Drogas nos condomínios, ações e possíveis soluções

Nas áreas comuns do condomínio, a responsabilidade pela boa convivência e bem-estar de todos depende das normas regulamentadas na Convenção e, sobretudo, às leis vigentes do País, às quais todo cidadão está submetido. O bem-estar de todos se sobrepõe ao bem-estar individual.

O tema droga é sempre muito delicado. Como lidar com adolescentes e adultos que utilizam drogas lícitas ou ilícitas nas áreas comuns, ou seja, como iniciar e prosseguir uma abordagem mais adequada junto a esse condômino?

O fato é que inexiste uma solução simples. Aos síndicos e demais gestores, cabe adotar um conjunto de ações, o qual será apresentado a seguir.

Aplicação das normas internas

As autoridades responsáveis pelo condomínio devem comunicar o ocorrido aos responsáveis ou aos demais moradores da residência sobre a desobediência às normas, em especial se tratar de envolvimento de menores.
Nesses casos, a família deve ser alertada sobre o problema, não só por uma questão de vizinhança, mas principalmente por uma questão social, uma vez que o Estatuto da Criança e Adolescente, em seu Artigo 4º, determina que é dever da sociedade, em geral, garantir a vida e a saúde do menor.
A questão é delicada, complexa, polêmica e carece muito da atenção do condomínio, uma vez que o Estado trata a questão não só no aspecto penal, mas também no âmbito socioeducativo.

Reforço da estrutura de segurança
Outra providência é a iluminação dos locais problemáticos. A experiência tem demostrado que quando o condomínio é bem iluminado, há uma significativa diminuição de usuários nessas áreas. Esses tendem a procurar locais escondidos, de pouca luminosidade e pouco acesso.
Pode-se usar vigilância interna, com autorização e autonomia concedida aos funcionários, que mesmo sendo pagos pelos condôminos, possuem autoridade para agir conforme a situação pede, sempre de acordo com as normas da Convenção e do Regimento.

União de condomínios e de condôminos
A experiência mostra que a reunião de alguns condomínios resulta em um bom resultado. Com todos seguindo mais ou menos as mesmas diretrizes, esses conseguem atingir seus objetivos com maior facilidade e manter a paz e a harmonia dentro do espaço comunitário do condomínio, além de poderem recorrer com mais facilidade às instituições governamentais.
Em relação aos eventos sociais, que ocorrem esporadicamente, também é bom deixar muito claras as normas com relação à utilização de drogas lícitas e ilícitas. O importante é deixar cristalino que a ordem e bem-estar de todos os condôminos será preservada, e até deixar algum funcionário do condomínio responsável pela supervisão do evento.

Atitudes preventivas
Ações preventivas e educativas devem ser trazidas para os condomínios, através de:
– Palestras explicativas, com profissionais devidamente capacitados e experimentados;
– Vídeos e filmes educativos sobre drogas e suas consequências;
– Consequências criminais na utilização de drogas, tanto para o condomínio, como para o usuário e sua família;
– Parceria com o Programa PROERD, desenvolvido pela Polícia Militar de São Paulo e que tem sido aplicado com sucesso em escolas da rede pública e privada.

Ocupar os jovens, uma saída
As atividades esportivas representam um bom caminho, pois auxilia os pré-adolescentes e adolescentes a se solidarizarem com os demais e, junto ao esclarecimento e apoio psicopedagógico, pode, e muito, contribuir na prevenção dos pequenos, ou seja, daqueles que ainda não estão envolvidos com as drogas.
É preciso orientar sem preconceitos e pudores para uma maior conscientização, dos filhos e pais. Este trabalho tem que ser desenvolvido em parceria com os familiares, para que seu efetivo objetivo seja atingido.

Busca de apoio externo
Outro ponto a considerar é o serviço voluntário. Buscar apoio na região ou em instituições carentes, em especial voltadas para usuários de drogas, também pode sensibilizar os adolescentes para a problemática envolvida.

O exemplo vem de casa
Além das drogas ilegais, também as drogas legais, especialmente as bebidas alcóolicas, têm causado transtornos no dia a dia dos condomínios. E devem ser abordadas devidamente. Neste item o exemplo é fundamental. Filhos são reflexos dos pais, de nada adianta falar para seu filho não beba, ou não fume, se um familiar próximo é o primeiro a beber e fumar.

Atenção especial aos condomínios-clube
Principalmente os condomínios-clube, com bosque e imensas áreas de lazer, têm sofrido com os chamados ‘esquentas’ promovidos por grupos de jovens, que antes de irem para as festas, bebem. E os pais se transformam em avestruzes: fingem que nada está acontecendo.
É importante a conscientização dos pais e responsáveis. Sempre se levando em conta que o condomínio é um espaço de TODOS e que TODOS devem ser respeitados.

Uma saída: o modelo restaurativo
Finalmente, apresentamos aqui uma saída, pouco conhecida, mas eficaz: os círculos restaurativos.
O que é o modelo restaurativo?
O modelo restaurativo visa reestabelecer o diálogo, através da vivência do outro, na situação que deu a causa. Como o outro se sentiu com a atitude do causador. Mostra ao causador o que o comportamento dele gera no outro e assim sucessivamente.
Neste modelo se defende o confronto entre o viciado e seu interlocutor, com a finalidade que ambos, bem como os terceiros envolvidos, avaliem o conflito e a partir daí, tenham outra percepção dos fatos que não a sua. Dá oportunidade de reavaliação de suas condutas.
Nos círculos com viciados em drogas, há de se levar em consideração que eles precisam estar conscientes e não alterados, além de estarem disponíveis para o procedimento. Só assim o círculo poderá ser efetivo.
O modelo restaurativo, embora partindo de um fato passado, leva os conflitos à avaliação de confrontos, perspectivas e interpretações com uma visão prospectiva. É voltado para o futuro, onde há responsabilização não apenas pelo dano causado, mas pela interpretação do eu presente.
Neste modelo, a participação da comunidade é fundamental, para que se garanta a formação e educação voltada para as questões sociais e ao papel de cada um na coletividade. O modelo restaurativo funciona também como prevenção para os demais participantes não envolvidos diretamente na causa.

São Paulo, 3 de julho de 2014.

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