As obras de pintura das fachadas costumam ser das mais complicadas para os síndicos. Da escolha da empresa à definição da cor, passando pelo acompanhamento da obra, todas as etapas são importantes para um bom resultado final. Apesar de trabalhosa, a pintura não pode ser postergada por muitos anos. “Costuma-se falar em repintura a cada três anos, mas tudo depende da qualidade da pintura efetuada”, aponta o engenheiro Tito Lívio Ferreira Gomide, ex-presidente do Instituto Brasileiro de Avaliações e Perícias de Engenharia (Ibape -SP) e perito em engenharia diagnóstica.
Tito Lívio argumenta que é fundamental enxergar as edificações não como um produto industrial, perfeitamente acabado, mas como um projeto especial e que exige cuidados. “Lavagens, rejuntamentos periódicos e pintura são etapas da manutenção necessárias às fachadas. Admitimos uma vida útil de 30 anos para as fachadas que recebem manutenção adequada. Após essa idade, sempre é preciso programar uma grande revisão”, afirma.
Na busca de um serviço de qualidade, os síndicos devem se cercar de todos os cuidados. Foi o que fez Maurício Jovino, do Residencial Guignard, localizado em Guaianazes, que tinha uma meta bem definida: pintar as sete torres do empreendimento. Isso porque, com sérios problemas de caixa (que retrocederam graças à individualização da cobrança da água e do gás), o condomínio ficou oito anos sem pintura. “Não bastava pintar. Tínhamos sérios problemas de fissuras e microfissuras. Solicitei um laudo junto a um fabricante de tintas e, com base nesse estudo, pedi os orçamentos às empresas de pintura. De cara avisava que trabalharia com um cronograma físico-financeiro de obras. Ou seja, só pagaria na medida em que o serviço fosse entregue. Também exigi um memorial descritivo da obra e orientei o zelador a fotografar todo o material que chegasse ao condomínio.”
As exigências resultaram em um contrato muito bem delineado. “A pintura nos custou muito, e foram anos esperando. Era uma responsabilidade grande e eu precisava garantias de que o serviço seria bem feito.” Maurício foi criterioso também com a escolha das cores. As torres tinham três cores, que causavam insatisfação nos moradores. “Os tons usados eram areia, azul e ferrugem, quase um abóbora, que realmente não agradava. Conseguimos colocar novas opções de cores em fotos do condomínio no computador. Levamos doze combinações para assembleia, que resultaram em três finalistas. Estas foram votadas, através de uma urna que ficou 30 dias no condomínio para que todos pudessem se manifestar”, relata. Hoje, dois anos após a conclusão do serviço, satisfeito com o resultado final e com os blocos já pintados em verde claro e bege, Maurício programa a repintura de muros, pisos e gradis e já pensa na nova pintura das torres. “A cada cinco anos é preciso repintar tudo, não há como fugir. A poluição e as chuvas deixam as fachadas muito desgastadas.”
QUAL TINTA USAR?
A escolha da tinta é ponto fundamental no processo de pintura. Segundo Gisele Bonfim, gerente técnica e de meio ambiente da Associação Brasileira dos Fabricantes de Tintas (Abrafati), a tinta aplicada em fachadas deve primeiramente resistir bem às intempéries, ou seja, aos efeitos de chuvas, ventos e sol. “É importante destacar, no entanto, que o bom resultado de qualquer pintura não depende apenas da qualidade da tinta utilizada, mas também de outros dois fatores básicos: a preparação da superfície a ser pintada e a correta aplicação do produto”, orienta.
Para o engenheiro Jerônimo Cabral Pereira Fagundes Neto, especialista em perícias prediais e membro do Ibape, inúmeras podem ser as causas de problemas com a pintura nas fachadas. “Costuma-se associar as patologias à tinta, mas muitas vezes temos problemas de preparo da base. Por exemplo, uma argamassa nova precisa de um mês de cura para que receba pintura, secando a água incorporada no seu preparo. Pintar antes disso é certeza de péssimo resultado”, avalia.
Para Gisele, não é necessário que conste a especificação “fachada” na embalagem da tinta para que ela seja indicada para esse uso. Conforme a especialista, a norma técnica estabelece que devem ser usados os dizeres “interior/exterior” na embalagem para tintas indicadas para uso externo, ou seja, em fachadas. “Só podem ser usadas nessa aplicação as tintas classificadas como Standard ou Premium, que têm maior resistência às intempéries. Tintas classificadas como ‘econômicas’ são indicadas exclusivamente para ambientes internos”, reforça. Gisele lembra que, para obter um bom resultado na pintura, todo o sistema precisa ser adequado. “Isso inclui a preparação da superfície, a escolha da tinta e de produtos complementares, e a utilização das técnicas corretas para aplicação dos produtos. É fundamental verificar se a tinta atende às especificações mínimas determinadas pelas normas técnicas brasileiras. Esse é o melhor critério técnico para saber se uma determinada tinta tem padrões mínimos de qualidade.”
PVA OU ACRÍLICA?
Distinguir entre tintas látex PVA e tintas látex acrílicas é outra dificuldade dos usuários. “Muita gente acredita que tintas acrílicas seriam indicadas para uso externo enquanto as PVA estariam restritas aos ambientes internos, em função de fatores como lavabilidade e durabilidade. Essa informação nem sempre é verdadeira, pois existem tintas acrílicas ‘econômicas’, indicadas apenas para uso interior, assim como tintas látex PVA Standard e Premium, que podem ser aplicadas em fachadas sem nenhum problema”, define Gisele Bonfim, da Abrafati. Ela explica que a principal diferença entre as tintas látex PVA e tintas látex acrílicas é a resina utilizada. As tintas PVA usam acetato de polivinila, enquanto as acrílicas são à base de resina acrílica.
As tintas para aplicação em fachadas devem resistir ainda às lavagens, procedimentos que não devem diminuir a sua durabilidade. Gisele orienta, porém, que essa resistência não se dá por tempo indeterminado e depende de fatores como as condições ambientais do local do imóvel, a forma e a periodicidade das lavagens. Segundo ela, “Para lavagens mais frequentes, é recomendável o uso de tintas Premium, que apresentam maior resistência do que as Standard”.
Matéria publicada na Edição 158 de junho 2011 da Revista Direcional Condomínios.
Matéria publicada na edição 158 jun/11 da Revista Direcional Condomínios
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