Trabalhador essencial: Homenagem ao Dia do Porteiro

Em 9 de junho comemora-se o Dia do Porteiro e a Direcional Condomínios faz sua homenagem à essa categoria tão vital, narrando casos de amor e respeito à profissão.

Porteira Elma dos Santos Silva

Elma dos Santos Silva em seu posto

Na capital paulista há mais apartamentos residenciais do que casas registradas. A conclusão é de uma pesquisa do Centro de Estudos da Metrópole (CEM – Cepid/Fapesp) divulgada no ano passado, após análise de 2000 a 2020 com base em dados da Secretaria da Fazenda da Prefeitura para o lançamento do IPTU (Imposto Predial Territorial Urbano). A porteira Elma dos Santos Silva, 37 anos, nota a verticalização acentuada, o que a faz sentir-se ainda mais importante. “Quase não tem mais casa na cidade, é só prédios por todos os lados. O serviço de portaria é essencial”, observa.

Ela mora em Itapecerica da Serra, município da região metropolitana, com o esposo Agênio, pintor automotivo, e o filho Erick, de 8 anos. Trabalha no período diurno, na portaria de um edifício de alto padrão em Pinheiros, zona oeste de São Paulo. “Nós, porteiros, somos pessoas simples, mas necessárias porque nos condomínios tudo passa pela portaria, tanto a entrega de correspondência quanto a de mercadoria e alimentação, e somos nós que fazemos a liberação de moradores, visitantes e até de veículos”.

Ela trabalhou anos no comércio, mas após a maternidade quis mudar de ramo para adequar a jornada à criação do filho. Lembrou-se do quanto ficava admirada, ainda menina, ao ver seu irmão como vigilante de escolta armada. Na família, havia também um tio nessa profissão. “Eu queria ser igual a eles, andar uniformizada”. Ela formou-se vigilante, mas no lugar de conquistar uma vaga no setor, conseguiu uma para controladora de acesso em empresa de terceirização. “Além de ser difícil entrar nesse ramo, eu percebi que não queria usar arma”.

Sua estreia foi em um condomínio comercial de uma empresa de telefonia celular, com duas torres, por onde trafegavam 400 prestadores de serviço por dia. Destacouse e foi transferida para o elegante prédio residencial de Pinheiros. Ficou quase quatro anos ali, até o condomínio e a prestadora romperem contrato. Seguiu a terceirizada, trabalhou em algumas portarias da cidade, mas regressou ao edifício dois anos atrás, registrada por outra prestadora. “Quando voltei, a maioria dos moradores desceu para me dar boas-vindas”.

Elma diz que está feliz porque ama o que faz e se sente “aconchegada” pelos condôminos. Contribui o fato de trabalhar na escala 12 X 36 (dia sim, dia não), o que lhe possibilita conciliar com a vida em família. “Já recusei cargo de liderança porque exigia uma jornada diária”, fala. Outro ponto positivo é a boa parceria entre o síndico e a equipe de colaboradores.

Curiosa e comunicativa, ela não encontrou dificuldade na portaria. O jeito rígido é outro trunfo. “Eu não discuto com ninguém, converso com educação, mas sou firme porque conheço as normas do condomínio e as sigo”, comenta. Pedido pelo WhatsApp para liberar visitante, por exemplo, nem pensar! “Não é protocolo e, depois, como eu vou saber se o celular não foi clonado ou se o morador não está rendido? Tem quem não gosta quando eu recuso, mas nem sempre comodidade anda junto com segurança”, conclui Elma.

Vida Nova

Porteira Solange Aparecida dos Santos

A paulistana Solange Aparecida dos Santos

A paulistana Solange Aparecida dos Santos, 49 anos, também sonhou com a profissão de vigilante quando garota, atraída pela postura e indumentária características, mas encontrou seu caminho como porteira de um residencial. Desde 2011, trabalha para a mesma empresa terceirizada e no mesmo local, contribuindo para a segurança e tranquilidade dos moradores do Edifício Comendador José de Lúcia, na Penha, zona leste.

Com apenas 15 anos, Solange casou-se com Silvio. O casal teve cinco filhos, enfrentou e venceu desafios, mas ela precisou ajudar a prover o sustento familiar. Teve barraquinha de temperos e foi diarista até entrar para a equipe de limpeza de uma agência bancária. Mesmo na adversidade, concluiu o ensino médio, fez curso de informática no SENAI (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial) e tirou diploma de vigilante. Mas no setor almejado, ouviu recusas das contratantes durante quatro anos até que um dia, em uma dessas buscas, sugeriram-lhe uma vaga de porteira.

Ela aceitou o novo desafio, no condomínio da Penha. “Logo assimilei a rotina da portaria, que requer vigilância constante”, conta. A simpatia cativou os moradores, que lhe chamam de Sol. Para o síndico Leandro Primo Capelo, ela brilha de verdade. “Todos os colaboradores são importantes, mas ela é um pilar. A Sol brilha principalmente na segurança. Ela bate o olho em alguém e já percebe o que está acontecendo ou o que vai acontecer”.

Sol assume seu faro para o perigo. Lembra-se de um casal que ‘pegou carona’ na saída de um morador, entrou no prédio e ficou na eclusa. Ela desconfiou no ato e enquanto atendia a mulher ao interfone do segundo portão, notou que o rapaz tentava ocultar um pé de cabra na perna da calça. Em outra ocasião, impediu que um idoso entregasse o cartão bancário a um golpista. “Eu noto quando há algo errado pelo tom de voz ou nervosismo da pessoa”.

O trabalho de portaria tem para Sol tanto valor que só por isso ela não desabou ao perder a filha caçula, um ano atrás, para a covid. Na fase da internação da moça, recebeu manifestações diárias de carinho dos condôminos; com o óbito, oferta de dinheiro para o enterro e para alimentar os dois netos órfãos de mãe. “Eu não aceitei porque não foi preciso, seria desonesto da minha parte. Mas fiquei comovida”.

O síndico e a terceirizada concordaram que Sol merecia uma licença de três meses, com salário e benefícios integrais. “Se eles não tivessem me apoiado tanto, e sem o amor dos moradores, eu teria caído em depressão”, acredita. “A portaria mudou e muda a minha vida todos os dias”, reconhece.

Segunda Chance

Porteiro Carlos Alexandre Alves da Silva

Porteiro Carlos Alexandre Alves da Silva

Para o porteiro Carlos Alexandre Alves da Silva, 43 anos, pertencer à categoria é motivo de orgulho e esperança de não mais ficar desempregado, situação que ocorreu ao ser desligado de uma metalúrgica. “Espero ficar muito tempo no condomínio em que trabalho porque a síndica e os moradores são muito bons, mas se um dia não for mais possível, poderei buscar recolocação nesse setor”.

Quando se viu sem emprego, o pai de Anthony, hoje com 8 anos, conseguiu integrar o quadro de funcionários de uma prestadora de serviço, como auxiliar de limpeza em condomínios residenciais. Até havia feito curso para ser porteiro, mas desistiu da busca pelo ofício ao deparar-se com concorrentes muitos experientes.

Em 2018, seu supervisor ofereceu-lhe uma vaga de porteiro noturno em um condomínio de classe média alta em São Caetano do Sul, no Grande ABC. Morador do Sacomã, na zona sul de São Paulo, Alexandre aceitou e começou a trabalhar na jornada de 4 X 2 (trabalha quatro dias, folga dois), das 19 às 7 horas da manhã.

Funcionário exemplar, ele não tem reclamação de condôminos, segundo informação da sindicância. O segredo para ter se apropriado da função, acredita Alexandre, foi entender de quais ferramentas precisava. “O porteiro tem de estar sempre bem alinhado, falar de forma firme, mas educada, e não se estressar com moradores e entregadores porque cada um tem seu jeito de agir, uns mais calmos, outros mais afobados. Como eu sou respeitoso, sou respeitado”.

Quanto a trabalhar à noite, é enfático. “Em portaria qualquer descuido é perigoso; a minha tática é dormir bem em casa para não cochilar no trabalho. Não dá para ser motorista de aplicativo durante o dia e assumir uma portaria à noite”, exemplifica Alexandre.

Bom Desempenho

Advogada especializada em condomínios e pós-graduada em gestão de pessoas, Vanessa Munis dá sugestões para uma portaria funcional.

  • Quando o porteiro se sentir diminuído por palavras ofensivas ou ignorado pelo morador, vale pôr em prática a habilidade da inteligência emocional: “Cada um só dá aquilo que possui, logo, o que esperar de quem nos trata como seres invisíveis, como se fôssemos menores?” São pessoas que, no fundo, requerem compaixão.
  • O síndico precisa deixar muito claro para toda população condominial (moradores, funcionários próprios ou terceirizados, prestadores de serviços e administradora) os papéis de cada um dentro da organização chamada condomínio, usando os canais de comunicação local. Isso reduz a chance de o morador constranger o porteiro cobrando atuações que não são de sua alçada.
  • Lidar com emoções negativas é um mal inevitável. “Quando são intensas e duradouras, acabam com a nossa estabilidade”. Se for o caso de medo de invasão ao condomínio, o síndico deve mostrar que se importa com esses funcionários da linha de frente, para que eles se sintam pertencentes e engajados nas medidas de segurança e mais confiantes de saírem de suas casas para trabalhar.

Matéria publicada na edição – 279 – jun/2022 da Revista Direcional Condomínios

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