Crise hídrica – Reuso, Economia e Armazenamento

Opção econômica e sustentável, aproveitamento de água de chuva é viável para regas de jardins e limpeza das áreas comuns dos condomínios.

Gota d'água

Bruno Ferreira Luize é síndico profissional de dois condomínios que possuem sistema de aproveitamento de água de chuva, entregue pelas construtoras. Ambos ficam na Mooca – o Grand Mooca, construído há dois anos e meio, tem 224 unidades e o Forma, entregue há pouco mais de um ano, 130 unidades residenciais – e contam com reservatórios para armazenamento das águas pluviais no subsolo. O Forma dispõe ainda de um equipamento para filtragem da água localizado no térreo – uma empresa terceirizada cuida da manutenção desse sistema. “O único cuidado que precisamos ter é, quando não há água de chuva nos reservatórios, alterar o registro para que as torneiras das áreas comuns sejam alimentadas com água potável da rede pública”, explica Bruno. Porém, em prédios que não contam com o sistema de aproveitamento das águas de chuva desde a instalação do condomínio, o síndico vê uma grande dificuldade em convencer os condôminos da importância desse tipo de obra.

Paulo Melo, administrador condominial e síndico profissional, acredita que faltam divulgação e campanhas educativas sobre reuso de água. O tema volta à tona nos condomínios sempre que os reservatórios da cidade atingem níveis preocupantes. Mas Paulo pondera que “muitos nem sabem que podem captar água de chuva para lavagem das áreas comuns ou rega de jardim”. Para Paulo, são obras viáveis e com grande efetividade. “Mas, é preciso optar por empresas especializadas. Há casos em que instalam as caixas no subsolo sem prever uma bomba adequada para levar a água até as áreas comuns”, diz.

Apesar das dificuldades para implantação de sistemas de captação de fontes alternativas de água não potável em condomínios, o Brasil tem evoluído sobre o tema. A primeira norma técnica da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas), a NBR 15.527, que trata do aproveitamento da água de chuva para fins não potáveis, foi elaborada em 2007. Outras duas normas, de 2019, abordam o assunto: a NBR 16.782 (conservação de água em edificações) e a NBR 16.783 (uso de fontes alternativas não potáveis em edificações).

Regina Sodré, engenheira civil com mestrado em Engenharia Hidráulica e Saneamento, explica que existem três principais fontes alternativas de água não potável para condomínios: o reuso de águas cinzas e águas negras (esgoto doméstico), que seriam os efluentes que poderiam ser tratados e reaproveitados no empreendimento, e o aproveitamento de água de chuva ou pluvial (inclui cobertura e pisos impermeáveis). “É importante esclarecer que a água de chuva não é uma fonte de água que será reaproveitada, e sim uma fonte que será utilizada pela primeira vez. É muito comum usarmos equivocadamente o termo de reuso para água de chuva. A água de chuva, comparada a água de reuso, é uma fonte de água que requer menos tratamento e pode ser aproveitada para fins não potáveis”, pontua Regina, que foi uma das autoras do Guia Orientativo das Normas de Conservação de Água, Fontes alternativas não potáveis e Aproveitamento de água de chuva em edificações, elaborado pelo SindusCon-SP (Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de São Paulo).

Regina explica que um engenheiro com experiência em projetos de aproveitamento de água de chuva, ou projetos de reuso e de hidráulica predial, está habilitado para estudar a viabilidade de reuso de água ou aproveitamento de água de chuva nos condomínios. O projeto deve conter o CREA, o estudo de balanço hídrico, a criação de um plano de comunicação e um manual de manutenção e gestão operacional. “O projeto de reuso de água ou de aproveitamento de água de chuva deverá ser realizado para o atendimento a uma demanda não potável. Em condomínios de pequeno porte não se justifica a adoção de soluções de reuso de efluentes, pois o custo de operação irá inviabilizá-lo. Nesse caso, o mais indicado é adotar o aproveitamento de água de chuva”, esclarece.

Para a engenheira civil Rita Carrara, que presta assessoria em sustentabilidade para condomínios, a pauta precisa fazer parte urgentemente das prioridades dos gestores. “A água é um bem precioso e muito caro para ser desperdiçado”, aponta. Rita orienta os síndicos que consultem um profissional habilitado para fazer um estudo de viabilidade do aproveitamento de água de chuva. “Esse profissional irá avaliar as instalações hidráulicas do condomínio, verificar o tamanho do telhado, o índice de chuva para aquela região por ano, estimando a média de chuva por mês e dimensionando o tamanho do reservatório apropriado. Ele ainda irá estudar a estrutura do prédio e verificar se comporta a carga pontual de mais um reservatório. Também é necessário prever um “ladrão” no reservatório, interligado com a rede pública de esgoto, caso chova muito e a caixa não suporte o volume de água.”

Uma dica importante: o condomínio deve informar a Sabesp sobre a utilização de sistemas de reuso, uma vez que a adoção da prática implica em alterações no consumo de água potável e na utilização da rede coletora de esgotos.

A informação pode ser prestada ao Técnico de Atendimento Comercial Externo (TACE) ou por meio dos canais de relacionamento da Sabesp. Segundo a área de comunicação da Sabesp, pode haver redução do valor da conta relacionado ao consumo de água potável. Em relação ao valor da conta relativo à utilização da rede de esgotos não haverá redução, conforme a Sabesp.


Matéria publicada na edição – 276 – mar/2022 da Revista Direcional Condomínios

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