Copan, ainda uma narrativa em aberto. Um perfil da gestão do síndico Affonso Celso Prazeres de Oliveira

Guardião de um monumento arquitetônico, o síndico Affonso Celso Prazeres de Oliveira mira o futuro: em três anos, ele quer entregar a São Paulo um Copan de fachada renovada, junto com um museu e um mirante. A ideia é inscrever na memória da cidade novas histórias de um de seus grandes protagonistas.

O síndico Affonso Celso Prazeres de Oliveira é testemunha e ao mesmo tempo personagem da história do icônico Edifício Copan, na Av. Ipiranga, centro de São Paulo, um marco da arquitetura de Oscar Niemeyer. Sua relação com o edifício começou antes mesmo de o empreendimento ser completamente inaugurado. Era um jovem estudante, proveniente do interior do Estado, quando se mudou para um dos blocos concluídos do edifício, em 1963, assistindo, somente três anos depois, em 1966, à finalização do empreendimento marcado pelas curvas, uma ondulação que sugere constante movimento.

Movimento que também pauta a trajetória do gigante residencial, considerado o que mais agrega unidades residenciais em uma única estrutura em toda América Latina. O edifício sofreu longo processo de degradação por volta dos anos 80, o que levou, em princípios dos 90, a uma virada de mesa de parte dos condôminos. Affonso Celso acompanhou de perto a transição, até que em 1993 assumiu a sindicância em tempo integral e incontáveis horas extras, levando à gestão sua experiência profissional anterior em cargos administrativos.

No começo enfrentou dificuldades tão superlativas quanto as dimensões do prédio: caixa negativo, risco de corte no fornecimento de energia e abastecimento de água, elevadores parados, problemas de convívio entre moradores, estruturas precárias. Em quase 24 anos de administração, fez uma recuperação paulatina, processo em curso: “Ainda estou resolvendo problemas do prédio”, afirma. Desde então, o Copan registrou um salto significativo em sua infra, no ambiente social e também de imagem, com imóveis hoje valorizados. Por exemplo, exibe um centro de medição moderno – suas antigas e precárias instalações elétricas viraram, literalmente, peças de museu. Estão expostas nas paredes do centro. “Costumo deixar o registro histórico dos setores reformados”, orgulha-se Affonso Celso. Agora, irá modernizar os 44 quadros de distribuição de energia, o que permitirá a leitura remota do consumo.

É uma história em que “apanhei muito para aprender tudo”, diz. Sua formação de origem (da área da engenharia, não exercida) o ajudou “a entender um pouco de elétrica, hidráulica, estrutura”, mas também foi preciso se aprofundar em gestão de pessoas, sejam moradores, locatários ou funcionários (que dispõem de plano de carreira). O síndico faz questão de destacar o apoio desta equipe – “que abraçou o prédio” – e dos condôminos que insistiram em resgatar o lugar.

OBRAS & INVESTIMENTOS

Niemeyer projetou o Copan como um presente ao IV Centenário da cidade de São Paulo, comemorado em 1954. Agora, o próprio edifício quer deixar seu presente aos munícipes e desenvolve, em parceria com a Fundação Niemeyer, a criação do museu. O acervo contará com as 1.189 pranchas originais do empreendimento, hoje depositadas na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU-USP), além de antigos equipamentos, que foram substituídos ao longo do tempo no cronograma de modernização do edifício (peças das cabinas dos elevadores, chaves do antigo centro de medição, máquinas etc.). Paralelamente, o síndico planeja entregar o mirante, depois de fazer um retrofit do terraço, que já recebe visitantes para contemplar uma visão de 360º dos limites da Capital, em todos os quadrantes.

O objetivo é inaugurar os espaços juntamente com a conclusão da fachada, a superfície ondulada de 46 mil metros quadrados formada por pastilhas cinzas e brancas, que se encontra no momento envelopada, em fase de recuperação.

Perícia de empresa especializada indicou urgência na troca do revestimento. A estrutura é tombada pelo Conpresp (órgão municipal de defesa do patrimônio histórico) e está em estudo pelo Condephaat (estadual) e Iphan (federal). “A fachada é a antepenúltima prioridade que está sendo executada, a última será sair do prédio”, sugere Affonso Celso, como quem sabe que a história do edifício se confunde hoje com a sua própria, e que ainda vai render muitos novos episódios.

RAIO – X

Projeto: Oscar Niemeyer


Construção: Entre os anos de 1951 e 1966;


Perfil: São 116 mil m2 de área construída: 3 andares com 72 lojas e 6 blocos com 1.160 unidades residenciais de tamanhos variados (de quitinetes a 3 dormitórios). O edifício comportou o antigo cine Copan, desativado. Possui hoje perto de 5 mil moradores;


Títulos: Maior estrutura em concreto armado do País, está inscrito no Guinness Book como maior prédio residencial da América Latina. Até a última atualização demográfica, superava em população e arrecadação 457 municípios brasileiros. Foi reconhecido pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como 1º condomínio da América Latina “Amigo do Idoso”;


Estrutura: Emprega 104 funcionários, com administração própria. Nos dois subsolos, funcionam serralheria, marcenaria, oficina elétrica, de hidráulica e pintura, almoxarifado. Possui 8 portarias, 20 elevadores. Diariamente, são limpos 22 mil m2 de áreas comuns;


Visitas: Interessados podem visitar o terraço do Copan, visualizando toda cidade, de segunda a sexta- -feira, em dois horários, às 10h30 e 15h30. Eles devem se dirigir diretamente à administração do prédio, na sobreloja do Bloco F, ou ligar para (11) 3259-5917 / 3257-6169. Visitas em grupos devem ser previamente agendadas;


Desafio: Recuperar sua fachada em pastilhas e curvas, um orçamento milionário. O síndico garante que a obra vem sendo feita sem rateio extra;


Futuro: No topo do edifício, que proporciona visão 360º da cidade de São Paulo, serão implantados o mirante e o Museu do Copan, este em parceria com a Fundação Niemeyer.

Fotos: Rosali Figueiredo

Matéria publicada na edição de dez/jan 2017 da Revista Direcional Condomínios

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