Individualização da conta d’água: estímulo ao consumo consciente

Síndica do residencial Arboris Essentia até abril passado, Sandra Tarcha protagonizou missão árdua pelo início da leitura individualizada da água no condomínio. “Mas foi uma experiência também de vitórias, principalmente pela redução do consumo”, avalia.

Palestrante, síndica profissional e comissária de bordo aposentada, Sandra Tarcha esteve à frente do residencial Arboris Essentia durante quatro anos como síndica, antecedido por um ano como conselheira. O empreendimento é relativamente novo, foi entregue em 2010 com duas torres, 176 unidades, varandas gourmet e ampla área de lazer, além de uma pequena reserva arbórea, no bairro Lauzane Paulista, zona Norte de São Paulo.

No balanço de sua gestão, uma das principais vitórias alcançadas foi o início da leitura individualizada do consumo d’água, um processo árduo, que de princípio despertou contrariedade entre alguns moradores. Da entrega do condomínio à instalação dos medidores e, depois, à operação efetiva do sistema, houve um hiato de tempo, quebrado pela síndica, eleita pela primeira vez em 2012. “Era uma questão de honra retomar a individualização, que teve os medidores instalados em 2011”, explica.

“Havia resistência de condôminos que não queriam perder o conforto do uso abundante da água”, lembra Sandra, que enfrentou mobilização de pessoas descontentes com os valores posteriores à individualização, incluindo tentativa de suspender o processo durante assembleia extraordinária, em dezembro de 2012. Elas procediam, em geral, de unidades com histórico de consumo excessivo, com “duchas de vazão de 25 litros por minuto”, observa, ressalvando que, de fato, a conta chegava salgada para esses condôminos, até então acostumados a ver o custo diluído no rateio entre todos os apartamentos. A maioria, porém, decidiu manter o sistema em curso, pois “hoje ninguém quer mais pagar pelo banho do outro”.

Em meio ao clima tenso, Sandra Tarcha recebeu apoio da então moradora e posteriormente conselheira Cristina Maria Compregner Rocha e do subsíndico da época, José Alberto de Orio. “Cristina e Sr. José entraram nessa batalha reforçando a tese de que não se deveria acabar com a individualização.” A ex-conselheira justifica: “A individualização é adotada em todos os condomínios de ponta”. Não só por isso. O trio da linha de frente da individualização destaca o fator economia, a qual se tornou significativa assim que as contas passaram a ser individualizadas.

Em setembro de 2012, antes do início da leitura individualizada, a conta d’água chegou a R$ 30.960,42 mil (com uma taxa de ocupação de 60% das unidades). Em dezembro daquele ano, pós-individualização, caiu para R$ 21.937,98. Em dezembro de 2015, o condomínio fechou o ano exibindo fatura d’água de R$ 9.138,86, com ocupação quase total dos apartamentos – a redução foi favorecida também pelos bônus da Sabesp e por novo sistema de aproveitamento de água de mina. Em março último, a conta voltou a subir, chegou a R$ 17.862,84, elevação gerada, entre outros, pelo endurecimento da política de descontos da Sabesp.

“O condomínio demorou para implantar a individualização, houve necessidade de fazermos algumas adequações, mas vejo atualmente as pessoas mais conscientes e favoráveis a isso, principalmente após a crise hídrica”, avalia Sandra. No empreendimento, também o gás é individualizado e a leitura de ambos é feita de maneira remota; a queda do custo d’água se reflete, em consequência, na diminuição da conta do gás. Antes de se despedir do cargo em final de abril passado, Sandra Tarcha deixou instalado o poço artesiano e toda a infraestrutura correspondente.

Na análise que faz sobre o processo da individualização, Sandra Tarcha comemora a conscientização gradativa dos moradores, mesmo daqueles que, no princípio, se assustaram com as primeiras faturas. “Eles passaram a ter uma relação mais consciente com o gasto, começaram até a armazenar a água do chuveiro durante o pré-aquecimento e do descarte da máquina de lavar roupa. Observamos uma colaboração muito grande dos condôminos durante a crise hídrica, desenvolvemos campanhas, distribuímos comunicados, conseguimos implantar água de reuso, entramos no projeto do poço artesiano. Obtivemos queda significativa no consumo, mesmo com 98% de ocupação nos apartamentos”, avalia. Afinal, conforme arremata Sandra Tarcha, “a individualização mostra que o conforto tem um custo”. Assim, “o melhor é utilizar a água de forma consciente, reduzindo o consumo, o que a maior parte das pessoas é capaz de fazer, conforme ficou provado”.

Fotos: Rosali Figueiredo

Matéria publicada na edição – 213 – junho/2016 da Revista Direcional Condomínios

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