A necessidade de racionalizar o uso dos recursos naturais no Brasil atinge hoje também o setor energético. Juntamente com a água, a eletricidade tornou-se bem nobre, demandando valorização e economia. O passo inicial de muitos condomínios para atingir a meta de redução do consumo é providenciar o retrofit de suas instalações, por onde evitarão, por exemplo, fuga de energia. A segurança entra como outro quesito importante nesse tipo de obra.
“O relato recorrente dos moradores de que as chaves dos disjuntores se desarmam de uma a duas vezes por semana é o principal sinal de que algo está errado, de que é preciso um retrofit”, afirma o engenheiro elétrico Jair Francisco de Andrade Pinheiro. Ele era subsíndico do Condomínio Nicola Pardelli quando acompanhou uma ampla reforma nas instalações elétricas. O prédio residencial de 50 anos localizado em Pinheiros, São Paulo, apresentava condições bastante precárias, conforme apontou a realização de uma perícia por técnico independente especializado.
“Descobrimos coisas absurdas que foram realizadas ao longo do tempo. Os próprios condôminos, inadvertidamente, fizeram obras na prumada, com emendas não autorizadas. Identificamos que o fio saía com uma determinada bitola e chegava à unidade com outra. Havia um grande perigo, pois o centro de medição era usado pelos moradores da forma como achavam mais conveniente”, relata Jair.
Portanto, a primeira providência adotada pelos gestores do condomínio há cerca de dois anos foi contratar o laudo diagnóstico, seguido de um levantamento da demanda em cada unidade, para redimensionamento da carga. Decidida a reforma, os trabalhos iniciaram pelo centro de medição, inteiramente substituído e remanejado para um espaço confinado. Houve ainda aumento de pedido de carga junto à concessionária de energia elétrica, “dimensionando-a para que venha dar vazão futura a novos hábitos e padrões de consumo”. Posteriormente, todo cabeamento das prumadas acabou substituído e os condôminos, por fim, receberam comunicação para que providenciem a adequação de suas unidades.
SITUAÇÃO DE RISCO IMINENTE
A partir da reforma em um apartamento do Condomínio Edifício Itacema, o grupo de moradores ficou convencido da urgência de se investir no retrofit das instalações elétricas do prédio de 45 anos, localizado no Jardim América, em São Paulo. “O técnico que trabalhava na unidade identificou que os fios já estavam finos, inadequados para a situação e apresentavam sinais de aquecimento. Ele deu o alerta, o que desencadeou todo processo”, conta Edson Martinho, engenheiro eletricista, presidente da ABRAEL (Associação Brasileira de Eletricistas) e diretor-executivo da Abracopel (Associação Brasileira de Conscientização para os Perigos da Eletricidade).
Colaborador da Direcional Condomínios e autor do livro “Distúrbios da Energia Elétrica” (Editora Érica, 2009), Martinho desenvolveu o projeto de retrofit do Itacema. “Fizemos desde o poste de entrada, para suportar os cabos que saem do transformador e chegam ao centro de medição, à troca dos eletrodutos, dos medidores, das caixas e dos disjuntores gerais de cada apartamento.” Também os cabos foram trocados, colocados sem emendas desde o centro de distribuição até cada unidade.
A reforma incluiu a instalação do controle de proteção (o fio terra), que não existia. Houve aumento de carga do prédio e avaliação das condições da instalação na área comum (andares e garagem), completa Martinho. Ele considera que a edificação se encontrava em “risco iminente” de acidente, “os disjuntores estavam desligando e o próprio transformador desarmando”. A instalação era tão antiga, que mesmo hoje, “alguns apartamentos ainda têm chave-faca”, observa Martinho. E cada morador dispõe agora de parâmetros técnicos para providenciar uma reforma particular.
O especialista observa que a decisão da assembleia dos moradores do Itacema, que aprovou a obra, representa “uma atitude inédita”, pois “poucos condomínios têm essa postura de fazer uma reforma correta, contratando um projeto elétrico de adequação”. Todo o processo levou um ano e gerou um custo de R$ 230 mil, bancado através de rateio extra.
Outro condomínio que passou por ampla renovação nas instalações elétricas é o Elisabetta Cappellano, situado na Vila Olímpia, zona Sul da Capital. A síndica Rosângela Rodrigues da Costa afirma que predominava ali a “chave-faca” e o “fusível de cartucho”. O cenário “trazia riscos à segurança”, avalia. A principal mudança ocorreu no centro de medição, mas não houve necessidade de solicitar aumento de carga.
MATERIAIS INADEQUADOS
O engenheiro eletricista Edson Martinho lembra ainda o risco que trazem componentes inadequados, como, por exemplo, os quadros de madeira. Citando a NBR 5410/2004, norma da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas), o especialista destaca que todo e qualquer item deve proporcionar segurança e evitar perigo de incêndio. “O quadro de madeira não é proibido em uma instalação elétrica, a menos que esta possa atingir valores de temperatura que venham a queimar o material de fundo, estando todo esse conjunto, provavelmente, fora das especificações”, analisa Martinho (A análise completa está publicada no site da Direcional Condomínios. Acesse através do link http://bit.ly/1BhZtLI).
NOTAS PARA REFORMA E INSTALAÇÕES SEGURAS
O engenheiro eletricista Edson Martinho deixa a seguir dicas imprescindíveis aos síndicos quando forem contratar os serviços, bem como para acompanhamento dos trabalhos e do pós-obra.
– Contrate um projeto elétrico completo, com previsão de aumento de carga. É preciso avaliar se ela está de acordo com o consumo médio e o perfil do usuário;
– Atualize e substitua os medidores, contrate a reforma da cabine de medição e, se necessário, solicite a troca do transformador;
– Se precisar construir novo poste de entrada de energia, contrate um projeto de engenheiro civil, para que ele faça os cálculos e forneça as condições necessárias para sustentação dos cabos;
– Contrate uma consultoria do profissional que desenvolveu o projeto para que ele acompanhe a obra e faça a validação dos trabalhos ao final. Ele deverá entregar nesse momento o As Built, documento que designa que a obra foi concluída dentro dos parâmetros acordados e que expressa o estado das instalações após a execução;
– É importante que o profissional também entregue um documento onde aponta o que foi executado, bem como forneça requisitos para que cada morador faça reformas internas de adequação;
– A revisão da nova instalação elétrica deverá ocorrer depois de cinco anos, padrão a ser seguido em todas as edificações.
ÁLBUM: RETROFIT NO EDIFÍCIO ITACEMA
Antes
Depois
Matéria publicada na edição – 198 de fev/2015 da Revista Direcional Condomínios