“Condômino Cidadão” é aquele que faz do condomínio o seu lar

Hoje em dia, percebo que muito se fala de administração e gestão em condomínios, dos direitos e deveres dos condôminos, da segurança e conforto que estas ilhas proporcionam aos que ali moram, dos conflitos e da necessidade de regras para o bom convívio entre vizinhos e o respeito à propriedade, entre outras necessidades que a vida moderna e em sociedade demandam. Porém, você leitor, já parou para pensar que muito do que foi dito acima se trata de um olhar externo para dentro do condomínio, tratando-o como uma simples massa de pessoas?

Também, que, por vezes, essas providencias são criadas por pessoas de fora do convívio do condomínio e que somente existem devido à falta de consciência de alguns condôminos ou “candidatos” a moradores, do que verdadeiramente representa pertencer a uma comunidade condominial? Pois bem, vamos falar um pouco a respeito desta consciência, do que representa efetivamente ser um “Condômino Cidadão”, fazendo com que o sentimento de pertencimento a uma comunidade condominial brote de dentro de cada um daqueles que habitam os condomínios ao longo de todo o Brasil, afinal, guardadas as devidas proporções, condomínios só mudam de endereço!

No atual contexto social, diante da velocidade das informações e da percepção de que o tempo é curto a todos nós, temos cada vez mais pessoas procurando praticidade em seu cotidiano e, por este motivo, morar em um condomínio é uma saída prática e satisfatória para todos nós. Lembro que no passado, quando visitava uma tia-avó em um pequeno condomínio na região da Pompéia, zona oeste de São Paulo, me admirava com a sensação de organização e bem-estar que aquele ambiente me transmitia e, mesmo não tendo a consciência de que nos bastidores havia problemas, eles estavam ali presentes e eram resolvidos entre os vizinhos, pois, a maior questão naquele ambiente não era financeira/patrimonial, era sim, corrigir o desconforto que pudesse ter sido causado ao próximo.

O tempo passou e as coisas se modernizaram; meios eletrônicos encurtam distâncias e facilitam o dia a dia. Atualmente, é possível comprar um carro pelo aplicativo de mensagens, mas ainda assim, muitas pessoas não conseguem se comunicar com seus vizinhos, terceirizando-se, muitas vezes, providências que teriam de ser tratadas entre os vizinhos de porta e dos andares adjacentes.

O curioso é que muitos acreditam que a obrigação de resolver os problemas é unicamente da administração do condomínio, pois é “paga” para este fim, esquecendo que as mudanças partem de dentro de si; uma pequena virada de chave na consciência e a realidade pode mudar substancialmente. Sabemos da correria do cotidiano e do tempo escasso, mas quando a mudança parte de cada uma das pessoas que estão morando em um condomínio, aquele ambiente se torna um Lar!

A presença em condomínios de pessoas que são resistentes às normas e estão sempre imbuídas de uma incompreensível razão própria, se traduz em desarmonia. Não digo que estas pessoas seriam “rebeldes sem causa”, mas observo que muitas vezes elas não amadureceram a ideia de que seguir algumas regras podem trazer benefícios, dentre os quais a valorização do patrimônio. Portanto, para essas pessoas que ainda não se encontraram no cotidiano de seus condomínios, posso dizer que, um trabalho de conscientização poderia ajudar a reverter esse aspecto rebelde para uma condição de colaboração com a comunidade condominial.  

Como dito anteriormente, a integração das pessoas que já moram em um condomínio é muito importante, é justamente desta relação mais próxima entre as pessoas que surge um ambiente agradável de convivência entre vizinhos, um ambiente seguro que proporciona a todos bem-estar, onde as pessoas passam a enxergar o condomínio como verdadeiramente um lar.

Entretanto, muitos podem estar se perguntando: “E quando o condomínio é novinho e nunca morou ninguém ali, como fazer?” Veja, como dito ao longo do artigo, a consciência de boas práticas parte de cada uma das pessoas que desejam morar em um ambiente sadio e organizado. Se o futuro condômino levar a sua vivência positiva e suas boas intenções para viver em um ambiente novo, como o que estamos mencionando, o condomínio que está surgindo será uma fonte de inspiração e respeito por todos os que ali forem morar.

Se tornar um Condômino Cidadão é uma condição que mudaria a realidade de muitos edifícios pelo país, pois estas pessoas se integrariam à sinergia do condomínio, contribuindo para o desenvolvimento do ambiente, acabando com a inadimplência e os conflitos do cotidiano, trazendo assim a valorização do patrimônio pertencente a cada um daqueles que ali pretendem morar ou investir. Todavia, a plenitude deste objetivo passa pela conscientização.

Desse modo, convido leitores a despertarem o sentimento de pertencimento em sua comunidade condominial, instigando os vizinhos a se conhecerem e a todos a colaborarem com a vida em condomínio, fazendo assim com que tenham consciência de que são verdadeiros Condôminos Cidadãos.


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Autor

  • Rodrigo Matias de Oliveira

    Advogado especializado em condomínios, com MBA em Direito Imobiliário (Faculdade Legale) e em Direito do Trabalho (EPD), além de consultor jurídico em contratos. Sócio-fundador do escritório Matias & Nunes – Sociedade de Advogados; membro da Comissão de Direito Condominial da OAB/SP e membro fundador da Sinergia Condominial.

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