Gestão das contas na individualização da medição d’água no condomínio

Instrumento favorece a redução do consumo e a economia no condomínio, mas a individualização, especialmente a da água, esbarra em desafios no cálculo da conta atribuída às unidades.

O especialista Marco Aurélio Teixeira defende aplicação da tabela progressiva da Sabesp por faixa de consumo na autogestão das contas individualizadas. O modelo é utilizado no condomínio administrado pela síndica Irina Uzzun

O acompanhamento mensal das despesas dos condomínios realizado pela Aabic (Associação das Administradoras de Bens Imóveis e Condomínios de São Paulo) mostra que a população está gastando mais com a água desde o final da estiagem que atingiu a Capital e a Região Metropolitana entre o final de 2014 e princípios de 2016. Em maio do ano passado, a concessionária pública da região, a Sabesp, extinguiu uma política de bonificação por economia ou de multas por excessos, que vigorou durante a seca.

Por exemplo, a participação da conta d’água no total gasto pelos condomínios em novembro do ano passado foi de 7,35% contra 6,53% do mesmo mês em 2015. Desde o final do programa de bônus, a entidade apurou um consumo de água em média 20% maior. Essa é uma das razões pelas quais aumentou no ano passado a procura dos condomínios pela individualização, segundo Marco Aurélio Teixeira, gerente de recursos hídricos de empresa do setor.

“Dobramos a quantidade de pontos comercializados”, diz. Foram cerca de oito mil novos hidrômetros vendidos em 2016 contra quatro mil em 2015, “um verdadeiro boom, ainda reflexo da seca do período anterior”. Marco Aurélio atribui a demanda ainda à tentativa de se enxugar as despesas ordinárias, principalmente nas edificações entregues com a estrutura preparada para a individualização.

FECHANDO A CONTA

Atualmente, predominam no mercado dois tipos de tecnologias de leitura dos hidrômetros: por radiofrequência ou através de uma rede de cabos. De outro lado, existem dois modelos de gestão da conta individualizada da água em São Paulo: aquele vinculado ao Programa ProAcqua da Sabesp, em que a concessionária pública emite a conta diretamente para o apartamento; e o de autogestão, em que os edifícios assumem a responsabilidade pela leitura mensal de cada hidrômetro e pelo lançamento dos valores correspondentes ao consumo, com o apoio ou não da prestadora de serviços que instalou os medidores. Ainda aqui há duas possibilidades de cálculo da conta por apartamento:

– Utiliza-se uma fórmula simplificada, aplicando-se o total emitido pela Nota Fiscal da Sabesp sobre o consumo em metros cúbicos, para extrair um valor médio que será multiplicado pelo gasto de cada unidade;

– Utiliza-se a tabela progressiva por faixas de consumo praticada pela concessionária: Até 10 metros cúbicos por mês, é lançada uma tarifa única; as demais faixas estão divididas entre 11 a 20 m3; 21 a 30; 31 a 50; e acima de 50. Após 21 m3, os valores mais do que dobram em São Paulo e em algumas cidades da Região Metropolitana.

Na fórmula simplificada, a soma do total arrecadado das unidades deve ficar menor que o valor da Nota Fiscal da Sabesp, diferença que, em geral, equivale ao consumo das áreas comuns, aponta Marco Aurélio Teixeira. Já na tabela progressiva, o condomínio geralmente soma uma arrecadação maior oriunda do pagamento individual feito pelos apartamentos, explica. Segundo ele, isso ocorre pelo fato de as tarifas aumentarem substancialmente nos consumos mais elevados, como em coberturas dotadas de piscinas e cascatas, ou nas unidades despreocupadas com a economia.

O especialista defende que os condomínios optem por esse segundo modelo e, se possível, busquem fazer um monitoramento diário dos hidrômetros. “Quanto mais doer no bolso, mais o condômino irá se conscientizar.” Além disso, há uma questão de justiça com os moradores mais engajados no consumo racional, além de se dispor de uma ferramenta de caça-vazamentos. Para a gerente de condomínio Alessandra Muniz, que atende a sete edifícios com individualização, 70% deles optaram pelo uso da tabela progressiva da Sabesp.

NOS CONDOMÍNIOS

Em 2016, muitos síndicos foram surpreendidos pelo final das operações, sem aviso prévio, de uma prestadora de serviços no setor, a Ista Brasil, que operava através de radiofrequência para levantamento de dados de consumo. O condomínio The Spotlight Perdizes, em que vive a síndica e advogada Irina Uzzun, foi um dos prejudicados. Mas isso não desestimulou o corpo diretivo, que abriu concorrência para nova individualização, já que a empresa anterior operava com tecnologia fechada, impossibilitando o reaproveitamento dos medidores. “Porém, fizemos questão de contratar uma tecnologia que possibilite a portabilidade”, ressalta a advogada.

Durante os sete meses que se estabeleceram entre o fim do serviço da Ista e o início do novo sistema, a leitura dos hidrômetros de água e gás foi manual. “Colocava os dados de consumo em planilhas do Excel. E percebi, por exemplo, que parte dos medidores de gás não condiziam com o real consumo”, relata Irina. Apesar da necessidade de entrar em cada uma das 78 unidades para coletar os dados relativos ao gás, o trabalho foi facilitado pois o prédio é dotado de prumada única de água por apartamento, com o medidor localizado em shaft externo. Com a nova individualização, os gestores do Spotlight utilizam a tabela progressiva da Sabesp para o lançamento das contas individualizadas.

Também o Condomínio Portal Domínio Marajoara dispunha de tecnologia Ista nos medidores de água e gás. O síndico Paulo Fontes e o conselheiro Wilson Loesch, graduado em Sistemas de Informação pela Universidade Mackenzie, desenvolveram uma plataforma própria de cálculo dos valores correspondentes ao consumo d’água, aferido por um hidrômetro externo a cada uma das 594 unidades, distribuídas em sete torres.

Segundo os gestores, em princípio a leitura era feita por funcionários do condomínio, mas, agora, foi contratada empresa para realizar o serviço. “O leiturista prepara uma planilha com os dados e carregamos no nosso sistema, desenvolvido por mim, para calcular o consumo”, explica Wilson. “O cálculo é feito como se fosse a leitura da Sabesp, por faixas de consumo.” E a diferença apurada é utilizada para se abater o valor das áreas comuns. Quanto ao gás, o Domínio Marajoara está providenciando a troca do sistema de radiofrequência dos gasômetros. “O software de leitura é da empresa de telemetria. Compramos a licença e os cálculos serão feitos por outro software”, finaliza o conselheiro.

QUANDO INDIVIDUALIZAR

Marco Dal Maso (foto ao lado), engenheiro e diretor de Negócios Imobiliários da Aabic, propõe aos condomínios mais antigos interessados em individualizar a medição da água, que façam o seguinte cálculo de viabilidade econômica: O custo médio por hidrômetro deverá se situar entre R$ 600,00 e R$ 1.500,00, para uma taxa de retorno de quatro a cinco anos. Ele estima que para uma conta final da Sabesp no valor de R$ 10 mil mensais, a economia chegue a 30%. “A individualização estimula a conscientização do condômino. Este vai diminuir o tempo do banho, reaproveitar a água da máquina de lavar roupa, instalar reguladores de vazão nas torneiras”, aponta o diretor. Nos prédios novos, a individualização é facilitada, já que, segundo a Lei Municipal 14.018/05, regulada pelo Decreto 47.731/06, a construtora deverá entregar em São Paulo edificações projetadas para a instalação de hidrômetros junto às unidades.

Matéria publicada na edição – 222 de abr/2017 da Revista Direcional Condomínios

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