Consumo de energia no condomínio: Aquecedores e chuveiros elétricos e o aumento da carga

“O frio traz a necessidade de mudar o botão do chuveiro, ou comprar um aquecedor, mas é necessário avaliar a instalação antes”

Inverno, frio, e chega a hora do banho, brrrrr que frio! O chuveiro não esquenta, não está fácil para tomar banho. Já sei, vou comprar um chuveiro que esquente mais. Também vou aproveitar e comprar um aquecedor, pois assim deixo o quarto quente e quando saio do chuveiro não tenho que enfrentar o gelado.

Estas duas situações acontecem muito nesta época do ano, principalmente nos Estados do Sul e Sudeste do Brasil, onde as temperaturas chagam a beirar o “zero grau” ou menos. Para não fugir do jargão de sempre. É aí que mora o perigo! Perigo por dois motivos: quando o chuveiro é elétrico e a instalação elétrica não foi modificada, provavelmente ela não foi preparada para as potências dos chuveiros atuais e que aquecem mais do que os anteriores.

Chuveiros mais potentes

Só para se ter uma ideia, os chuveiros há 20 anos tinham potências elétricas máximas em torno de 4400 Watts. Há 10 anos subiram para 5600 Watts em média, porém, atualmente esta potência beira os 8000 Watts. E você deve estar pensando: o que isto tem a ver com o perigo, não é mesmo? Explico: A potência do chuveiro está ligada diretamente ao seu aquecimento, mas também consome mais energia. Esta energia, que é a passagem dos elétrons pelos fios, demanda um fio mais grosso, ou como se diz tecnicamente, com seções maiores do que os fios usados para os chuveiros anteriores.

Considerando que você comprou o chuveiro na loja de materiais de construção ou Home Center e decidiu instalar sozinho, sem uma avaliação prévia da instalação por um profissional, provavelmente você terá uma surpresa quando ligar o chuveiro. Esta surpresa será o desligamento do disjuntor, caso ele esteja protegendo os fios do chuveiro corretamente. Se isto não acontecer, o pior poderá acontecer e em pouco tempo: O fio vai aquecer e poderá gerar um princípio de incêndio no seu imóvel. Neste caso, e antes de comprar o chuveiro, chame um profissional para avaliar a situação da instalação elétrica, e o dimensionamento dos condutores (incluindo o fio terra), além dos dispositivos de proteção (Disjuntor e DR), para então poder comprar o chuveiro, e se necessário, os materiais para serem substituídos.

No condomínio

Agora se você mora em um condomínio de apartamentos, vamos para um segundo risco, e aviso, esta preocupação deve estar na lista do síndico. Se você comprou um chuveiro de 8 mil Watts e substituiu todos os fios e dispositivos de proteção corretamente, provavelmente não terá problemas, mas se o seu vizinho fez a mesma coisa, e os vizinhos de cima e de baixo, e dos demais andares, imagine o quanto de carga foi aumentada no prédio.

Vamos fazer uma conta rápida. Se o prédio tem 10 apartamentos com um banheiro cada, a instalação elétrica estava preparada para 4400 Watts, tínhamos 44000 Watts (ou 44 quilowatt  – 44KW) de chuveiros instalados. É fato que não são todos os moradores que tomam banho no mesmo horário e, para isto, há um fator de correção que o projetista usa, mas vamos fazer outra conta. Se os 10 apartamentos substituíram seus chuveiros para 8000 Watts, temos então 80 mil Watts (ou 80KW) instalados. Se considerarmos que 30% dos moradores tomam banho ao mesmo tempo, temos: para 44KW uma carga sendo utilizada simultaneamente de 13200 Watts, e para 80KW uma carga de 24000 Watts. Observe que o prédio precisará de quase o dobro da capacidade atual para suportar esta situação.

Este aumento de carga sem substituição dos condutores levará à mesma situação do imóvel individual, ou seja, ao desligamento do disjuntor ou aquecimento dos fios com princípio de incêndio. Considerando que, de acordo com os números de incêndios originados pela eletricidade, que em 2015 foi de 441 (fonte ABRACOPEL), temos uma grande tendência de acontecer esta segunda situação. Então, não perca um só minuto para atualizar sua instalação (no caso de instalações individuais) e a do condomínio no caso de instalações prediais.

Aquecedores: conta diferente e risco maior

Mas o problema não fica só no chuveiro. Vamos aproveitar para falar de aquecedores elétricos, supondo que o comprador do chuveiro levou também um aparelho deste para casa, aproveitando a promoção. Em média, estes aquecedores portáteis têm potência entre 1500 e 2000 Watts. Se considerarmos a tensão em que eles serão ligados como sendo 127 Volts (tensão em grande parte do País), teremos uma corrente aproximada entre 11 e 18 Amperes. E você volta a perguntar: E daí? Vamos lá. Uma tomada de uso geral, aquelas projetadas para ligarmos os equipamentos pela casa, tem capacidade máxima para 10 Amperes. Lembrando que atualmente temos dois modelos de tomadas aprovadas para serem vendidas no Brasil. São elas: tomadas com furos de 4 mm para circuitos até 10 Amperes e as tomadas com furos de 4,8mm para circuitos com 20 Amperes (observe que estou falando de tomada e não de plugue).

Considerando que um aquecedor terá passando pelos fios 11 a 18 amperes, a tomada deverá ser a de 20 Amperes com furo de 4,8 mm certo? Se você observar o plugue de um aquecedor, e comparar com o de um liquidificador, por exemplo, verá que ele é mais grosso, ou seja, o plugue do aquecedor só poderá ser ligado em uma tomada para 20 Amperes.  Mas nesta tomada de 20 Amperes, deverá ter um circuito (fios) que suportem os 20 Amperes, e estejam protegidos por um disjuntor compatível para o circuito.

Então, resumindo: Se você comprou um aquecedor para seu quarto e ele tem um plugue com pinos mais grosso que a tomada, por favor, não use adaptadores, não substitua a tomada sem substituir os fios e disjuntores e não ligue o aquecedor. É melhor você passar um pouco de frio, do que colocar em risco a sua instalação elétrica e, consequentemente, a sua família. Aproveite e contrate um profissional para avaliar e reformar a instalação elétrica.

Da mesma forma, o consumo de energia e o risco se aplicam ao condomínio, com uma pequena alteração. No caso do chuveiro tínhamos um chuveiro com potência de 4400 e mudamos para 8000 Watts, o que causou uma diferença média por apartamento de 1080 Watts certo? (24000-13200 = 10800 dividido por 10 apartamentos temos 1080 Watts por apartamento), considerando-que eles são utilizados por cerca de 15 minutos por dia em média. No caso do aquecedor, teremos um acréscimo de 1500 Watts por apartamento, só que agora a conta é diferente, pois todos os apartamentos ligarão o aquecedor praticamente no mesmo horário e deixarão a noite toda ligado. Portanto teremos 1500 Watts por 10 apartamentos, 15 mil watts ligados por cerca de 8 horas. Esta conta beira ao consumo do ar condicionado que tratamos durante o verão. A diferença, meu caro síndico, é que o morador não instala o aquecedor do lado de fora, ele comprar na loja e pluga na tomada……

Pois bem, o objetivo deste artigo, um pouco longo, foi o de alertar para os riscos que estes dois equipamentos podem causar nesta época do ano e sugerir que vocês todos se preocupem com a instalação elétrica da sua casa, apartamento ou condomínio.

Não reproduza o conteúdo sem autorização do Grupo Direcional. Este site está protegido pela Lei de Direitos Autorais. (Lei 9610 de 19/02/1998), sua reprodução total ou parcial é proibida nos termos da Lei.

Autor

  • Edson Martinho

    Engenheiro Eletricista, é diretor-executivo da Abracopel (Associação Brasileira de Conscientização para os Perigos da Eletricidade). Escreveu e publicou o livro "Distúrbios da Energia Elétrica" (Editora Érica, 2009).

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

16 − 7 =