Especialistas recomendam aos síndicos tomar iniciativas que favoreçam a integração de crianças, jovens e adolescentes. É uma boa maneira de estimular o aprendizado das normas, implantar a cultura do convívio e diminuir os problemas internos.
Especialistas recomendam aos síndicos tomar iniciativas que favoreçam a integração de crianças, jovens e adolescentes. É uma boa maneira de estimular o aprendizado das normas, implantar a cultura do convívio e diminuir os problemas internos.
Em uma final de tarde fria de agosto em São Paulo, em plena sexta-feira, a movimentação das áreas comuns do Condominium Club Ibirapuera (CCI) lembrava ao vaivém de uma pequena cidade. O ar gelado e seco não impedia que jovens e adolescentes ocupassem as quadras e playgrounds do empreendimento erguido há quase duas décadas no coração de Moema, bairro da zona Sul de São Paulo. Tampouco as crianças se incomodavam com o excesso de roupas. Orientadas por monitores, algumas brincavam de roda, outras se entretinham na brinquedoteca. Mas o ponto de convergência estava na lanchonete- bar do condomínio, onde haveria uma noite especial da esfiha, reunindo pais e filhos de todas as idades.
Assim é a vida no empreendimento, um dos primeiros condomínios-clube de São Paulo, e também um dos pioneiros na recreação monitorada. “Vivemos dentro de uma bolha de tranquilidade”, define o síndico e publicitário Sérgio Felício Ribeiro, que assumiu o cargo em março deste ano. Sérgio mora no condomínio desde o princípio e já foi subsíndico geral. Entre conselheiros, síndico e subsíndicos, o corpo dirigente do CCI é formado por 18 condôminos.
“Toda a estrutura de serviços privilegia o contato, o coletivo, e você acaba se relacionando e criando vínculos de amizade”, justifica o síndico. Além de atividades orientadas promovidas de segunda a sábado com horários e perfis distintos para cada faixa etária, incluindo jovens e adultos, os monitores participam também da organização de eventos sazonais, como Festa Junina, Halloween e Natal. Sérgio estima que pelo menos 60% dos cerca de mil moradores das quatro torres e 272 unidades do CCI sejam menores de idade. Ele acredita que cabe aos condomínios proporcionarem espaços de sociabilização entre a garotada e seus familiares, favorecendo um convívio mais tranquilo.
“TURMINHA DO FUNDÃO”
É claro que toda essa infraestrutura não elimina os problemas, especialmente com a faixa etária que “gosta de transgredir”, os pré-adolescentes. Alguns deles quebraram recentemente peças do acervo da brinquedoteca do CCI. Porém, municiada por 80 câmeras de CFTV, não foi difícil à administração identificar os responsáveis e multar seus pais, que já haviam sido notificados por um episódio anterior protagonizado pela mesma “turminha do fundão”. É preciso muito “jogo de cintura”, reconhece Sérgio, que observa, no entanto, uma interlocução mais fácil com os familiares mediante o hábito de convivência implantado no local.
Assim, novas oportunidades de integração continuam a ser buscadas. A escolinha de futsal foi uma das conquistas recentes da garotada; já as crianças ganharão, em breve, espaço para horta. A atividade ficará a cargo da equipe comandada pela empresa de Sueli Ribeiro, responsável desde 2003 pela programação do local, envolvendo da recreação de bebês a aulas de pilates, ballet, judô, muay-thai, jazz, dança de salão, ioga e ginástica feminina. Mas Sueli deixa uma ressalva importante aos condôminos: mesmo com os monitores, a presença dos pais ou responsáveis permanece indispensável durante as brincadeiras orientadas.
Para o psicólogo Hernan Maximilian De Villar, especialista em gestão de clima organizacional, compete aos condomínios não apenas proporcionar espaços aos menores, como conceder a eles possibilidade de apresentar sugestões, ter “assembleia própria” e normatizar o próprio convívio. “O adolescente, por exemplo, até por sua própria característica, fica deslocado no condomínio, não entende as leis. Seria importante então que a assembleia dos condôminos desse a ele a chance de opinar e mesmo compreender as regras”, analisa Hernan. Com a experiência, os grandes demonstram que “é possível dialogar as diferenças, o que acaba sendo um exercício para sua vida futura adulta, para a cidadania”.
APRENDENDO AS REGRAS
No Condomínio Edifício Practical Way, localizado na Vila Leopoldina, zona Oeste de São Paulo, a síndica Silmara Nascimento Ruiz introduziu atividades monitoradas de férias para todas as idades no último mês de julho. Com agenda dividida por faixa etária, a empresa contratada pela síndica reservou para os pequenos a recreação no playground, brinquedoteca e praça interna ao longo do dia; programou futsal para os maiores no final da tarde; e ofereceu alongamento aos jovens e adultos no começo da noite. O condomínio possui três torres e 288 apartamentos, com ampla infraestrutura de lazer, e já registrara solicitação dos pais para organizar uma programação especial de férias (que contou ainda com sua primeira festa julina).
De acordo com Silmara, a experiência foi positiva e deve ser repetida. “Nessas férias, por exemplo, o índice de reclamações diminuiu em 90%”, revela. A síndica analisa que uma agenda de atividades traz múltiplos benefícios ao ambiente coletivo: tranquilidade, já que a garotada se ocupa e “não destrói o que te temos”; “união entre eles, pois a atividade é sempre em conjunto”; “conhecimento do que pode e não pode, pois temos regras”; e melhor aproveitamento dos recursos de lazer.
Matéria publicada na edição – 183 de set/2013 da Revista Direcional Condomínios