Revisão periódica das instalações elétricas representa compromisso indispensável dos síndicos

Ao realizar ampla perícia em um condomínio de uma torre e 27 anos, os engenheiros Marcus Grossi e Florence Grossi observaram, na parte elétrica, grau de risco crítico no centro de medição em relação a itens como ausência de orientação de saída de emergência e de luminária de emergência; medidores sem lacre; disjuntores sem proteção acrílica nas partes “vivas” (energizadas); fiação rígida deteriorada; mancha de infiltração; e fissuras na parede (internas e externas). Consideraram ainda de risco médio o quadro de disjuntores e medidores com sujidade e oxidado.

Esse foi apenas um dos setores avaliados da área elétrica. De seus 15 itens analisados, cinco foram reprovados: justamente os quadros de entrada, de medidores e de disjuntores, caixas de passagem e fiação. Segundo o relatório, falta ainda atestado das instalações elétricas, conforme preveem duas normas da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas), a NBR 14.037/2011 (relativa aos manuais de uso, operação e manutenção das edificações) e 5.674/2012 (de gestão da manutenção). E no sistema de para-raios, a antena não está aterrada. Demais setores, como barramentos e eletrodutos, encontram-se em ordem.

De acordo com o engenheiro eletricista Edson Martinho, presidente da ABRAEL (Associação Brasileira de Eletricistas) e diretor-executivo da Abracopel (Associação Brasileira de Conscientização para os Perigos da Eletricidade), é fundamental que os síndicos promovam uma revisão periódica de todo sistema. “As normas não definem o tempo, tampouco existem regras específicas que regem esta frequência. Porém, o mercado assumiu, com base em estudos de durabilidade média dos componentes de uma instalação elétrica e o surgimento de novas tecnologias, que o período sugerido é de cinco anos”, avalia. Para Marcus Grossi, é um procedimento importante, já que a área elétrica “fica ‘escondida’ dos olhos dos usuários, mas quando dá algum problema, pode ser ‘tarde demais’”.

Edson Martinho observa que as instalações costumam dar alguns alertas da necessidade da reforma. “São sinais de envelhecimento dos fios, pequenos aquecimentos, principalmente nas conexões, ou curtos-circuitos (também pequenos)”. Segundo ele, raramente um prédio chega à situação de queda de energia por problema de sua rede elétrica. “O eletricista da manutenção corriqueira é quem deverá alertar o síndico e o especialista da necessidade de revisão, de um diagnóstico”, diz.

POR ONDE COMEÇAR

Edson Martinho recomenda aos síndicos iniciar a reforma pelo centro de medição e quadros de distribuição (sempre antecedidos de vistoria e do projeto e executados por mão de obra especializada). É comum, segundo ele, encontrar relógios antigos nesses ambientes, muitos deles com quadros de fundo de madeira tomados pelo cupim, e flagrar uso indevido do espaço (como depósito de materiais diversos), além de acesso liberado e facilitado a funcionários e moradores (quando deveria ser restrito). Ele lembra que muitos prédios dispõem ainda de relógios analógicos; o padrão atual dos medidores é o eletrônico. Em geral, a própria concessionária de energia elétrica solicita aos condomínios a troca desses equipamentos, mesmo que não haja aumento de carga.

No Condomínio Edifício Alvorada, construído em 1974 com dois blocos e 106 unidades, a situação elétrica era precária em 2007. “Havia maços de fiação expostos nos halls de cada pavimento, os quadros ficavam abertos e moradores chegavam a fazer ligações diretas de seus aparelhos para não usar a energia das unidades”, lembra a síndica Cleusa Camillo, que assumiu naquele ano o prédio do bairro da Liberdade, centro de São Paulo. “Fiquei alarmada pelo aspecto visual, que denunciava risco de curto-circuito e incêndio”, diz. Ela promoveu um verdadeiro retrofit nas instalações, incluindo reforma do centro de medição, aumento de carga e troca de todo cabeamento e fiação. As caixas de distribuição estão hoje devidamente fechadas e sinalizadas. “Essa foi a primeira obra que fiz”, destaca a Cleusa, que hoje respira aliviada em um condomínio bem conservado, aconchegante e seguro.

PARA-RAIOS: MUDANÇA DA NORMA EXIGE ADEQUAÇÕES

A norma relativa ao Sistema de Proteção contra Descargas Atmosféricas (SPDA), a NBR 5.419/2015 (da Associação Brasileira de Normas Técnicas), recebeu atualização em maio do ano passado e incorporou mais quesitos de avaliação de segurança. “A nova estruturação tornou a norma mais completa e detalhada, o que aumentará a segurança das edificações”, avalia o engenheiro Ayrton Barros, da área de perícias e segurança do trabalho. Segundo ele, os síndicos terão que fazer algumas adaptações, conforme resume a seguir.

Mudanças para a contratação do laudo de para-raios

“Tornou-se necessária a medição da continuidade das estruturas, nos casos de descidas naturais (pela ferragem do concreto, sem o cabo externo). A NBR atualizada também passou a considerar as estruturas da vizinhança e determinou a instalação de DPS (Dispositivo de Proteção de Surto).”

Análise de novos fatores de risco

“A análise de risco tornou-se obrigatória. É uma das etapas mais importantes na elaboração de um projeto de SPDA, pois permite avaliar as condições da estrutura, a situação no entorno e os sistemas adjacentes. Ela abrange fatores como densidade das descargas atmosféricas e o meio ambiente, a partir do que iniciamos análise de risco para a edificação em dada região, para cada tipo.”

Adaptações nos equipamentos instalados hoje nos condomínios

“A maioria das edificações deverá fazer adequações, com a instalação de DPS, aumentando a segurança da edificação e dos equipamentos eletroeletrônicos, visto que esses dispositivos descarregam para a terra surtos que anteriormente seguiam livremente pela rede de fios. Mas esse é um componente de custo relativamente baixo e fácil instalação. De outro modo, foram alteradas (diminuídas) as distâncias entre os cabos que compõem a gaiola de Faraday. Isto equivale a dizer que o número de descidas na maioria das edificações passou de uma prumada a cada 20 metros de perímetro para uma prumada a cada 15 metros de perímetro.”

Situação atual dos edifícios

“Além dessas adequações, acredito que 50% dos condomínios requeiram ao menos uma revisão de reaperto e esticamento dos cabos das malhas que compõem a gaiola de Faraday.”

Resumindo a NBR 54519, edição 2015

“Com a estruturação, a NBR fica composta de quatro (4) partes:

1ª Parte: Princípios gerais = Ameaça da descarga atmosférica Traz informações referentes aos efeitos da descarga; dos valores da corrente; de sua simulação; e dos parâmetros de ensaio dessa descarga atmosférica. Ou seja, fala da corrente de impulso positivo, negativo e subsequente, bem como da duração de uma descarga. Com isso, passamos a ter dados para dimensionar os materiais que devem suportá-la;

2ª Parte: Gerenciamento de riscos = Da incidência da descarga atmosférica Estabelece parâmetros e forma de calcular os riscos advindos da descarga atmosférica. Com isso, é possível gerenciar o risco tolerável e fazer cálculos para que este fique abaixo do tolerável;

3ª Parte: Danos físicos à estrutura e perigo de vida = Projeto Define os materiais do SPDA, contendo especificação técnica dos condutores de descida, dos eletrodos enterrados, embutidos em fundações. Estabelece ainda os tipos e métodos do SPDA; dados sobre classe de proteção, distância entre prumadas, espaçamento das gaiolas, secção de condutores, aterramento, captores e tipo de SPDA; traz uma síntese das especificações mínimas; e define inspeções de um a três anos, dependendo da agressividade do ambiente;

4ª parte: – Sistemas elétricos e eletrônicos na estrutura = Proteção contra descargas atmosféricas que são induzidas e não as que atingem diretamente a estrutura Determina o uso do DPS (Dispositivo de Proteção contra Surto) em estrutura e zona de proteção e estabelece valores e tipos do componente.”

Matéria publicada na edição – 209 – fev/2016 da Revista Direcional Condomínios

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