Sustentabilidade em execução de obras, reformas e retrofits: Um guia aos síndicos

Como tomar decisões sustentáveis desde a concepção de projeto até o descarte de resíduos

Quando se fala em sustentabilidade, logo lembramos da questão ambiental, da proteção dos recursos naturais, preservação do meio ambiente, reciclagem, e assim vai. Porém, a sustentabilidade vai muito além disso, basicamente ela é constituída de três vertentes: ambiental, financeira e social. Então, para uma ação ser sustentável, não basta ser ecologicamente correta, tem que caber no seu bolso e contribuir para a sociedade. Vou abordar o tema de sustentabilidade na execução de obras, reformas e retrofits de edificações residenciais e comerciais.

 

Decisões sustentáveis

A melhor forma de tomar decisões sustentáveis é avaliar os impactos de cada ação a curto e longo prazo, dentro das três vertentes mencionadas acima. Um equívoco que acontece muito frequentemente é achar que o produto/serviço que tem custo menor na aquisição é o financeiramente mais vantajoso, isso pode não ser verdade porque, normalmente, esse produto terá uma vida útil mais curta. Ou, ainda, terá um custo de manutenção ou reparo mais caros, tornando-se mais oneroso a longo prazo, portanto, menos sustentável.
Resumindo, a sustentabilidade é o equilíbrio entre o quanto será gasto, o quanto impacta o meio-ambiente (direta e indiretamente) e o quanto isso influencia na sociedade. E tudo isso deverá sem levado em consideração antes das tomadas de decisão de uma obra, reforma ou retrofit.

Aspectos Ecológicos

Existem vários fatores impactantes ao meio-ambiente que uma obra pode gerar, para melhor avaliá-los, vamos subdividi-los conforme abaixo:

  • Uso de energia elétrica e recursos naturais (água, minerais, madeira etc.)
    • Pesquisar materiais e empresas que possuem políticas sustentáveis ou de mitigação de impactos, que usam materiais reciclados etc. Evitando uso de madeira nativa, produtos que usam muita água na fabricação, ou que emitem poluentes no ar, água ou solo. Veja se possuem certificação;
  • Emissão de poluentes durante a fabricação
    • Pesquisar materiais e empresas que possuem tecnologia para poluir menos durante o processamento do material, que fazem algum tipo de compensação de carbono, ou que possuem metas de diminuição de poluentes;
  • Transporte da fábrica até o local da obra (poluição do veículo utilizado pela distância)
    • Preferir empresas e distribuidores mais próximos para evitar grandes trajetos de transporte e consequente emissão de CO2. Transporte de trem e navio poluem menos, porém são raros no Brasil;
  • Geração de resíduos durante a obra (embalagens, sobra, desperdício)
    • Veja se o fabricante recebe as embalagens e sobras de material (logística reversa), ou se esses podem ser reciclados. Caso não seja, os aterros e transportadores que retirarem o entulho devem possuir licenças ambientais;
  • Influência do material, após aplicado, no consumo de energia elétrica da edificação
    • Veja o impacto no consumo de energia elétrica após a obra. Exemplo: se o material de fachada absorve muito calor e não houver ventilação suficiente, o uso de ar condicionado irá aumentar; ou se não houver vãos de janelas suficientes e bem posicionados, pode ser necessário usar mais iluminação artificial;
  • Potencial poluidor do material aplicado na obra
    • Veja se o material pode poluir de alguma forma o ar, o lençol freático, quando em contato com o intemperismo ao longo do tempo, ou no caso de incêndio, ou quando for retirado para substituição ao final de sua vida útil;
  • Vida útil ou durabilidade
    • Veja qual é a vida útil do material, um material que dura mais, precisa ser trocado com menos frequência, gerando menos impacto ao longo do tempo no meio ambiente.

Como pudemos ver, são muitas as variáveis que podem impactar no meio ambiente, por isso o ideal é pesquisar muito bem antes de escolher o fabricante, o tipo de material, o prestador de serviço, a fim de gerar o menor impacto possível, e, principalmente, refletir sobre suas reais necessidades e procurar viver com menos. O consumo consciente é algo que serve para qualquer consumo.

Aspectos Financeiros

Os aspectos financeiros são os que mais são levados em consideração na maioria das vezes, porém, nem sempre são analisados em todo o seu ciclo de vida. Para melhorar sua avaliação, analise os itens abaixo:

  • Custo da manutenção preventiva
    • Veja como deve ser feita a manutenção e qual será o custo dela durante a vida útil do material (material e mão de obra). Atenção: não fazer manutenção diminuirá muito a vida útil;
  • Custo para substituição ou reparo
    • Veja como devem ser feitos reparos, ou troca de componentes, e qual será o custo desses (material e mão de obra). Aqui se inclui também o custo da substituição do material ao término de sua vida útil;
  • Vida útil ou durabilidade
    • Veja qual é a vida útil do material, um material que dura mais, tem menor custo ao longo do tempo;
  • Recolhimento de Impostos
    • Sempre comprar produtos e serviços com NF, de empresas regularmente cadastradas nos órgãos fiscais.

Como pudemos ver, nem sempre avaliamos os aspectos financeiros de maneira mais sustentável. Mas basta planejamento e pesquisa, que isso se torna muito simples e vantajoso.

Aspectos Sociais

Os aspectos sociais são muitas vezes subjetivos, mas devem ser sempre avaliados, para que possa ser gerado maior conformo no uso e equidade na sociedade.

  • Conforto no uso
    • Opte por soluções que tragam maior conforto térmico, acústico, antropodinâmico, e que sejam acessíveis a deficientes e pessoas com mobilidade reduzida;
  • Segurança no uso
    • Opte por produtos e serviços que atendam às normas técnicas, legislação, principalmente as de segurança (resistência mecânica) e incêndio (combustibilidade, propagação de chama, emissão de fumaça, resistência ao fogo);
  • Responsabilidade social
    • Valorize as empresas em função de sua responsabilidade para com os funcionários, a sociedade e o meio ambiente. Veja se possuem certificação;
  • Procedência
    • Compre sempre do comércio legalizado e, dessa forma, contribua para gerar empregos estáveis e para combater o crime organizado e a violência;
  • Relacionamento com a empresa
    • Adote uma postura ativa. Envie às empresas sugestões e críticas construtivas sobre seus produtos/serviços.

Como pudemos ver, o consumo influencia direta e indiretamente em nossa sociedade, valendo não só para construção, mas para o consumo de todos os setores. Sustentabilidade não é algo isolado, todas as nossas ações afetam direta ou indiretamente a todos, por isso, faça a sua parte.

Matéria complementar da edição – 213 – junho/2016 da Revista Direcional Condomínios

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Autores

  • Marcus Vinícius Fernandes Grossi

    Engenheiro Civil, é doutorando em tecnologia da construção pela USP; mestre em Tecnologia da Construção de Habitações pelo IPT; especialista em Excelência Construtiva e Anomalias pelo Mackenzie; em Gestão e Tecnologia da Construção pela POLI-USP; Inspetor de Estruturas de Concreto pelo IBRACON, ABECE e ALCONPAT. Atua como Perito Judicial, Assistente Técnico da Defensoria Pública e Ministério Público do Estado de São Paulo; professor universitário; palestrante de cursos de perícia e patologia das construções. É sócio-gerente da Fernandes & Grossi Consultoria e Perícias de Engenharia, onde atua com consultoria, perícias de engenharia, inspeção predial, entrega de obras, auditoria de projetos, normatização técnica, desempenho e qualidade das construções. Atualmente é membro da Divisão Técnica de Patologia das Construções do Instituto de Engenharia e associado da ALCONPAT - Associação Brasileira de Patologia das Construções. Lançou a obra “Inspeção e Recebimento de Obras/Edificações Habitacionais” (LEUD Editora, 2020).

  • Jornalismo Direcional

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