Investir em espaços e atividades para pacificar a garotada vem ganhando prioridade nos condomínios maiores.
Síndico Paulo Fontes: Condomínio chegou a um “ponto de equilíbrio” depois de medidas adotadas com apoio do corpo diretivo e de comissões de moradores
A ideia é preencher os espaços – físico, de tempo e social – para um convívio sadio e construtivo. Mas é preciso envolver as crianças e jovens com algumas responsabilidades e mudar a forma de conversar, orienta psicopedagoga.
O condomínio Portal Domínio Marajoara se transformou em colônia de férias das crianças, jovens e adolescentes no último mês de julho, um upgrade à programação paralela anual da assessoria esportiva e às festas comemorativas tradicionais, entre elas a do Dia das Crianças, que acontece neste mês. Com show de talentos, street dance, monitoria baby, circuito recreativo para até cinco anos, entre muitos outros, o Portal introduziu a ideia da colônia como forma de aproveitar melhor os espaços físicos do empreendimento-clube, localizado na zona Sul de São Paulo, e engajar a garotada em uma relação saudável com o condomínio, sem quebras ou desrespeito às normas. “Este é um tipo de condomínio que pode virar um elefante branco se não ocupar bem”, observa o síndico Paulo Fontes, executivo da área de Tecnologia da Informação de uma multinacional. Ele assumiu a sindicância em 2015, uma época bem conturbada no Portal. Havia muitas ocorrências, envolvendo inclusive adultos, relata. Em números, isso se traduziu, no começo de sua gestão, na aplicação média mensal de 60 notificações e cinco multas por comportamentos que feriam as regras. O Portal dispõe de 66 mil m2 de área, sete torres, 594 unidades, com direito a mata preservada, piscinas com borda de praia e ilhas de vegetação, além de espaços diversos de lazer.
O síndico registra quatro momentos no transcurso da pacificação do condomínio desde que começou os trabalhos:
1º – Levantamento dos problemas e reforço na infraestrutura: “Fizemos a identificação das ocorrências, como de sexo em áreas comuns, e ampliamos o sistema do CFTV, que hoje conta com 400 câmeras digitais.”
2º – Partindo para as ações: “Implantamos uma política efetiva de respeito à Convenção e ao Regimento Interno, pois o condomínio estava muito largado.”
Segundo Paulo, o segredo foi envolver todo o corpo diretivo nessa cruzada, com o apoio de uma Comissão de Ética e Disciplina. Esta avalia preliminarmente as ocorrências, propondo ou não sanções. Sua deliberação é analisada pelo síndico e o conselho, que dão o veredito final. “Esse processo é importante para que não fique sobre o síndico o ônus de ‘juiz’ na avaliação dos comportamentos que ferem as normas internas”, explica. “Agimos com firmeza, mas cautela”, ressalva o gestor. “Jamais uma notificação citará a palavra sexo no comunicado à família, que terá 72 horas para apresentar defesa junto à Comissão. Agora, se houver uma falta grave, o condomínio aplicará diretamente a multa”, completa.
Em julho de 2016, o gestor contratou três profissionais para atuarem como “fiscais de área comum”, número que passou a quatro atualmente.
3 º – Aposta na prevenção: “O condomínio passou a realizar campanhas educativas e promovemos duas palestras sobre drogas para os pais, com abordagens diferenciadas [comportamental e legal]. Foi muito importante, as famílias não estavam sabendo o que acontecia com seus filhos.” E o próprio síndico promoveu uma reunião com a garotada.
Paulo Fontes diz que essas agendas lhe permitiram observar que o condomínio atendia bem às crianças, mas precisava reforçar as ações junto aos adolescentes. Houve, assim, um incremento dos eventos coletivos e esportivos, coordenados por duas comissões próprias, e que resultou na organização da colônia de férias, de julho passado.
4º – Momento construtivo, de “inclusão”: “Hoje chegamos a um ponto de equilíbrio, diminuíram muito as ocorrências e depredações”, avalia o síndico. Na prática, tornou-se anual o que antes era a média mensal de notificações e multas. O objetivo agora é “incluir”, ou seja, trazer a coparticipação da garotada em atividades como a criação de hortas. “Quando você os traz para perto, os ensina a não destruir uma planta”, ilustra.
A partir dessa experiência, Paulo Fontes extrai três dicas aos colegas gestores. Primeiro, na conversa com os pequenos, jovens e adolescentes, sugere o uso de uma “linguagem simples, colocando- se na posição de ouvir e não de dar ordens”. Segundo, recomenda que se deixe bem claro aos pais, reiteradamente, “sua reponsabilidade pelos filhos, especialmente o acompanhamento das crianças menores, mesmo nas atividades programadas”. E, terceiro, propõe melhorar o “diálogo intergeracional”. Em outras palavras, juntar, sempre que possível, todas as faixas etárias nos eventos do condomínio.
VALE O REGISTRO
– PRIORIDADE NA REPAGINAÇÃO DAS ÁREAS COMUNS
A síndica Lanuce Marta Ribeiro Souza, do Conjunto Residencial Buena Vista, na região do Campo Limpo, zona Sul de São Paulo (Fotos ao lado), propôs com sucesso que a assembleia de condôminos antecipasse os investimentos na reforma das quadras e playground, dando prioridade a eles sobre a recuperação da fachada dos oito prédios do condomínio. As obras foram concluídas em dezembro do ano passado e a fachada ficou para este segundo semestre de 2018.
“As crianças e os adolescentes amaram, trouxemos vida a essa área, que se encontrava deteriorada. Apresentamos um laudo aos condôminos mostrando que, sem a recuperação, teríamos que interditar esses equipamentos. Mas em um condomínio com esse perfil, é inviável não ter lazer para eles, senão irão perturbar e mexer nos carros dos estacionamentos. Depois desse investimento, que nem estava em nossos planos, ficou uma paz!” O condomínio de mais de 30 anos reúne 400 apartamentos e cerca de dois mil moradores. “A tendência é ocuparmos a ociosidade da garotada ao longo de todo ano”, arremata a síndica, que já prevê contratar atividades de férias e introduzir outros ambientes, aproveitando-se uma área de cada hall social. “Precisamos criar opções para os dias chuvosos, como brinquedoteca e sala de vídeo. Mas vamos fazer um levantamento e discutir isso em assembleia”, finaliza Lanuce.
– ACANTONAMENTO & SÍNDICO MIRIM
A síndica Patrícia Branco, do Parque Residencial Nossa Senhora do Sabará, condomínio de 14 prédios e 756 unidades localizado na Zona Sul de São Paulo, resolveu promover uma assembleia mirim para eleger um síndico representante das crianças. Ela pretende consolidar aí um canal de escuta para as suas demandas, de forma que as sugestões sejam debatidas e/ou acolhidas e, ao mesmo tempo, para que os menores entendam como funciona o condomínio, estimulando-os a respeitar as normas internas. E neste mês de outubro, Patrícia já organizou um evento para o Dia das Crianças.
“Não entendemos muito de psicologia, mas percebemos que quando promovemos atividades para as crianças e adolescentes, eles se acalmam. Realizamos eventos esportivos ou de recreação, com brinquedos, monitores e mágicos, por exemplo. Em julho deste ano, nas férias escolares, tivemos duas semanas de recreação, o resultado foi muito bom. E no Natal deveremos repetir a Noite do Papai Noel, que realizamos em 2017 com muito sucesso. As crianças acampam e dormem no Centro Comunitário e, durante a madrugada, o Papai Noel aparece e deixa um presente para cada uma. A ideia é que só os pequenos participem, mas os grandes acabam aparecendo também.” No dia seguinte, a confraternização é intergeracional, envolve todas as faixas etárias do condomínio.
Matéria publicada na edição – 239 – outubro/2018 da Revista Direcional Condomínios
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