Incêndios em edificações residenciais continuam a alimentar o noticiário no País. De acordo com a Abracopel (Associação Brasileira de Conscientização para os Perigos da Eletricidade), o Estado de São Paulo teve pelo menos 93 casos de incêndios gerados por sobrecarga (principalmente no uso de aparelhos de ar-condicionado e ventiladores) ou curto-circuito das instalações elétricas no ano passado. Metade deles ocorreu em unidades residenciais.
Para evitar incidentes, condomínios procuram revisar suas instalações, além de manter em dia o Auto de Vistoria do Corpo de Bombeiros (AVCB), caso do Family Santana, um condomínio-clube localizado na zona Norte de São Paulo. Em junho passado o condomínio realizou testes do sistema de pressurização das escadarias de suas quatro torres, que reúnem 400 apartamentos. O objetivo foi verificar se o sistema funciona plenamente quando está ligado ao gerador, equipamento responsável pela alimentação da energia das áreas comuns, bombas de recalque, sala de segurança e equipamentos de incêndio em caso de queda da rede no bairro.
Segundo a gerente administrativa Karina Pravatti, a realização de testes periódicos nas instalações dão mais segurança ao condomínio mediante um eventual sinistro. O AVCB do condomínio deverá ser renovado neste ano e, além da documentação que está já providenciada, como a ART das instalações elétricas e de gás e o laudo de para-raios, os quais devem ser expedidos após vistorias técnicas de empresas especializadas, o Family Santana irá instalar a sinalização tátil fotoluminescente nas quinas dos degraus das escadarias internas (que funcionam como rota de fuga).
Em entrevista à Direcional Condomínios, o engenheiro civil e de segurança do trabalho, Renato Nunes Seara, apresenta dicas sobre as quais os síndicos, gerentes prediais e zeladores deverão ficar sempre atentos para que o sistema de incêndio esteja operante quando houver necessidade de uso.
Pressurização, sensores de fumaça & alarme de incêndio
A primeira dica diz respeito justamente à pressurização, sistema que falhou em um incêndio neste ano num condomínio da zona Sul de São Paulo, o que provocou a morte de dois moradores. Segundo o especialista, a pressurização não é obrigatória em todas as edificações, a exigência depende da área, altura e uso do prédio. No entanto, quando estiver presente, é preciso que esteja ligada a uma fonte de energia autônoma, assim como a bomba de incêndio, conforme determinam as respectivas Instruções Técnicas do Corpo de Bombeiros do Estado.
Renato Seara afirma que o ideal seria que os condomínios tivessem todo o sistema de incêndio vinculado a uma rede elétrica própria, independente das demais instalações, conforme a Instrução Técnica 13/2019, item 5.3.5, letras a e g. E aqueles que dispõem de gerador, que o liguem a esses equipamentos.
Voltando à pressurização, o engenheiro lembra que o seu pleno funcionamento depende ainda de que estejam operantes os detectores de fumaça (nem sempre obrigatórios, mas importantíssimos), o alarme de incêndio e o motor do equipamento, “que é o responsável por levar o ar limpo de fora para dentro das escadarias”. Porém, toda a eficácia do sistema depende que outro componente também esteja de acordo com o que determinam as normas: as portas corta-fogo.
Portas corta-fogo
“As portas corta-fogo devem estar sempre fechadas”, alerta o especialista. “Caso contrário, não terão o efeito necessário. O condomínio precisa estar atento à regulagem dessas portas, de forma que permaneçam fechadas mesmo que o morador as deixe encostadas. Por norma, quando soltas em uma abertura de 30 cm, elas têm que fechar sozinhas. Vai fazer barulho, bater, mas é assim mesmo. Tem que bater e trancar, uma porta aberta contamina a rota de fuga inteira. A porta costuma pesar para abrir porque há uma pressão negativa, o ar limpo das escadarias precisa ser mais forte que a pressão da fumaça que vem dos halls.”
Mas esse é um equipamento que costuma ser negligenciado pelos condomínios. “É como ter uma ‘Ferrari’ que não vai funcionar. E muita gente não tem consciência disso, chega a colocar calço para que essas portas não fechem”, lamenta.
Revestimentos
Revestimentos com materiais inflamáveis em paredes e forros também exigem cuidados. A ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) lançou recentemente a NBR 16951, que avalia a reação ao fogo de sistemas e revestimentos externos de fachadas em grande escala, justamente para evitar o agravamento dos incêndios. Segundo Renato Seara, os ambientes internos que dispõem de revestimentos precisam de ART atestando que o material não seja inflamável ou, pelo menos, tenha recebido aplicação regular de soluções antichama em toda a sua superfície.
Inspeção diária
Além da revisão anual obrigatória de equipamentos como extintores (recarga) e mangueiras (testes) etc., que deve estar na programação de manutenção dos condomínios, é importante providenciar uma rotina de inspeções visuais diárias nessas instalações. “O sistema de combate a incêndio exige que não apenas os condomínios atendam às determinações das Instruções Técnicas quanto se certifiquem diariamente de que está tudo em ordem. A ideia é não usar esses equipamentos, mas se precisar usar, que eles funcionem”, arremata o engenheiro.
Alarme de incêndio em prédio com portaria remota localizado na zona Norte de São Paulo: O item é obrigatório nas edificações que não tenham porteiros presenciais 24h por dia
Matéria publicada na edição – 270 – agosto/2021 da Revista Direcional Condomínios
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