Para racionalizar o consumo de água é vital o bom funcionamento do sistema hidráulico de um condomínio. Mas a manutenção não é a única forma de se evitar vazamentos e o desperdício de água e de recursos financeiros. É preciso mapear e reorientar hábitos dos usuários, verificar os ajustes dos equipamentos e repensar a própria maneira de ser fazer os reparos.
Talvez por uma questão cultural, os condomínios costumam depositar confiança e responsabilidade nos seus funcionários de manutenção. Porém, o conhecimento técnico é algo que precisa ser aperfeiçoado, falta treinamento e o sistema hidráulico em geral está mal ou nada identificado. O resultado é a dúvida entre os gestores sobre o que fazer com relação aos vazamentos e o consumo das áreas comum e privativas.
O abastecimento de água potável possui vários componentes que afetam seu desempenho. Portanto, a seguir, estão elencados os componentes que são comuns a praticamente todos os condomínios, sejam verticais ou horizontais:
- Sistema de bombas (Leia em “…manutenção das bombas dos condomínios” e “Bombas de pressurização para água de consumo…” );
- Reservatórios de água;
- Tubulações em geral (PVC, ferro, cobre, PPCR, CPVC, PEX, PERT, PB etc.);
- Válvulas, registros etc.;
- Redutoras de pressão;
- Sistemas de aquecimento coletivo – geradoras (a grande maioria dos sistemas centrais), caldeiras (estas usam vapor e trocador de calor), aquecedores por energia solar etc.;
- Sistema de aquecimento individual – chuveiro elétrico, aquecedores de passagem a gás ou elétricos e, finalmente, aquecedores de acumulação a gás ou elétricos (também chamados erroneamente de boilers);
- Torneiras e duchas;
- Bacias com válvula de descarga ou caixa acoplada;
- Perfil da população; e,
- Controle e Redução de Perdas – abordado ao final do artigo.
Na lista acima estão citados os sistemas mais comuns, que englobam a maioria dos casos, mas não podemos esquecer que existem especificidades, principalmente nos condomínios horizontais, que possuem características próprias.
Os itens de 1 ao sexto se encontram na área comum e o síndico deve garantir manutenção constante, para que tenham sempre um bom desempenho. No item 3 (tubulações), há uma infinidade de materiais tecnologicamente mais modernos que os mais conhecidos e isso impõe a necessidade de atualizar tecnicamente o pessoal da administração e manutenção.
No caso do item 5 (redutoras de pressão), é primordial que o síndico siga a recomendação de manutenção conforme prazo especificado no manual do fabricante, garantia da construtora ou, ainda, considere um prazo máximo de 12 meses para contratá-la. Redutoras mal reguladas podem gerar vazamentos, estouro de tubulações e a pressão adicional, que leva ao maior consumo nas unidades.
Aquecimento da água e o impacto sobre o consumo
O item 6 (sistemas de aquecimento coletivo) exercem um importante papel sobre o consumo de água quente e “fria”, pois a proporção dessa mistura em função da temperatura vai alterar a forma como o usuário a utiliza. Sistemas centrais que trabalham em temperaturas muito baixas podem não dar o resultado esperado, enquanto temperaturas mais altas garantem o conforto, mas cobram o preço na conta do gás. A maioria dos condomínios nessa situação desliga o equipamento de madrugada ou altera o set point manualmente, mas há transtornos envolvidos nisso. Já existe sistema que realiza a operação automaticamente, gerando economia imediata em função exclusivamente do perfil de consumo. Então, observem que racionalizar o consumo de água exige uma visão sistêmica da hidráulica, no qual a água quente desempenha papel importante.
O aquecimento de água por energia solar é bastante complexo e precisa ser tratado de forma especializada. Já se observou um caso que utiliza mais de 16 bombas e alguns trocadores de calor para o sistema. Os condomínios que já possuem o sistema têm muita dificuldade para entende-lo, operar ou mesmo se certificar se este gera a economia esperada ou preconizada na venda do imóvel. E a solução de um condomínio não serve ao outro. Cada caso é um caso. Então, se deve procurar um especialista. O bom funcionamento influi no consumo de água quente (e, proporcionalmente, no consumo de gás) e fatalmente no de água fria. Após anos trabalhando com sistemas de aquecimento, é possível afirmar que este assunto merece atenção.
Economia na interface usuários & equipamentos
Os itens de 7 ao 10º tratam de equipamentos diretamente relacionados à experiência do usuário. Mas isso não representa tratar apenas do consumo de água no banho, em como se lava a louça ou passar dicas de economia, que já estão bem conhecidas, algumas delas inicialmente divulgadas por um material de nossa autoria.
Parece óbvio, mas não é: Os equipamentos aquecedores contribuem com o aumento do consumo de água e isso é “fato”.
Imaginem que um pequeno aquecedor a gás de 7,0 l/min de vazão possui potência por volta de 12.000W, bem acima dos chuveiros elétricos que alcançam até 8.500W. Já um aquecedor de 35 l/min é uma usina de aquecimento ao entregar cerca de 50.000W ao usuário. Ou seja, há muita oferta de água quente e, claro, maior consumo de água fria também. As duchas são vilãs no consumo se não forem bem dimensionadas. Há modelos que permitem vazões acima de 15l/min, ou seja, um banho médio de 8 minutos consome mais de 120 litros/pessoa/banho. Felizmente não é maioria, mas não é incomum em edificações com aquecedor de passagem a gás, casais sem filhos gastarem mais de 18m³/mês.
Já as bacias com caixa acoplada “tendem” a ser mais econômicas, porém, se não estiverem reguladas para encher a caixa de acordo com o que o fabricante especifica, será necessário mais de um acionamento. As válvulas de duplo acionamento ajudam se estiverem funcionando corretamente. Portanto, as caixas ajudam se forem bem usadas. Quanto às válvulas, se bem reguladas podem ser até mais econômicas se comparar com vários acionamentos na caixa. Observem que a manutenção e atenção aos equipamentos é fundamental.
O perfil da população e o controle e redução das perdas
Por fim, é importante abordar o perfil da população (item 10), em que o síndico possa identificar desenhar um plano de análise e ação. Um modelo de gestão deverá ser feito “caso a caso”, montando-se esse perfil, estudando e atribuindo ações permanentes de forma rápida. Tornar essa atividade rotineira será a melhor forma de redução de consumo de água no condomínio e a mais duradoura. Claro que é importante analisar o custo de tudo isso. A maioria das ações não tem custo significativo e o plano de gestão terá seu valor pago ao longo do tempo e depois de custeado, o lucro será todo do condomínio sem prazo determinado.
Nesse sentido, chega-se ao item 11, que trata do plano de controle e redução de perdas. É muito comum haver condomínios com vazamentos e que não são capazes de encontrar a origem do problema por estar com as tubulações enterradas. Alguns condomínios sequer possuem o projeto original. A dica é simples e não há outra, procurem um profissional especializado.
É necessário também analisar o sistema de abastecimento da área comum, seja ele direto da rede da concessionária ou água do reservatório. Para quem quer evoluir no controle e gestão será necessário avaliar a hidráulica para que, com pequenas alterações, possa setorizar o “consumo na rede” (não se trata apenas de medir salão de festas, banheiros etc.). Deve-se criar uma rotina para controlar e detectar vazamentos no dia a dia e estancar o problema até sua solução definitiva. O custo com as perdas é altíssimo.
A conclusão é que os síndicos têm que tratar o sistema hidráulico de forma sistêmica e estudar o perfil de consumo do prédio, para saber onde direcionar seus esforços, inclusive de conscientização dos moradores e funcionários. O resultado de um bom trabalho leva a benefícios que estão além dá redução do consumo e dos valores da conta de água. Ela contribuirá, inclusive, para baixar o consumo de gás nos condomínios que o utilizam para aquecimento.
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