vão da simples falta de espaço onde acomodar o lixo reciclável a complicações para a instalação de um aquecedor solar para a água da piscina, por exemplo. Mas há algumas alternativas possíveis e viáveis – e que na maioria das vezes não significam altos investimentos e implicam apenas em boa vontade.
Em 2003, quando a coleta seletiva de lixo nem era tão difundida, a síndica Carmen Mendes Pagan tomou a iniciativa de iniciar o processo no Condomínio Edifício Itororó, um edifício com 160 apartamentos, construído no final dos anos 1950, na Bela Vista. Primeiro, Carmen procurou divulgar entre os condôminos a ideia da separação do material reciclável do lixo orgânico. Alguns moradores contribuíram, trazendo conhecimento e material. Assim, foi produzida uma apostila com cerca de 10 páginas, distribuída a todos. A preocupação da síndica com o tema é antiga. Professora, Carmen deu aulas de jardinagem e agricultura em uma escola técnica e chegou a fazer cursos sobre reciclagem. Na época da implantação do procedimento no condomínio, visitou um lixão da Prefeitura, para entender como é feita a separação e o aproveitamento do material reciclável. “Eu já trazia a consciência de que temos responsabilidade sobre a questão do lixo, apenas procurei trazê-la para o condomínio. Infelizmente, nem todos aderem”, conta. Mas, mesmo sem adesão total, a síndica não desanimou. Treinou os funcionários para apalparem o lixo orgânico. Se percebem que há reciclável junto do lixo comum, retiram e passam para o material que vai para a reciclagem. Em cada andar há uma lixeira para o lixo comum e quatro para o material reciclável, separando papel, plástico, metal e vidro..
Como o prédio não dispõe de espaço para o armazenamento do que é coletado, Carmen e o zelador procuraram cooperativas que pudessem receber o material e que ficassem perto do edifício. “Na época da implantação não havia a coleta da Prefeitura e não podíamos mais esperar. Hoje, vendemos alumínio, garrafas PET e papel para uma cooperativa que fica a uma quadra do condomínio. Os próprios faxineiros do prédio levam o material até lá.” O dinheiro é investido na compra de contêineres e em outras pequenas necessidades do condomínio.
Carmen fica feliz em perceber que o projeto da reciclagem evoluiu no Itororó. Atualmente ela deixa uma caixa de sapatos na portaria para os condôminos depositarem pilhas e baterias de celular. “A caixa está sempre cheia e periodicamente levamos o conteúdo para uma agência do Banco Real, que coleta esse tipo de material. E não há custo nenhum para o condomínio.”
A história da síndica Carmen é um exemplo de como a separação do lixo do condomínio pode dar certo – e sem ter como meta principal a geração de renda. “Não existe coleta seletiva sem educação ambiental. Se não houver a cultura e se os moradores não estiverem envolvidos, os projetos tendem a não funcionar”, atesta Denis Rocha, gerente de projetos e de gestão ambiental de uma grande administradora de São Paulo. Os números mostrados por Denis realmente comprovam que há um complicador cultural na implantação dos programas de reciclagem: dos 400 condomínios da carteira da empresa, ele calcula que cerca de 90 fazem a coleta seletiva. “Destes, imagino que apenas uns 10 implantaram o processo realmente por uma preocupação ambiental”, diz. “Muitos condomínios nos solicitam projetos, mas muito mais por uma cobrança dos próprios condôminos. Fazemos campanhas periódicas junto aos síndicos, e procuramos disseminar a cultura da reciclagem”, completa o gerente.
Denis explica que o objetivo da administradora tem sido mostrar ao síndico que é fácil implantar a coleta seletiva. No projeto, é preciso definir se há espaço para a instalação de lixeiras e onde elas ficarão (“Por uma questão de segurança elas não podem ficar nas escadarias”, comenta), quem recolherá o lixo, como se dará a retirada para que não haja conflito com a entrada social, entre outros detalhes. Um item importante: se o prédio não é servido pela coleta seletiva da Prefeitura, é preciso cadastrar o pessoal da cooperativa que irá retirar o material, para garantir a segurança do condomínio. “Percebo que muitos condomínios não fazem a coleta seletiva por não saber fazer”, destaca. Vale lembrar que a lei estadual no.12.528, de 2 de janeiro de 2007, determina a coleta seletiva de lixo em condomínios residenciais com mais de 50 unidades. Outra lei, a no. 14.973, de 11 de setembro de 2009, esta válida para a cidade de São Paulo, obriga os condomínios comerciais a se adequarem, trocando as lixeiras comuns pelas de coleta seletiva, entre outras exigências. Os condomínios que não cumprirem as determinações da nova lei estarão sujeitos à multa de 10 mil reais, dobrando em caso de reincidência.
Hubert Gebara, vice-presidente de administração imobiliária e condomínios do Secovi-SP, avalia que há uma tendência entre as administradoras de condomínios de oferecer um departamento de meio ambiente, justamente para oferecer assessoria ao síndico em projetos como o da reciclagem de lixo e da coleta de óleo de cozinha. Ele comenta que dos 400 condomínios administrados por sua empresa, 51 já realizam a coleta de óleo. Com média de 20 litros por condomínio, a reciclagem atinge 1020 litros de óleo por mês. A operação consiste em retirar do condomínio o óleo usado em recipiente apropriado para encaminhá-lo a empresas especializadas em sua conversão para o biodiesel. Gebara acrescenta que tudo é feito sem custo para os condomínios. A expectativa é que pelo menos um terço da carteira dos condomínios da empresa implante o sistema, garantindo a reciclagem de 2680 litros de óleo de cozinha por mês. Além de ajudar o meio ambiente, a coleta de óleo contribui com a qualidade das tubulações do edifício, já que o óleo despejado nas pias é prejudicial às instalações hidráulicas da edificação.
É possível destinar o óleo também para a fabricação de sabão. O Instituto Triângulo é uma Organização de Sociedade Civil de Interesse Público (OS CIP), que tem como objetivo mobilizar a população para a prática ecológica urbana. No site do Instituto (www.triangulo.org.br) é possível localizar Pontos de Entrega Voluntária (PEV s), onde os condomínios podem entregar o óleo coletado. O óleo é utilizado na produção do sabão ecológico. O Instituto frisa que somente óleos de origem vegetal (soja, milho, canola, girassol, algodão, etc.) são utilizados na produção do sabão ecológico.
Além de promover a coleta seletiva do lixo e do óleo, e de outras iniciativas sempre debatidas, como a economia de água através da individualização da medição de consumo, os condomínios podem atuar em prol do meio ambiente através de outras atitudes, como a substituição do piso da calçada. Já há no mercado pisos ecologicamente corretos, especialmente indicados para calçadas. Uma das opções, o piso Pé de Moleque, é antiderrapante e utiliza concreto, fibras naturais e agregados minerais na sua composição e, conforme o fabricante, permite absorção e permeabilidade superior a 90%, ou seja, evita empoçamento sem comprometer o escoamento das águas pluviais para o lençol freático. Além de melhorar a mobilidade urbana, esse tipo de piso pretende contribuir para os problemas das enchentes da cidade.
Matéria publicada na edição 141 nov/09 da Revista Direcional Condomínios
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