Economia e sustentabilidade justificam investimento em energia alternativa nas edificações

O mercado de equipamentos para produção da energia fotovoltaica (elétrica) nas edificações aguardava no final do ano passado por mudanças na Resolução Normativa 482/2012, da Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica), que mexeriam com as regras do setor. Segundo a norma, os domicílios que geram energia elétrica própria, e jogam o excedente na rede da concessionária pública, são compensados integralmente através de créditos em sua conta (pelo Sistema de Compensação de Energia Elétrica/SCEE).

Placas instaladas na
cobertura do prédio

Placas instaladas na cobertura das torres produzem cerca de 50% da energia elétrica consumida pelas áreas comuns do Condomínio Bela Cintra, em SP

As mudanças viriam no sentido de reduzir drasticamente a compensação (ainda não há previsão para que as novas regras entrem em vigor). A partir de 2016, o segmento de energia fotovoltaica se expandiu com a entrada em vigor de outra Resolução Normativa da Agência, a 687/2015, a qual autorizou a geração de energia própria domiciliar.

“Eles querem agora cobrar de nós pelo uso da rede das concessionárias”, comenta o síndico profissional Paulo Moraes, pioneiro na implantação da tecnologia fotovoltaica em edificação vertical residencial no País. Ele começou a instalar o sistema em dois condomínios residenciais localizados na região da Consolação, área central de São Paulo, ainda em 2014. E vem, desde então, promovendo investimentos graduais em placas fotovoltaicas, com as quais produz hoje cerca de 50% da energia que as áreas comuns de ambos os empreendimentos consomem. Paulo se mostra tranquilo mediante eventuais alterações, pois “as novas regras somente deverão valer a partir de 2030 para quem já produz energia”. De outro lado, mesmo que perca no futuro 100% da compensação sobre a energia gerada (conforme Resolução 482), ainda assim Paulo acredita que o sistema possa compensar novos investimentos.

No Condomínio Bela Cintra, empreendimento entregue em 2013 com duas torres e 335 unidades, os painéis de cristal ocupam integralmente a cobertura de uma das torres, também parcialmente a laje dos reservatórios superiores d’água, e começam a ser instalados na segunda torre. “Com o tempo, o mercado lançou placas com maior capacidade de geração de energia, temos nos prédios placas que geram de 250 Watts a 395 Watts cada.” Paralelamente, Paulo realizou investimentos na substituição das lâmpadas convencionais das áreas comuns por LED (posteriormente substituídas por versões mais modernas e econômicas). O resultado é que o consumo de energia elétrica em agosto passado (período de 26/07/2019 a 27/08/2019, num total de 32 dias) foi de 10.720 kWh, contra pouco mais de 20.000 kWh em comparação ao mesmo período de 2018 (31 dias) – aqui já tinham sido feitos os investimentos no sistema de iluminação. Desde maio de 2019, o consumo das áreas comuns no condomínio tem ficado no patamar mensal de 10.000 kWk, apesar da demanda elevada por energia elétrica proveniente de nove elevadores, trocadores de calor para aquecimento da água de uma das piscinas, iluminação em cinco subsolos de garagem, lavanderia coletiva com oito máquinas, ar condicionado em ambientes coletivos como o coworking, sala de pilates, salão de festas, além da portaria, entre outros. No outro residencial, de 118 apartamentos, o consumo também caiu pela metade. “Neste, se não fosse o trocador de calor da piscina, a conta estaria zerada”, observa o síndico.

Segundo ele, a tecnologia fotovoltaica que produz energia a partir da luz do sol é diferente do sistema de placas para o aquecimento da água, que utiliza o calor do sol. Ou seja, na avaliação do síndico, a fotovoltaica não sofre tanto os efeitos dos dias mais frios. Mas ele ressalva que é “difícil” fazer a conta do retorno financeiro sobre os investimentos no setor, pela “instabilidade do clima e os sucessivos aumentos autorizados na tarifa durante o período, além dos momentos de bandeira vermelha”. De qualquer maneira, Paulo se considera um entusiasta da “chamada tecnologia de microgeração de energia” e agora estuda a implantação do sistema de hidroenergia, já operando em um hotel em São Paulo, com capacidade de produzir 50% a mais eletricidade que o sistema fotovoltaico. Seu objetivo é “zerar a conta e, se possível, distribuir energia para as unidades”.

COLETORES SOLARES DE TUBOS no Condomínio Residencial Villandre

COLETORES SOLARES DE TUBOS – Entre os investimentos feitos no Condomínio Residencial Villandre, na zona Leste de São Paulo, o síndico Pedro Nagahama contratou a instalação de tubos solares na cobertura da churrasqueira para o aquecimento da água da piscina. Diferente das placas, os tubos demandam menos espaço, compara Pedro. “Mas o desempenho é similar”, completa. O sistema custou R$ 25 mil e foi implantado em dezembro de 2017. Grosso modo, segundo os fabricantes, “os coletores solares possuem dutos em que o fluído é aquecido e posteriormente acumulado em um tanque térmico chamado boiler”. O sistema funciona bem durante períodos de temperaturas elevadas


Matéria complementar da edição – 252 – janeiro/2020 da Revista Direcional Condomínios

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